sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XX

Definido, no capítulo anterior, o que é um Contra-Revolucionário, passo a trancrever o Capítulo V, da Parte II, do livro "Revolução e Contra-Revolução", no qual o Prof. Dr. Plínio Correa de Oliveira nos ensina a TÁTICA a ser usada para combater a Revolução e o Capítulo VI, da parte II, do mesmo livro, no qual é descrito pelo autor os MEIOS DE AÇÃO Contra-Revolucionária. 
Creio serem estes, os mais importantes capítulos para quem quer, de fato, combater a desordem instalada no cenário atual.

Parte II

Capítulo V
A Tática da Contra-Revolução
 
A Tática da Contra-Revolução pode ser considerada em pessoas, grupos, ou correntes de opinião, em função de três tipos de mentalidade: o contra-revolucionário atual, o contra-revolucionário potencial e o revolucionário.
1. EM RELAÇÃO AO CONTRA-REVOLUCIONÁRIO ATUAL
O contra-revolucionário atual é menos raro do que nos parece à primeira vista. Possui ele uma clara visão das coisas, um amor fundamental à coerência e um ânimo forte. Por isto tem uma noção lúcida das desordens do mundo contemporâneo e das catástrofes que se acumulam no horizonte. Mas sua própria lucidez lhe faz perceber toda a extensão do isolamento em que tão freqüentemente se encontra, num caos que lhe parece sem solução. Então o contra-revolucionário, muitas vezes, se cala, abatido. Triste situação: “Vae soli”, diz a Escritura[1].
[1] Ecle. 4,10.
Uma ação contra-revolucionária deve ter em vista, antes de tudo, detectar esses elementos, fazer com que se conheçam, com que se apoiem uns aos outros para a profissão pública de suas convicções. Ela pode realizar-se de dois modos diversos:
A. Ação individual
Esta ação deve ser feita antes de tudo na escala individual. Nada mais eficiente que a tomada de posição contra-revolucionária franca e ufana de um jovem universitário, de um oficial, de um professor, de um Sacerdote sobretudo, de um aristocrata ou um operário influente em seu meio. A primeira reação que obterá será por vezes de indignação. Mas se perseverar por um tempo que será mais longo, ou menos, conforme as circunstâncias, verá, pouco a pouco, aparecerem companheiros.
B. Ação em conjunto
Esses contactos individuais tendem, naturalmente, a suscitar nos diversos ambientes vários contra-revolucionários que se unem numa família de almas cujas forças se multiplicam pelo próprio fato da união.
2. EM RELAÇÃO AO CONTRA-REVOLUCIONÁRIO POTENCIAL
Os contra-revolucionários devem apresentar a Revolução e a Contra Revolução em todos os seus aspectos, religioso, político, social, econômico, cultural, artístico, etc. Pois os contra-revolucionários potenciais as vêem em geral por alguma faceta particular apenas, e por esta podem e devem ser atraídos para a visão total de uma e de outra. Um contra-revolucionário que argumentasse apenas em um plano, o político, por exemplo, limitaria muito seu campo de atração, expondo sua ação à esterilidade, e, pois, à decadência e à morte.
3. EM RELAÇÃO AO REVOLUCIONÁRIO
A. A iniciativa contra-revolucionária
Em face da Revolução e da Contra-Revolução não há neutros. Pode haver, isto sim, não combatentes, cuja vontade ou cujas veleidades estão, porém, conscientemente ou não em um dos dois campos. Por revolucionários entendemos, pois, não só os partidários integrais e declarados da Revolução, como também os “semicontra-revolucionários”.
A Revolução tem progredido, como vimos, à custa de ocultar seu vulto total, seu espirito verdadeiro, seus fins últimos.
O meio mais eficiente de refutá-la junto aos revolucionários consiste em mostrá-la inteira, quer em seu espirito e nas grandes linhas de sua ação, quer em cada uma de suas manifestações ou manobras aparentemente inocentes e insignificantes. Arrancar-lhe, assim, os véus é desferi-lhe o mais duro dos golpes.
Por esta razão, o esforço contra-revolucionário deve entregar-se a esta tarefa com o maior empenho.
Secundariamente, é claro, os outros recursos de uma boa dialética são indispensáveis para o êxito de uma ação contra-revolucionária.
Com o “semicontra-revolucionário”, como aliás também com o revolucionário que tem “coágulos” contra-revolucionários, há certas possibilidades de colaboração, e esta colaboração cria um problema especial: até que ponto é ela prudente? A nosso ver, a luta contra a Revolução só se desenvolve convenientemente ligando entre si pessoas radical e inteiramente isentas do vírus desta. Que os grupos contra-revolucionários possam colaborar com elementos como os acima mencionados, em alguns objetivos concretos, facilmente se concebe. Mas, admitir uma colaboração onímoda e estável com pessoas infectadas de qualquer influência da Revolução é a mais flagrante das imprudências e a causa, talvez, da maior parte dos malogros contra-revolucionários.
B. A contra-ofensiva revolucionária
O revolucionário, em via de regra, é petulante, verboso e afeito à exibição, quando não tem adversários diante de si, ou os tem fracos. Contudo, se encontra quem o enfrente com ufania e arrojo, ele se cala e organiza a campanha de silêncio. Um silêncio em meio ao qual se percebe o discreto zumbir da calúnia, ou algum murmúrio contra o “excesso de lógica” do adversário, sim. Mas um silêncio confuso e envergonhado que jamais é entrecortado por alguma réplica de valor. Diante desse silêncio de confusão e derrota, poderíamos dizer ao contra-revolucionário vitorioso as palavras espirituosas escritas por Veuillot em outra ocasião: “Interrogai o silêncio, e ele nada vos responderá[2].
[2] Oeuvres Complètes, P. Lethielleux Librairie-Editeur, Paris, vol. XXXIII, p. 349.
4. ELITES E MASSAS NA TÁTICA CONTRA-REVOLUCIONÁRIA
A Contra-Revolução deve procurar, quanto possível, conquistar as multidões. Entretanto, não deve fazer disso, no plano imediato, seu objetivo principal, e um contra-revolucionário não tem razão para desanimar pelo fato de que a grande maioria dos homens não está atualmente de seu lado. Um estudo exato da Historia nos mostra, com efeito, que não foram as massas que fizeram a Revolução. Elas se moveram num sentido revolucionário porque tiveram atrás de si elites revolucionárias. Se tivessem tido atrás de si elites de orientação oposta, provavelmente se teriam movido num sentido contrário. O fator massa, segundo mostra a visão objetiva da História, é secundário; o principal é a formação das elites. Ora, para essa formação, o contra-revolucionário pode estar sempre aparelhado com os recursos de sua ação individual, e pode pois obter bons frutos, apesar da carência de meios materiais e técnicos com que, às vezes, tenha que lutar.
 
Parte II

Capítulo VI
Os meios de ação da Contra-Revolução
 
1. TENDER PARA OS GRANDES MEIOS DE AÇÃO
Em principio, é claro, a ação contra-revolucionária merece ter à sua disposição os melhores meios de televisão, rádio, imprensa de grande porte, propaganda racional, eficiente e brilhante. O verdadeiro contra-revolucionário deve tender sempre à utilização de tais meios, vencendo o estado de espírito derrotista de alguns de seus companheiros que, de antemão, abandonam a esperança de dispor deles porque os vêm sempre na posse dos filhos das trevas.
Entretanto, devemos reconhecer que, in concreto, a ação contra-revolucionária terá de se realizar muitas vezes sem esses recursos.
2. UTILIZAR TAMBÉM OS MEIOS MODESTOS: SUA EFICÁCIA
Ainda assim, e com meios dos mais modestos, poderá ela alcançar resultados muito apreciáveis, se tais meios forem utilizados com retidão de espírito e inteligência. Como vimos, é concebível uma ação contra-revolucionária reduzida à mera atuação individual. Mas não se pode concebê-la sem esta última. A qual, por sua vez, desde que bem feita, abre as portas para todos os progressos.
Os pequenos jornais de inspiração contra-revolucionária, quando de bom nível, têm uma eficácia surpreendente, principalmente para a tarefa primordial de fazer com que os contra-revolucionários se conheçam.
Tão ou mais eficientes podem ser o livro, a tribuna e a cátedra, a serviço da Contra-Revolução.

Até o próximo Capítulo, no qual o autor adverte sobre alguns obstáculos que a Contra-Revolução poderá encontrar. Até lá!

domingo, 2 de dezembro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XIX

Neste artigo, transcreverei o Capítulo IV, da Parte II, do livro "Revolução e Contra-Revolução", onde Dr. Plínio Corrêa de Oliveira define o que é um contra-revolucionário e, também, estabelece a diferença entre este e o "semicontra-revolucionário" - que é um filho da Revolução - como explicitou muito bem, anteriormente, no Capítulo IX da parte I, deste mesmo livro. Ou seja: segundo o autor, na alma do semicontra-revolucionário começa a vacilar o ídolo da Revolução, pois embora possa viver em meio fortemente tradicionalista e moralizado, tem o espírito marcado pela mesma. Assim que um autêntico contra-revolucionário só poderá ser total! Vejamos, então, o que é um contra-revolucionário:

Parte II

Capitulo IV
O que é um contra-revolucionário?
Pode-se responder à pergunta em epígrafe de duas maneiras:

1. EM ESTADO ATUAL

Em estado atual, contra-revolucionário é quem:

- Conhece a Revolução, a ordem e a Contra-Revolução em seu espírito, suas doutrinas, seus métodos respectivos.
- Ama a Contra-Revolução e a ordem cristã, odeia a Revolução e a “anti-ordem”.
- Faz desse amor e desse ódio o eixo em torno do qual gravitam todos os seus ideais, preferências e atividades.
Claro está que essa atitude de alma não exige instrução superior. Assim como Santa Joana D Arc não era teólogo mas surpreendeu seus juizes pela profundidade teológica de seus pensamentos, assim os melhores soldados da Contra-Revolução, animados por uma admirável compreensão do seu espírito e dos seus objetivos, têm sido muitas vezes simples camponeses, da Navarra, por exemplo, da Vendéa ou do Tirol.
2. EM ESTADO POTENCIAL

Em estado potencial, contra-revolucionários são os que têm uma ou outra das opiniões e dos modos de sentir dos revolucionários, por inadvertência ou qualquer outra razão ocasional, e sem que o próprio fundo de sua personalidade esteja afetado pelo espirito da Revolução. Alertadas, esclarecidas, orientadas, essas pessoas adotam facilmente uma posição contra-revolucionária. E nisto se distinguem dos “semicontra-revolucionários” de que atrás falávamos[1].
[1] Parte I - Cap. IX.

Interessante observar que aqui se faz mais nítida a distinção entre os semicontra-revolucionários e o autêntico contra-revolucionário: este "Ama a Contra-Revolução e a ordem cristã, odeia a Revolução e a “anti-ordem”, como disse o Dr. Plínio. Mas estes ainda são poucos, hoje em dia. Não obstante, os semicontra-revolucionários até conservam - em um ou muitos pontos - uma atitude contra-revolucionária, porém se encontram impregnados pela Revolução, mormente, pela tática gramscista da mesma, como já falei anteriormente. São ainda a grande maioria!

No próximo artigo será abordada a tática da Contra-Revolução. Até lá!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XVIII

Neste artigo transcreverei o Capítulo III, da Parte II, da magna obra do Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, "Revolução e Contra-Revolução", no qual ele define como deverá ser a Ordem nascida da Contra-Revolução - que deverá refulgir ainda mais do que a da Idade Média -, a missão de defender os valores ainda vivos do passado e a concepção contra-revolucionária do progresso.

Parte II

Capitulo III
A Contra-Revolução e o prurido de novidades
A tendência de tantos de nossos contemporâneos, filhos da Revolução, de amar sem restrições o presente, adorar o futuro e votar incondicionalmente o passado ao desprezo e ao ódio, suscita a respeito da Contra-Revolução um conjunto de incompreensões que importa fazer cessar. Sobretudo, afigura-se a muitas pessoas que o caráter tradicionalista e conservador desta última faz dela uma adversaria nata do progresso humano.
1. A CONTRA-REVOLUÇÃO É TRADICIONALISTA
A. Razão
A Contra-Revolução, como vimos, é um esforço que se desenvolve em função de uma Revolução. Esta se volta constantemente contra todo um legado de instituições, de doutrinas, de costumes, de modos de ver, sentir e pensar cristãos que recebemos de nossos maiores, e que ainda não estão completamente abolidos. A Contra-Revolução é, pois, a defensora das tradições cristãs.
B. A mecha que ainda fumega
A Revolução ataca a civilização cristã mais ou menos como certa árvore da floresta brasileira, a figueira brava (Urostigma olearia), que, crescendo no tronco de outra, a envolve completamente e a mata. Em suas correntes “moderadas” e de velocidade lenta, acercou-se a Revolução da civilização cristã para envolvê-la de todo e matá-la. Estamos num período em que esse estranho fenômeno de destruição ainda não se completou, isto é, numa situação híbrida em que aquilo a que quase chamaríamos restos mortais da civilização cristã, somado ao perfume e à ação remota de muitas tradições, só recentemente abolidas, mas que ainda têm alguma coisa de vivo na memória dos homens, coexiste com muitas instituições e costumes revolucionários.
Em face dessa luta entre uma esplendida tradição cristã em que ainda palpita a vida, e uma ação revolucionária inspirada pela mania de novidades a que se referia Leão XIII, nas palavras iniciais da Encíclica Rerum Novarum, é natural que o verdadeiro contra-revolucionário seja o defensor nato do tesouro das boas tradições, porque elas são os valores do passado cristão ainda existentes e que se trata exatamente de salvar. Nesse sentido, o contra-revolucionário atua como Nosso Senhor, que não veio apagar a mecha que ainda fumega, nem romper o arbusto partido[1]. Deve ele, portanto, procurar salvar amorosamente todas essas tradições cristãs. Uma ação contra-revolucionária é, essencialmente, uma ação tradicionalista.
[1] Cfr. Mt. 12,20.
C. Falso tradicionalismo
O espirito tradicionalista da Contra-Revolução nada tem de comum com um falso e estreito tradicionalismo que conserva certos ritos, estilos ou costumes por mero amor às formas antigas e sem qualquer apreço pela doutrina que os gerou. Isto seria arqueologismo, não sadio e vivo tradicionalismo.
2. A CONTRA-REVOLUÇÃO É CONSERVADORA
A Contra-Revolução é conservadora? Em um sentido, sim, e profundamente. E em outro sentido, não, também profundamente.
Se se trata de conservar, do presente, algo que é bom e merece viver, a Contra-Revolução é conservadora.
Mas se se trata de perpetuar a situação híbrida em que nos encontramos, de sustar o processo revolucionário nesta etapa, mantendo-nos imóveis como uma estátua de sal, à margem do caminho da História e do Tempo, abraçados ao que há de bom e de mau em nosso século, procurando assim uma coexistência perpétua e harmônica do bem e do mal, a Contra-Revolução não é nem pode ser conservadora.
3. A CONTRA-REVOLUÇÃO É CONDIÇÃO ESSENCIAL DO VERDADEIRO PROGRESSO
A Contra-Revolução é progressista? Sim, se o progresso for autêntico. E não, se for a marcha para a realização da utopia revolucionaria.
Em seu aspecto material, consiste o verdadeiro progresso no reto aproveitamento das forças da natureza, segundo a Lei de Deus e a serviço do homem. Por isso, a Contra-Revolução não pactua com o tecnicismo hipertrofiado de hoje, com a adoração das novidades, das velocidades e das máquinas, nem com a deplorável tendência a organizar more mechanico a sociedade humana. Estes são excessos que Pio XII condenou com profundidade e precisão[2].
[1] Cfr. Radiomensagem de Natal de 1957 – Discorsi e Radiomessaggi, vol. XIX, p. 670.
E nem é o progresso material de um povo o elemento capital do progresso cristãmente entendido. Consiste este, sobretudo, no pleno desenvolvimento de todas as suas potências de alma, e na ascensão dos homens rumo à perfeição moral. Uma concepção contra-revolucionária do progresso importa, pois, na prevalência dos aspectos espirituais deste sobre os aspectos materiais. Em conseqüência, é próprio à Contra-Revolução promover, entre os indivíduos e as multidões, um apreço muito maior por tudo quanto diz respeito à Religião verdadeira, à verdadeira filosofia, à verdadeira arte e à verdadeira literatura, do que pelo que se relaciona com o bem do corpo e o aproveitamento da matéria.
Por fim, para demarcar a diferença entre os conceitos revolucionário e contra-revolucionário de progresso, importa notar que o último toma em consideração que este mundo será sempre um vale de lágrimas e uma passagem para o Céu, ao passo que para o primeiro o progresso deve fazer da terra um paraíso no qual o homem viva feliz, sem cogitar da eternidade.
Pela própria noção de reto progresso, vê-se que este tem por contrário o progresso da Revolução.
Assim, a Contra-Revolução é condição essencial para que seja preservado o desenvolvimento normal do verdadeiro progresso, e derrotada a utopia revolucionaria, que de progresso só tem aparências falaciosas.

Aguardem os próximos artigos!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XVII

Tendo encerrado no último artigo a publicação da Parte I - "A Revolução" - do livro do Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, "Revolução e Contra-Revolução", passo agora, no presente artigo, a reproduzir, a Parte II – "A Contra-Revolução".

Na Primeira Parte, Dr. Plínio denominou Revolução o processo já cinco vezes secular que vem destruindo a Cristandade, desde o declínio da Idade Média, época em que o ideal católico de sociedade mais se aproximou de sua realização. Na Segunda Parte, o autor falará sobre a Contra-Revolução, a qual entende como sendo a reação organizada que se opõe à Revolução e que visa restaurar a Cristandade.

No presente artigo, irei postar os Capítulos I e II, da Segunda Parte do livro "Revolução e Contra-Revolução".


Parte II

Capítulo I
Contra-Revolução é Reação


1. A CONTRA-REVOLUÇÃO, LUTA ESPECÍFICA E DIRETA CONTRA A REVOLUÇÃO
Se tal é a Revolução, a Contra-Revolução é, no sentido literal da palavra, despido das conexões ilegítimas e mais ou menos demagógicas que a ela se juntaram na linguagem corrente, uma “re-ação”. Isto é, uma ação que é dirigida contra outra ação. Ela está para a Revolução como, por exemplo, a Contra-Reforma está para a Pseudo-Reforma.
2. NOBREZA DESSA REAÇÃO
E deste caráter de reação vem à Contra-Revolução sua nobreza e sua importância. Com efeito, se é a Revolução que nos vai matando, nada é mais indispensável do que uma reação que vise esmagá-la. Ser infenso, em princípio, a uma reação contra-revolucionária é o mesmo que querer entregar o mundo ao domínio da Revolução.
3. REAÇÃO VOLTADA TAMBÉM CONTRA OS ADVERSÁRIOS DE HOJE
Importa acrescentar que a Contra Revolução, assim vista, não é nem pode ser um movimento nas nuvens, que combata fantasmas. Ela tem de ser a Contra-Revolução do século XX, feita contra a Revolução como hoje em concreto esta existe e, pois, contra as paixões revolucionárias como hoje crepitam, contra as idéias revolucionárias como hoje se formulam, os ambientes revolucionários como hoje se apresentam, a arte e a cultura revolucionárias como hoje são, as correntes e os homens que, em qualquer nível, são atualmente os fautores mais ativos da Revolução. A Contra-Revolução não é, pois, um mero retrospecto dos malefícios da Revolução no passado, mas um esforço para lhe cortar o caminho no presente.
4. MODERNIDADE E INTEGRIDADE DA CONTRA-REVOLUÇÃO
A modernidade da Contra-Revolução não consiste em fechar os olhos nem em pactuar, ainda que em proporções insignificantes, com a Revolução. Pelo contrario, consiste em conhecê-la em sua essência invariável e em seus tão relevantes acidentes contemporâneos, combatendo-a nestes e naquela, inteligentemente, argutamente, planejadamente, com todos os meios lícitos, e utilizando o concurso de todos os filhos da luz.

Parte II

Capítulo II
Reação e imobilismo histórico
 
 
1. O QUE RESTAURAR

Se a Revolução é a desordem, a Contra-Revolução é a restauração da ordem. E por ordem entendemos a paz de Cristo no reino de Cristo. Ou seja, a civilização cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, antiigualitária e antiliberal.

2. O QUE INOVAR

Entretanto, por força da lei histórica segundo a qual o imobilismo não existe nas coisas terrenas, a ordem nascida da Contra-Revolução deverá ter características próprias que a diversifiquem da ordem existente antes da Revolução. Claro está que esta afirmação não se refere aos princípios, mas aos acidentes. Acidentes, entretanto, de tal importância, que merecem ser mencionados.

Na impossibilidade de nos estendermos sobre este assunto, digamos simplesmente que, em geral, quando num organismo se opera uma fratura ou dilaceração, a zona de soldadura ou recomposição apresenta dispositivos de proteção especiais. É, pelas causas segundas, o desvelo amoroso da Providência contra a eventualidade de novo desastre. Observa-se isto com os ossos fraturados, cuja soldadura se constitui à maneira de reforço na própria zona de fratura, ou com os tecidos cicatrizados. Esta é uma imagem material de fato análogo que se passa na ordem espiritual. O pecador que verdadeiramente se emenda tem ao pecado, em via de regra, horror maior do que teve nos melhores anos anteriores à queda. É a historia dos Santos penitentes. Assim também, depois de cada prova, a Igreja emerge particularmente armada contra o mal que procurou prostrá-La. Exemplo típico disto é a Contra-Reforma.

Em virtude dessa lei, a ordem nascida da Contra-Revolução deverá refulgir, mais ainda do que a da Idade Media, nos três pontos capitais em que esta foi vulnerada pela Revolução:

* Um profundo respeito dos direitos da Igreja e do Papado e uma sacralização, em toda a extensão do possível, dos valores da vida temporal, tudo por oposição ao laicismo, ao interconfessionalismo, ao ateísmo e ao panteísmo, bem como a suas respectivas seqüelas.
* Um espirito de hierarquia, marcando todos os aspectos da sociedade e do Estado, da cultura e da vida, por oposição à metafísica igualitária da Revolução.
* Uma diligência no detectar e no combater o mal em suas formas embrionárias ou veladas, em fulminá-lo com execração e nota de infâmia, e em puni-lo com inquebrantável firmeza em todas as suas manifestações, e particularmente nas que atentarem contra a ortodoxia e a pureza dos costumes, tudo por oposição à metafísica liberal da Revolução e à tendência desta a dar livre curso e proteção ao mal.

 Até o próximo artigo, com os demais Capítulos da Segunda Parte.

domingo, 4 de novembro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XVI

No presente artigo apresentarei os Cap. XI e XII, da parte I, do livro "Revolução e Contra-Revolução", do Dr. Plínio de Oliveira. Nos itens 1 e 2, do capitulo XI, ele deixa claro por que a Revolução nega a noção de pecado e o uso de táticas para destruir a noção de bem e de mal no homem contemporâneo e, assim, a própria Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo. No item 3 e em todo o Cap. XII, o autor denuncia a utopia pacifista para a qual a Revolução tenta impelir a humanidade.

Parte I

Capítulo XI
A Revolução, o pecado e a Redenção - A utopia revolucionária
Dentre os múltiplos aspectos da Revolução, é importante ressaltar que ela induz seus filhos a subestimarem ou negarem as noções de bem e mal, de pecado original e de Redenção.
1. A REVOLUÇÃO NEGA O PECADO E A REDENÇÃO
A Revolução é, como vimos, filha do pecado. Mas, se ela o reconhecesse, desmascarar-se-ia e se voltaria contra sua própria causa.
Explica-se, assim, porque a Revolução tende, não só a passar sob silêncio a raiz de pecado da qual brotou, mas a negar a própria noção do pecado. Negação radical, que inclui tanto a culpa original quanto a atual, e se efetua principalmente:
• Por sistemas filosóficos ou jurídicos que negam a validade e a existência de qualquer Lei moral ou dão a esta os fundamentos vãos e ridículos do laicismo.
• Pelos mil processos de propaganda que criam nas multidões um estado de alma em que, sem se afirmar diretamente que a moral não existe, se faz abstração dela, e toda a veneração devida à virtude é tributada a ídolos como o ouro, o trabalho, a eficiência, o êxito, a segurança, a saúde, a beleza física, a força muscular, o gozo dos sentidos, etc.
É a própria noção de pecado, a distinção mesma entre o bem e o mal, que a Revolução vai destruindo no homem contemporâneo. E, ipso facto, vai ela negando a Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sem o pecado, se torna incompreensível e perde qualquer relação lógica com a História e a vida.
2. EXEMPLIFICAÇÃO HISTÓRICA: NEGAÇÃO DO PECADO NO LIBERALISMO E NO SOCIALISMO
Em cada uma de suas etapas, a Revolução tem procurado subestimar ou negar radicalmente o pecado.
A. A conceição imaculada do indivíduo
Na fase liberal e individualista, ela ensinou que o homem é dotado de uma razão infalível, de uma vontade forte e de paixões sem desregramentos. Daí uma concepção da ordem humana, em que o indivíduo, reputado um ente perfeito, era tudo, e o Estado nada, ou quase nada, um mal necessário... provisoriamente necessário, talvez. Foi o período em que se pensava que a causa única de todos os erros e crimes era a ignorância. Abrir escolas era fechar prisões. O dogma básico destas ilusões foi a conceição imaculada do indivíduo.
A grande arma do liberal, para se defender contra as possíveis prepotências do Estado, e para impedir a formação de camarilhas que lhe tirassem a direção da coisa pública, eram as liberdades políticas e o sufrágio universal.
B. A conceição imaculada das massas e do Estado
Já no século passado, o desacerto desta concepção se tornara patente, pelo menos em parte. Mas a Revolução não recuou. Em vez de reconhecer seu erro, ela o substituiu por outro. Foi a conceição imaculada das massas e do Estado. Os indivíduos são propensos ao egoísmo e podem errar. Mas as massas acertam sempre, e jamais se deixam levar pelas paixões. Seu impecável meio de ação é o Estado. Seu infalível meio de expressão, o sufrágio universal, do qual decorrem os parlamentos impregnados de pensamento socialista, ou a vontade forte de um ditador carismático, que guia sempre as massas para a realização da vontade delas.
3. A REDENÇÃO PELA CIÊNCIA E PELA TÉCNICA: A UTOPIA REVOLUCIONÁRIA
De qualquer maneira, depositando toda a sua confiança no indivíduo considerado isoladamente, nas massas, ou no Estado, é no homem que a Revolução confia. Auto-suficiente pela ciência e pela técnica, pode ele resolver todos os seus problemas, eliminar a dor, a pobreza, a ignorância, a insegurança, enfim tudo aquilo a que chamamos efeito do pecado original ou atual.
Um mundo em cujo seio as pátrias unificadas numa República Universal não sejam senão denominações geográficas, um mundo sem desigualdades sociais nem econômicas, dirigido pela ciência e pela técnica, pela propaganda e pela psicologia, para realizar, sem o sobrenatural, a felicidade definitiva do homem: eis a utopia para a qual a Revolução nos vai encaminhando.
Nesse mundo, a Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo nada tem a fazer. Pois o homem terá superado o mal pela ciência e terá transformado a terra em um “céu” tecnicamente delicioso. E pelo prolongamento indefinido da vida esperará vencer um dia a morte.


Parte I

Capítulo XII
Caráter pacifista e antimilitarista da Revolução

O exposto no capítulo anterior nos faz compreender facilmente o caráter pacifista, e portanto antimilitarista da Revolução.
1. A CIÊNCIA ABOLIRÁ AS GUERRAS, AS FORÇAS ARMADAS E A POLÍCIA
No paraíso técnico da Revolução, a paz tem de ser perpétua. Pois a ciência demonstra que a guerra é um mal. E a técnica consegue evitar todas as causas das guerras.
Daí uma incompatibilidade fundamental entre a Revolução e as forças armadas, que deverão ser inteiramente abolidas. Na República Universal haverá apenas uma polícia, enquanto os progressos da ciência e da técnica não acabarem de eliminar o crime.
2. INCOMPATIBILIDADE DOUTRINÁRIA ENTRE A REVOLUÇÃO E A FARDA
A farda, por sua simples presença, afirma implicitamente algumas verdades, um tanto genéricas, sem dúvida, mas de índole certamente contra-revolucionária:
- A existência de valores que são mais que a vida e pelos quais se deve morrer, - o que é contrário à mentalidade socialista, toda feita de horror ao risco e à dor, de adoração da segurança, e do supremo apego à vida terrena.
- A existência de uma moral, pois a condição militar é toda ela fundada sobre idéias de honra, de força posta ao serviço do bem e voltada contra o mal, etc.
3. O “TEMPERAMENTO” DA REVOLUÇÃO É INFENSO À VIDA MILITAR
Por fim, entre a Revolução e o espírito militar há uma antipatia “temperamental”. A Revolução, enquanto não tem todas as rédeas na mão, é verbosa, enredadeira, declamatória. Resolver as coisas diretamente, drasticamente, secamente more militari, desagrada o que poderíamos chamar o atual temperamento da Revolução. “Atual”, frisamos, para aludir a esta no estágio em que se encontra entre nós. Pois nada há de mais despótico e cruel do que a Revolução quando é onipotente: a Rússia dá disto um eloqüente exemplo. Mas ainda aí a divergência subsiste, posto que o espírito militar é coisa bem diferente de espírito de carrasco.
* * *
Analisada assim em seus vários aspectos a utopia revolucionária, damos por concluído o estudo da Revolução.
Assim, concluímos a Parte I, do livro "Revolução e Contra-Revolução", do Dr. Plínio Corrêa de Oliveira. No próximo artigo, entrarei na Parte II deste mesmo livro.

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XV

Hoje, neste 15º artigo, apresentarei os Capítulos IX e X, da Parte I, do memorável livro do Dr. Plínio Correa de Oliveira, "Revolução e Contra Revolução". No capítulo IX ele mostra que na mentalidade dos semi-contra-revolucionários entroniza-se a Revolução. No capítulo X, ressaltará a importância da cultura, das artes e dos ambientes na marcha da mesma.


Parte I

Capítulo IX
Também é filho da Revolução o “semicontra-revolucionário”

Tudo quanto aqui se disse dá fundamento a uma observação de importância prática.
Espíritos marcados por essa Revolução interior poderão talvez, por um jogo qualquer de circunstâncias e de coincidência, como uma educação em meio fortemente tradicionalista e moralizado, conservar em um ou muitos pontos uma atitude contra-revolucionária[1].
[1] Cfr. Parte I - Cap. VI, 5, A.
Sem embargo, na mentalidade destes “semicontra-revolucionários” se terá entronizado o espírito da Revolução. E num povo onde a maioria esteja em tal estado de alma, a Revolução será incoercível enquanto este não mudar.
Assim, a unidade da Revolução trás, como contrapartida, que o contra-revolucionário autêntico só poderá ser total.
Quanto aos “semicontra-revolucionários” em cuja alma começa a vacilar o ídolo da Revolução, a situação é algum tanto diversa. 


Parte I

Capítulo X
A cultura, a arte e os ambientes, na Revolução
Assim descrita a complexidade e amplitude que o processo revolucionário tem nas camadas mais profundas das almas, e portanto da mentalidade dos povos, é mais fácil apontar toda a importância da cultura, das artes e dos ambientes na marcha da Revolução.
1. A CULTURA
As idéias revolucionárias fornecem às tendências de que nasceram o meio de se afirmarem com foros de cidadania, aos olhos do próprio indivíduo e de terceiros. Elas servem ao revolucionário para abalar nestes últimos as convicções verdadeiras, e para assim desencadear ou agravar neles a revolta das paixões. Elas são inspiração e molde para as instituições geradas pela Revolução. Essas idéias podem encontrar-se nos mais variados ramos do saber ou da cultura, pois é difícil que algum deles não esteja implicado, pelo menos indiretamente, na luta entre a Revolução e a Contra-Revolução.
2. AS ARTES
Quanto às artes, como Deus estabeleceu misteriosas e admiráveis relações entre certas formas, cores, sons, perfumes e sabores e certos estados de alma, é claro que por estes meios se podem influenciar a fundo as mentalidades e induzir pessoas, famílias e povos à formação de um estado de espírito profundamente revolucionário. Basta lembrar a analogia entre o espírito da Revolução Francesa e as modas que durante ela surgiram. Ou entre as efervescências revolucionárias de hoje e as presentes extravagâncias das modas e das escolas artísticas ditas avançadas.
3. OS AMBIENTES
Quanto aos ambientes na medida em que favorecem costumes bons ou maus, podem opor à Revolução as admiráveis barreiras de reação, ou pelo menos de inércia, de tudo quanto é sadiamente consuetudinário; ou podem comunicar às almas as toxinas e as energias tremendas do espírito revolucionário.
4. PAPEL HISTÓRICO DAS ARTES E DOS AMBIENTES NO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO
Por isto, em concreto, é necessário reconhecer que a democratização geral dos costumes e dos estilos de vida, levado aos extremos de uma vulgaridade sistemática e crescente, e a ação proletarizante de certa arte moderna, contribuíram para o triunfo do igualitarismo tanto ou mais do que a implantação de certas leis, ou de certas instituições essencialmente políticas.
Como também é preciso reconhecer que quem, por exemplo, conseguisse fazer cessar o cinema ou a televisão imorais ou agnósticos teria feito pela Contra-Revolução muito mais do que se provocasse a queda de um gabinete esquerdista, na rotina de um regime parlamentar.

Fiquem atentos pois no próximo artigo, publicarei os capítulos XI e XII.



sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XIV

No capítulo anterior o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, discorreu sobre a Essência da Revoluçäo, o orgulho e a sensualidade enquanto valores metafísicos da Revoluçäo. No capítulo VIII, da Parte I, do livro "Revolução e Contra-Revolução", o qual transcrevo neste artigo, ele passa a explicitar as relaçöes entre erro e paixäo e o papel deles no processo revolucionário e do tema da perda de objetividade no homem que se deixa levar pelas paixões desordenadas. .

Parte I

Capítulo VIII
A inteligência, a vontade e a sensibilidade, na determinação dos atos humanos
 
 

As anteriores considerações pedem um desenvolvimento quanto ao papel da inteligência, da vontade e da sensibilidade, nas relações entre erro e paixão.

Poderia parecer, com efeito, que afirmamos que todo erro é concebido pela inteligência para justificar alguma paixão desregrada. Assim, o moralista que afirmasse uma máxima liberal seria sempre movido por uma tendência liberal.

Não é o que pensamos. Pode suceder que unicamente por fraqueza da inteligência atingida pelo pecado original, o moralista chegue a uma conclusão liberal.

Em tal caso terá havido necessariamente alguma falta moral de outra natureza, o descuido, por exemplo? É questão alheia a nosso estudo.

Afirmamos, isto sim, que, historicamente, esta Revolução teve sua primeira origem em uma violentíssima fermentação de paixões. E estamos longe de negar o grande papel dos erros doutrinários nesse processo.

Muitos têm sido os estudos de autores de grande valor, como de Maistre, de Bonald, Donoso Cortés e tantos outros, sobre tais erros e o modo por que foram eles derivando uns dos outros, do século XV ao século XVI, e assim por diante até o século XX. Não é, pois, nossa intenção insistir aqui sobre o assunto.

Parece-nos, entretanto, particularmente oportuno focalizar a importância dos fatores “passionais” e a influência destes nos aspectos estritamente ideológicos do processo revolucionário em que nos achamos. Pois, a nosso ver, as atenções estão pouco voltadas para este ponto, o que traz uma visão incompleta da Revolução, e acarreta em conseqüência a adoção de métodos contra-revolucionários inadequados.

Sobre o modo por que as paixões podem influir nas idéias, há algo a acrescentar aqui.

1. A NATUREZA DECAÍDA, A GRAÇA E O LIVRE ARBÍTRIO

O homem, pelas simples forças de sua natureza, pode conhecer muitas verdades e praticar várias virtudes. Entretanto, não lhe é possível, sem o auxílio da graça, permanecer duravelmente no conhecimento e na prática de todos os Mandamentos[1] .
 
[1]  Cfr. Parte I - Cap. VII, 2, D.

Isto quer dizer que em todo homem decaído há sempre a debilidade da inteligência e uma tendência primeira, e anterior a qualquer raciocínio, que o incita a revoltar-se contra a Lei[2].
 
[2] Donoso Cortés, in Ensayo sobre el Catolicismo, el Liberalismo y el Socialismo – Obras completas, B. A. C., Madrid, 1946, tomo II, p. 377 - dá um importante desenvolvimento dessa verdade, o qual muito se relaciona com o presente trabalho.
 
[NOTA DO SITE: Encontra-se disponível para estudo o trecho da obra de Donoso Cortês acima citado: clique aqui]

2. O GERME DA REVOLUÇÃO

Tal tendência fundamental à revolta pode, em dado momento, ter o consentimento do livre arbítrio. O homem decaído peca, assim, violando um ou outro Mandamento. Mas sua revolta pode ir além, e chegar até o ódio, mais ou menos inconfessado, à própria ordem moral em seu conjunto. Esse ódio, revolucionário por essência, pode gerar erros doutrinários, e até levar à profissão consciente e explícita de princípios contrários à Lei moral e à doutrina revelada, enquanto tais, o que constitui um pecado contra o Espírito Santo. Quando esse ódio começou a dirigir as tendências mais profundas da História do Ocidente, teve início a Revolução cujo processo hoje se desenrola e em cujos erros doutrinários ele imprimiu vigorosamente sua marca. Ele é a causa mais ativa da grande apostasia hodierna. Por sua natureza, é ele algo que não pode ser reduzido simplesmente a um sistema doutrinário: é a paixão desregrada, em altíssimo grau de exacerbação.

Como é fácil ver, tal afirmação, relativa a esta Revolução em concreto, não implica em dizer que há sempre uma paixão desordenada na raiz de todo erro.

E nem implica em negar que muitas vezes foi um erro que desencadeou nesta ou naquela alma, ou mesmo neste ou naquele grupo social, o desregramento das paixões.

Afirmamos tão somente que o processo revolucionário, considerado em seu conjunto, e também em seus principais episódios, teve por germe mais ativo e profundo o desregramento das paixões.

3. REVOLUÇÃO E MÁ FÉ

Poder-se-ia talvez opor a seguinte objeção: se tal é a importância das paixões no processo revolucionário, parece que a vítima deste está sempre, em alguma medida, pelo menos, de má fé. Se o protestantismo, por exemplo, é filho da Revolução, está de má fé todo protestante? Não colide isto com a doutrina da Igreja que admite que haja, em outras religiões, almas de boa fé?

É óbvio que uma pessoa de inteira boa fé, e dotada de um espírito fundamentalmente contra-revolucionário, pode estar presa nas malhas dos sofismas revolucionários (sejam de índole religiosa, filosófica, política, ou outra qualquer) por uma ignorância invencível. Em pessoas assim não há qualquer culpa.

Mutatis mutandis, pode-se dizer o mesmo quanto às que aderem à doutrina da Revolução num ou noutro ponto restrito, por um lapso involuntário da inteligência.

Mas se alguém participa do espírito da Revolução, movido pelas paixões desregradas inerentes a ela, a resposta tem de ser outra.

Pode um revolucionário nestas condições estar persuadido das excelências das suas máximas subversivas. Ele não será portanto insincero. Mas terá culpa pelo erro em que caiu.

E pode também acontecer que o revolucionário professe uma doutrina da qual não esteja persuadido, ou da qual tenha uma convicção incompleta.

Será, neste caso, parcial ou totalmente insincero...

Parece-nos que, a este propósito, quase não seria necessário acentuar que, quando afirmamos que as doutrinas de Marx estavam implícitas nas negações da Pseudo-Reforma e da Revolução Francesa, não queremos com isto dizer que os adeptos daqueles dois movimentos eram, conscientemente, marxistas avant la lettre, e que ocultavam hipocritamente suas opiniões.

O próprio da virtude cristã é a reta disposição das potências da alma e, pois, o incremento da lucidez da inteligência iluminada pela graça e guiada pelo Magistério da Igreja. Não é por outra razão que todo o Santo é um modelo de equilíbrio e de imparcialidade. A objetividade de seus juízos e a firme orientação de sua vontade para o bem não são debilitadas, nem de leve, pelo bafo venenoso das paixões desregradas.

Pelo contrário, à medida que o homem decai na virtude e se entrega ao jugo dessas paixões, vai minguando nele a objetividade em tudo quanto com as mesmas se relacione. De modo particular, essa objetividade fica perturbada quanto aos julgamentos que o homem formule sobre si mesmo.

Até que ponto um revolucionário “de marcha lenta” do século XVI ou do século XVIII, obnubilado pelo espírito da Revolução, se dava conta do sentido profundo e das últimas conseqüências de sua doutrina, é em cada caso concreto o segredo de Deus.

De qualquer forma, a hipótese de que fossem todos eles marxistas conscientes é de se excluir inteiramente.
 
Concluído este artigo do Cap. VIII, da Parte I, do livro “Revolução e Contra-Revolução”, no próximo, apresentarei os Capítulos IX e X.

domingo, 21 de outubro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XIII

Retomo este blog novamente para dar continuidade à publicação do livro "Revolução e Contra-Revolução" do Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, capítulo por capítulo.

No artigo anterior, publiquei apenas as duas primeiras partes - 'A Revolução por Excelência' e 'Revolução e Legitimidade' - do Capítulo VII da parte I, cujo título é "A Essência da Revolução". Neste, publicarei a terceira parte, ou seja, 'Os Valores Metafísicos da Revolução' que resolvi deixar separada das anteriores por ser a parte mais longa.

Espero que gostem!



Parte I

Capítulo VII
A Essência da Revolução
(3ª parte)
 
 
 
3. A REVOLUÇÃO, O ORGULHO E A SENSUALIDADE - OS VALORES METAFÍSICOS DA REVOLUÇÃO
Duas noções concebidas como valores metafísicos exprimem bem o espírito da Revolução: a igualdade absoluta, liberdade completa. E duas são as paixões que mais a servem: o orgulho e a sensualidade.
Referindo-nos às paixões, cumpre esclarecer o sentido em que tomamos o vocábulo neste trabalho. Para maior brevidade, conformando-nos com o uso de vários autores espirituais, sempre que falamos das paixões como fautoras da Revolução, referimo-nos às paixões desordenadas. E, de acordo com a linguagem corrente, incluímos nas paixões desordenadas todos os impulsos ao pecado existentes no homem em conseqüência da tríplice concupiscência: a da carne, a dos olhos e a soberba da vida[8].
[8] Cfr. 1 Jo. 2, 16.
A. Orgulho e Igualitarismo
A pessoa orgulhosa, sujeita à autoridade de outra, odeia primeiramente o jugo que em concreto pesa sobre ela.
Num segundo grau, o orgulhoso odeia genericamente todas as autoridades e todos os jugos, e mais ainda o próprio princípio de autoridade, considerado em abstrato.
E porque odeia toda autoridade, odeia também toda superioridade, de qualquer ordem que seja.
E nisto tudo há um verdadeiro ódio a Deus [9].
[9] Cfr. Item “m” infra

Este ódio a qualquer desigualdade tem ido tão longe que, movidas por ele, pessoas colocadas em alta situação a têm posto em grave risco e até perdido, só para não aceitar a superioridade de quem está mais alto.

Mais ainda. Num auge de virulência o orgulho poderia levar alguém a lutar pela anarquia, e a recusar o poder supremo que lhe fosse oferecido. Isto porque a simples existência desse poder traz implícita a afirmação do princípio de autoridade, a que todo o homem enquanto tal - e o orgulhoso também - poder ser sujeito.

O orgulho pode conduzir, assim, ao igualitarismo mais radical e completo.

São vários os aspectos desse igualitarismo radical e metafísico:

a. Igualdade entre os homens e Deus: daí o panteísmo, o imanentismo e todas as formas esotéricas de religião, visando estabelecer um trato de igual a igual entre Deus e os homens, e tendo por objetivo saturar estes últimos de propriedades divinas. O ateu é um igualitário que, querendo evitar o absurdo que há em afirmar que o homem é Deus, cai em outro absurdo, afirmando que Deus não existe. O laicismo é uma forma de ateísmo, e portanto de igualitarismo. Ele afirma a impossibilidade de se ter certeza da existência de Deus. De onde, na esfera temporal, o homem deve agir como se Deus não existisse. Ou seja, como pessoa que destronou a Deus.

b. Igualdade na esfera eclesiástica: supressão do sacerdócio dotado dos poderes de ordem, magistério e governo, ou pelo menos de um sacerdócio com graus hierárquicos.

c. Igualdade entre as diversas religiões: todas as discriminações religiosas são antipáticas porque ofendem a fundamental igualdade entre os homens. Por isto, as diversas religiões devem ter tratamento rigorosamente igual. O pretender-se uma religião verdadeira com exclusão das outras é afirmar uma superioridade, é contrário à mansidão evangélica, e impolítico, pois lhe fecha o acesso aos corações.

d. Igualdade na esfera política: supressão, ou pelo menos atenuação, da desigualdade entre governantes e governados. O poder não vem de Deus, mas da massa, que manda e à qual o governo deve obedecer. Proscrição da monarquia e da aristocracia como regimes intrinsecamente maus, por antiigualitários. Só a democracia é legítima, justa e evangélica [10].
[10] Cfr. São Pio X, Carta Apostólica Notre Charge Apostolique, de 25-VIII-1910 - A. A. S., vol. II, pp. 615 a 619.

e. Igualdade na estrutura da sociedade: supressão das classes, especialmente das que se perpetuam por via hereditária. Abolição de toda a influência aristocrática na direção da sociedade e no tônus geral da cultura e dos costumes. A hierarquia natural constituída pela superioridade do trabalho intelectual sobre o trabalho manual desaparecerá pela superação da distinção entre um e outro.

f. Abolição dos corpos intermediários entre os indivíduos e o Estado, bem como dos privilégios que são elementos inerentes a cada corpo social. Por mais que a Revolução odeie o absolutismo régio, odeia mais ainda os corpos intermediários e a monarquia orgânica medieval. É que o absolutismo monárquico tende a pôr os súditos, mesmo os mais categorizados, num nível de recíproca igualdade, numa situação diminuída que já prenuncia a aniquilação do indivíduo e o anonimato que chegam ao auge nas grandes concentrações urbanas da sociedade socialista. Entre os grupos intermediários a serem abolidos, ocupa o primeiro lugar a família. Enquanto não consegue extingui-la, a Revolução procura reduzi-la, mutilá-la e vilipendiá-la de todos os modos.

g. Igualdade econômica: nada pertence a ninguém, tudo pertence à coletividade. Supressão da propriedade privada, do direito de cada qual ao fruto integral de seu próprio trabalho e à escolha de sua profissão.

h. Igualdade nos aspectos exteriores da existência: a variedade redunda facilmente em desigualdade de nível. Por isso, diminuição quanto possível da variedade nos trajes, nas residências, nos móveis, nos hábitos etc.

i. Igualdade de almas: a propaganda como que padroniza todos as almas, tirando-lhes as peculiaridades, e quase a vida própria. Até as diferenças de psicologia e atitude entre sexos tendem a minguar o mais possível. Por tudo isto, desaparece o povo que é essencialmente uma grande família de almas diversas mas harmônicas, reunidas em torno do que lhes é comum. E surge a massa, com sua grande alma vazia, coletiva, escrava [11].
[11] Cfr. Pio XII, Radiomensagem de Natal de 1944 – Discorsi e Radiomessaggi, vol. VI, p. 239.

j. Igualdade em todo o trato social: como entre mais velhos e mais moços, patrões e empregados, professores e alunos, esposo e esposa, pais e filhos, etc.

k. Igualdade na ordem internacional: o Estado é constituído por um povo independente exercendo domínio pleno sobre um território. A soberania é, assim, no Direito Público, a imagem da propriedade. Admitida a idéia de povo, com características que o diferenciam dos outros, e a de soberania, estamos forçosamente em presença de desigualdades: de capacidade, de virtude, de número etc. Admitida a idéia de território, temos a desigualdade quantitativa e qualitativa dos vários espaços territoriais. Compreende-se, pois, que a Revolução, fundamentalmente igualitária, sonhe em fundir todas as raças, todos os povos e todos os Estados em uma só raça, um só povo e um só Estado [12] .
[12] Cfr. Parte I - Cap. XI, 3.

l. Igualdade entre as diversas partes do país: pelas mesmas razões, e por um mecanismo análogo, a Revolução tende a abolir no interior das pátrias ora existentes todo o sadio regionalismo político, cultural, etc.

m. Igualitarismo e ódio a Deus: Santo Tomás ensina[13] que a diversidade das criaturas e seu escalonamento hierárquico são um bem em si, pois assim melhor resplandecem na criação as perfeições do Criador. E diz que tanto entre os Anjos[14] quanto entre os homens, no Paraíso Terrestre como nesta terra de exílio[15], a Providência instituiu a desigualdade. Por isso, um universo de criaturas iguais seria um mundo em que se teria eliminado em toda a medida do possível a semelhança entre criaturas e Criador. Odiar, em princípio, toda e qualquer desigualdade é, pois, colocar-se metafisicamente contra os melhores elementos de semelhança entre o Criador e a criação, é odiar a Deus.
[13] Cfr. Contra os Gentios, II, 45; Suma Teológica, I, q. 47, a. 2.
[14] Cfr. Suma Teológica, I, q. 50, a. 4.
[15] Cfr. op. cit., I, q. 96, a. 3 e 4.

n. Os limites da desigualdade: claro está que de toda esta explanação doutrinária não se pode concluir que a desigualdade é sempre necessariamente um bem.
Os homens são todos iguais por natureza, e diversos apenas em seus acidentes. Os direitos que lhes vêm do simples fato de serem homens são iguais para todos: direito à vida, à honra, a condições de existência suficientes, ao trabalho, pois, e à propriedade, à constituição de família, e sobretudo ao conhecimento e prática da verdadeira Religião. E as desigualdades que atentem contra estes direitos são contrárias à ordem da Providência. Porém, dentro destes limites, as desigualdades provenientes de acidentes como a virtude, o talento, a beleza, a força, a família, a tradição, etc., são justas e conformes à ordem do universo[16].
[16] Cfr. Pio XII, Radiomensagem de Natal de 1944 – Discorsi e Radiomessaggi, vol. VI, p. 239.



Dois integrantes do conjunto inglês de rock Rolling Stones. Quando se dá livre curso às paixões desenfreadas, chega-se aos excessos praticados pelos astros do rock e por seus fãs
B. Sensualidade e liberalismo
A par do orgulho gerador de todo o igualitarismo, a sensualidade, no mais largo sentido do termo, é causadora do liberalismo. É nestas tristes profundezas que se encontra a junção entre esses dois princípios metafísicos da Revolução, a igualdade e a liberdade, contraditórios em tantos pontos de vista.

a. A hierarquia na alma: Deus, que imprimiu um cunho hierárquico em toda a criação, visível e invisível, fê-lo também na alma humana. A inteligência deve guiar a vontade, e esta deve governar a sensibilidade. Como conseqüência do pecado original, existe no homem um constante atrito entre os apetites sensíveis e a vontade guiada pela razão: “Vejo nos meus membros outra lei, que combate contra a lei da minha razão”[17].
[17] Rom. 7,23.
Mas a vontade, rainha reduzida a governar súditos postos em contínuas tentativas de revolta, tem meios de vencer sempre... desde que não resista à graça de Deus[18].

[18] Cfr. Rom. 7,25.

b. O igualitarismo na alma: o processo revolucionário, que visa o nivelamento geral, mas tantas vezes não tem sido senão a usurpação da função retriz por quem deveria obedecer, uma vez transposto para as relações entre as potências da alma haveria de produzir a lamentável tirania de todas as paixões desenfreadas, sobre uma vontade débil e falida e uma inteligência obnubilada. Especialmente o domínio de uma sensualidade abrasada, sobre todos os sentimentos de recato e de pudor.
Quando a Revolução proclama a liberdade absoluta como um princípio metafísico, fá-lo unicamente para justificar o livre curso das piores paixões e dos erros mais funestos.

c. Igualitarismo e liberalismo: a inversão de que falamos, isto é, o direito de pensar, sentir e fazer tudo quanto as paixões desenfreadas exigem, é a essência do liberalismo, isto bem se mostra nas formas mais exacerbadas da doutrina liberal.
Analisando-as, percebe-se que o liberalismo pouco se importa com a liberdade para o bem. Só lhe interessa a liberdade para o mal. Quando no poder, ele facilmente, e até alegremente, tolhe ao bem a liberdade, em toda a medida do possível. Mas protege, favorece, prestigia, de muitas maneiras, a liberdade para o mal. No que se mostra oposto à civilização católica, que dá ao bem todo o apoio e toda a liberdade, e cerceia quanto possível o mal.

Ora, essa liberdade para o mal é precisamente a liberdade para o homem enquanto “revolucionário” em seu interior, isto é, enquanto consente na tirania das paixões sobre sua inteligência e sua vontade.

E assim o liberalismo é fruto da mesma árvore que o igualitarismo.

Aliás, o orgulho, enquanto gera o ódio a qualquer autoridade[19] , induz a uma atitude nitidamente liberal. E a este título deve ele ser considerado um fator ativo do liberalismo. Quando, porém, se deu conta de que, se deixarmos livres os homens, desiguais por suas aptidões e sua aplicação, a liberdade engendrará a desigualdade, a Revolução, por ódio a esta, deliberou sacrificar aquela. Daí nasceu sua fase socialista. Esta fase não constitui senão uma etapa. A Revolução  espera, em seu termo final, realizar um estado de coisas em que a completa liberdade coexista com a plena igualdade.

[19] Cfr. item “A”, supra.

Assim, historicamente, o movimento socialista é um mero requinte do movimento liberal. O que leva um liberal autêntico a aceitar o socialismo é precisamente que, neste, se proíbem tiranicamente mil coisas boas, ou pelo menos inocentes, mas se favorece a satisfação metódica, e por vezes com aspectos de austeridade, das piores e mais violentas paixões, como a inveja, a preguiça, a luxúria. E de outro lado, o liberal entrevê que a ampliação da autoridade no regime socialista não passa, dentro da lógica do sistema, de meio para chegar à tão almejada anarquia final.

Os entrechoques de certos liberais ingênuos ou retardados, com os socialistas, são, pois, meros episódios superficiais no processo revolucionário, inócuos qui pro quo que não perturbam a lógica profunda da Revolução, nem sua marcha inexorável num sentido que, bem vistas as coisas, é ao mesmo tempo socialista e liberal.

d. A geração do “rock and roll”: o processo revolucionário nas almas, assim descrito, produziu nas gerações mais recentes, e especialmente nos adolescentes atuais que se hipnotizam com o “rock and roll”, um feitio de espírito que se caracteriza pela espontaneidade das reações primárias, sem o controle da inteligência nem a participação efetiva da vontade; pelo predomínio da fantasia e das “vivências” sobre a análise metódica da realidade: fruto, tudo, em larga medida, de uma pedagogia que reduz a quase nada o papel da lógica e da verdadeira formação da vontade.

e. Igualitarismo, liberalismo e anarquismo: conforme os itens anteriores (“a” a “d”), a efervescência das paixões desregradas, se desperta de um lado o ódio a qualquer freio e qualquer lei, de outro lado provoca o ódio contra qualquer desigualdade. Tal efervescência conduz assim à concepção utópica do “anarquismo” marxista, segundo a qual uma humanidade evoluída, vivendo numa sociedade sem classes nem governo, poderia gozar da ordem perfeita e da mais inteira liberdade, sem que desta se originasse qualquer desigualdade. Como se vê, o ideal simultaneamente mais liberal e mais igualitário que se possa imaginar.
 
Com efeito, a utopia anárquica do marxismo consiste em um estado de coisas em que a personalidade humana teria alcançado um alto grau de progresso, de tal maneira que lhe seria possível desenvolver-se livremente numa sociedade sem Estado nem governo.
Nessa sociedade - que, apesar de não ter governo, viveria em plena ordem - a produção econômica estaria organizada e muito desenvolvida, e a distinção entre trabalho intelectual e manual estaria superada. Um processo seletivo ainda não determinado levaria à direção da economia os mais capazes, sem que daí decorresse a formação de classes.

Estes seriam os únicos e insignificantes resíduos de desigualdade. Mas, como essa sociedade comunista anárquica não é o termo final da História, parece legítimo supor que tais resíduos seriam abolidos em ulterior evolução.
Assim encerramos o Capítulo VII. Até o próximo!

sexta-feira, 23 de março de 2012

A Silenciosa e Mortal Revolução Cultural



Vivemos em nossos dias um processo revolucionário de grande profundidade e sutileza, mas cujos macabros danos são imperceptíveis aos nossos olhos que nem as revoluções mais sangrentas lograram obter tanto lucro. É ela a Revolução Cultural! Ou seja: um fenômeno astuto e dissimulado que corrói, desde o seu cerne, nossa sociedade e que opera na nossa vida cotidiana, nos costumes, nas mentalidades, nos modos de ser, de sentir e de viver.

Na verdade, esta modalidade de revolução é uma etapa indispensável para se chegar a estas mudanças. Um processo desagregador, mas aparentemente pacífico, que torna possível a implantação da utopia igualitária (comunismo/socialismo) e a tomada do poder pelos revolucionários, pois, sem este processo, a transformação revolucionária e as consequentes mudanças de ordem tornam-se efêmeras, como aconteceu no passado.

Ela não é só constituída pela formulação e difusão dos seus intentos através da grande mídia, mas de conceitos e de doutrinas muito bem elaborados - como foi idealizada por Antonio Gramsci em "Cadernos do Cárcere", por exemplo, e que vem sendo praticada "pari passu" desde há cerca de, pelo menos, mais de 50 anos. É uma estratégia que desenrola-se bem em ambientes de despreocupação otimista (ah! isso faz parte da teoria da conspiração) e onde o incentivo aos aspectos de festividade da existência são exaltados (ah! eu quero mais é ser feliz!), bem como, em ambientes de total desinteresse pelos grandes assuntos que dizem respeito aos destinos do País e do mundo - o que leva à total ausência de questionamentos ou polêmicas (uma falsa sensação de paz) e ao relativismo total.

É uma revolução imperceptível, pois utiliza métodos sofisticadíssimos de ação, tirando do indivíduo toda e qualquer capacidade de guiar sua própria conduta por padrões morais já consagrados desde há séculos. E, por assim ser, promove a tal mudança de mentalidades. Este "andar", aparentemente tranquilo e invisível como um um gás mortal e inodoro, faz com que a Revolução Cultural tenha como consequência o afastamento da verdadeira Fé Católica, a perseguição aos cristãos e a destruição dos restos de moral, de cultura e de hábitos de vida herdados da Civilização Cristã, pois que constituem entraves muito grandes para se chegar ao objetivo almejado.

Apreciando a realidade brasileira de hoje, por exemplo, vemos a proliferação absurda e inédita do uso das drogas que tem levado as autoridades a cogitarem a despenalização das ilícitas; a impunidade e o consequente aumento da criminalidade, fazendo com que a população se sinta insegura; a promoção do descrédito e do desrespeito às instituições; o incentivo à formação de grupos (os negros, os homossexuais, os índios, os ricos, os sem-tetos, etc), atiçando-os uns contra os outros, numa eterna luta de classes; a tentativa incansável da desagregação e demolição da família, corroendo gradualmente seus fundamentos; a apresentação, nos meios midiáticos, do casamento católico indissolúvel como sendo uma "prisão" e prestigiando todas as formas de infidelidade conjugal, bem como o divórcio ou uniões livres; programas de educação sexual nas escolas, incentivando o hedonismo (prazer acima de tudo!) e a desconstrução de gênero (menino não é mais menino; menina não é mais menina), desde a tenra idade, através de Kits Gays e a descaracterização da linguagem ou idioma por meio de livros didáticos, tornando a linguagem inculta como padrão - um verdadeiro retrocesso só não admitido por apedeutas ou mal intencionados; o homossexualismo, que foi sempre considerado pela Igreja Católica um ato contra a natureza, nos vem sendo imposto goela abaixo pelo movimento gayzista e afins - um fenômeno que vem sendo, pouco a pouco, amparado por decisões judiciais; a promoção da matança de inocentes através de uma hábil propaganda com notas de sentimentalismo, aproveitando-se de histórias chocantes e manipulação de estatísticas, para propugnar a liberação do Aborto; a arte e a cultura, hoje em dia, sendo cada vez mais orientadas para a busca do absurdo, do feio e do irracional; os trajes cada vez mais uniformes e vulgares, tendendo para a despudoração e ao nudismo; a TV com sua transmissão contínua de cenas degradantes, violentas e obscenas vem bombardeando as mentes, aviltando-as e embrutecendo os espíritos até das nossas crianças, além da crescente penetração de modismos e de termos chulos e de palavrões etc - aspectos, todos estes e muitos outros, que têm como pano de fundo a ideologia revolucionária que prossegue sua silenciosa marcha rumo a esta total mudança.

Ora, como consequência disso, estamos vivenciando, nestes nossos dias, um ambiente de degradação total: destruição da linguagem, da religião e a conivência com a quebra gradual de todos os padrões de moral e de cultura e da própria Ordem Natural da sociedade humana. E esta, sendo desmantelada, gera o caos. O homem que vive sem esta Ordem, passa a viver apenas segundo seus instintos e paixões e, neste caos, a proliferação de conflitos impera, gerando mais e mais desordens. 


Aí está, em termos práticos e fáticos, o objetivo primordial da Revolução Cultural, qual seja: a geração do conflito entre os homens, a instauração da luta(militância), o parto - com dor e sangue - do ódio gerado pela desordem. Ódio racial, ódio religioso, ódio social, ódio familiar. Em última instância, ódio entre as classes, alicerce macabro do marxismo.

De se notar, também, que a Revolução Cultural, propulsora do comunismo, pretende(?) atingir a utopia do que considera ser o "paraíso" na Terra, a partir da destruição e do ódio, como se de tão nefastas causas pudesse surgir algo minimamente benéfico.

No entanto, tendo conhecimento sobre os meandros desta revolução silenciosa, tal qual poderoso veneno percorrendo as artérias de nossa civilização, temos que nos preparar para nos defender dos efeitos nocivos a que estamos sendo submetidos e tentarmos reverter este seu caminhar manso e progressivo que, de tão imperceptível, poucos se dão conta - e menos ainda são os que se mobilizam e reagem contra ela.

Brademos e lutemos, pois, como cristãos, contra este processo devastador, chamando todos à atenção, valendo-nos de todos os meios possíveis, da contemporânea internet à vetusta, porém sempre eficiente, conversa "tête-à-tête". 


Atuemos como Cruzados hodiernos, em todos os ambientes, alertando a todos sobre o que se passa! Evoquemos com fervor Maria, Nossa Mãe Santíssima - que por nós sempre intercede. Façamos nossa parte! Sejamos fiéis a Cristo e lutemos pela conservação incólume de nossa Civilização Cristã! Travemos o bom combate com decisão, abnegação e coragem!

Se Deus é por nós, quem será contra nós?

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XII

Em falta com meus leitores, volto a repassar, como venho fazendo capítulo por capítulo, o livro "Revolução e Contra-Revolução" do Dr. Plínio Corrêa de Oliveira. Neste artigo, vou transcrever o capítulo VII - o qual dividirei em duas partes - da Parte I desta grande obra, que fala da Essência da Revolução.

No artigo anterior, só para recordarmos, o autor descreveu a Marcha da Revolução. Agora ele irá analisá-la em 3 partes: A Revolução por Excelência, Revolução e Legitimidade e Os Valores Metafísicos da Revolução (esta última, publicarei em artigo separado para dar mais destaque e por ser mais longo).

Creio que não há o que comentar. Está tudo ali bem explicado. Basta uma leitura atenta para apreendê-la.



Parte I

Capítulo VII
A Essência da Revolução
(1ª  e 2ª partes)

Descrita assim rapidamente a crise do Ocidente cristão, é oportuno analisá-la.
1. A REVOLUÇÃO POR EXCELÊNCIA
Esse processo crítico de que nos vimos ocupando é, já o dissemos, uma Revolução.
A. Sentido da palavra “Revolução”
Damos a este vocábulo o sentido de um movimento que visa destruir um poder ou uma ordem legítima e pôr em seu lugar um estado de coisas (intencionalmente não queremos dizer ordem de coisas) ou um poder ilegítimo.
B. Revolução cruenta e incruenta
Nesse sentido, a rigor, uma Revolução pode ser incruenta. Esta de que nos ocupamos se desenvolveu e continua a se desenvolver por toda sorte de meios, alguns dos quais cruentos, e outros não. As duas guerras mundiais deste século, por exemplo, consideradas em suas conseqüências mais profundas, são capítulos dela, e dos mais sanguinolentos. Ao passo que a legislação cada vez mais socialista de todos ou quase todos os povos hodiernos constitui um progresso importantíssimo e incruento da Revolução.
C. A amplitude desta Revolução
A Revolução tem derrubado muitas vezes autoridades legítimas, substituindo-as por outras sem qualquer título de legitimidade. Mas haveria engano em pensar que ela consiste apenas nisto. Seu objetivo principal não é a destruição destes ou daqueles direitos de pessoas ou famílias. Mais do que isto, ela quer destruir toda uma ordem de coisas legítima, e substituí-la por uma situação ilegítima. E “ordem de coisas” ainda não diz tudo. É uma visão do universo e um modo de ser do homem, que a Revolução pretende abolir, com o intuito de substituí-los por outros radicalmente contrários.
D. A Revolução por excelência
Neste sentido se compreende que esta Revolução não é apenas uma revolução, mas é a Revolução.
E. A destruição da ordem por excelência
Com efeito, a ordem de coisas que vem sendo destruída é a Cristandade medieval. Ora, essa Cristandade não foi uma ordem qualquer, possível como seriam possíveis muitas outras ordens. Foi a realização, nas circunstâncias inerentes aos tempos e aos lugares, da única ordem verdadeira entre os homens, ou seja, a civilização cristã.
Na Encíclica Immortale Dei, Leão XIII descreveu nestes termos a Cristandade medieval: “Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda a expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer[1]” .
[1] Encíclica “Immortale Dei”, de 1º-XI-1885, Bonne Presse, Paris, vol. II, p. 39.

Assim, o que tem sido destruído, do século XV para cá, aquilo cuja destruição já está quase inteiramente consumada em nossos dias, é a disposição dos homens e das coisas segundo a doutrina da Igreja, Mestra da Revelação e da Lei Natural. Esta disposição é a ordem por excelência. O que se quer implantar é, per diametrum, o contrário disto. Portanto, a Revolução por excelência.
Sem dúvida, a presente Revolução teve precursores, e também prefiguras. Ario, Maomé, foram prefiguras de Lutero, por exemplo. Houve também utopistas em diferentes épocas, que conceberam, em sonhos, dias muito parecidos com os da Revolução. Houve por fim, em diversas ocasiões, povos ou grupos humanos que tentaram realizar um estado de coisas análogo às quimeras da Revolução.
Mas todos estes sonhos, todas essas prefiguras pouco ou nada são em confronto da Revolução em cujo processo vivemos. Esta, por seu radicalismo, por sua universalidade, por sua pujança, foi tão fundo e está chegando tão longe, que constitui algo de ímpar na História, e faz perguntar a muitos espíritos ponderados se realmente não chegamos aos tempos do Anticristo. De fato, parece que não estamos distantes, a julgar pelas palavras do Santo Padre João XXIII, gloriosamente reinante: “Nós vos dizemos, ademais, que, nesta hora terrível em que o espírito do mal busca todos os meios para destruir o Reino de Deus, devemos pôr em ação todas as energias para defendê-lo, se quereis evitar para vossa cidade ruínas imensamente maiores do que as acumuladas pelo terremoto de cinqüenta anos atrás. Quanto mais difícil seria então o reerguimento das almas, uma vez que tivessem sido separadas da Igreja ou submetidas como escravas às falsas ideologias do nosso tempo!”[2].
[2] Radiomensagem de 28-XII-1958, à População de Messina, no 50º aniversário do terremoto que destruiu essa cidade - in “L Osservatore Romano”, edição hebdomadária em língua francesa, de 23-I-1959.

2. REVOLUÇÃO E LEGITIMIDADE
A. A legitimidade por excelência
Em geral, a noção de legitimidade tem sido focalizada apenas com relação a dinastias e governos. Atendidos os ensinamentos de Leão XIII na Encíclica Au Milieu des Solicitudes, de 16 de fevereiro de 1892[3] , não  se pode entretanto fazer tábua rasa da questão da legitimidade dinástica ou governamental, pois é questão moral gravíssima que as consciências retas devem considerar com toda a atenção.
[3] Bonne Presse, Paris, vol. III, pp. 112 a 122.
Porém não é só a este gênero de problemas que se aplica o conceito de legitimidade.
Há uma legitimidade mais alta, aquela que é a característica de toda ordem de coisas em que se torne efetiva a Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo, modelo e fonte da legitimidade de todas as realezas e poderes terrenos. Lutar pela autoridade legítima é um dever, e até um dever grave. Mas é preciso ver na legitimidade dos detentores da autoridade não só um bem excelente em si, mas um meio para atingir bem ainda muito maior, ou seja, a legitimidade de toda a ordem social, de todas as instituições e ambientes humanos, o que se dá com a disposição de todas as coisas segundo a doutrina da Igreja.
B. Cultura e civilização católica
O ideal da Contra-Revolução é, pois, restaurar e promover a cultura e a civilização católica. Essa temática não estaria suficientemente enunciada, se não contivesse uma definição do que entendemos por “cultura católica” e “civilização católica”. Sabemos que os termos “civilização” e “cultura” são usados em muitos sentidos diversos. Bem se vê que não pretendemos aqui tomar posição em uma questão de terminologia. E que nos limitamos a usar esses vocábulos como rótulos de precisão relativa para mencionar certas realidade, mais preocupados em dar verdadeira idéia dessas realidades, do que em discutir sobre os termos.
Uma alma em estado de graça está na posse, em grau maior ou menor, de todas as virtudes. Iluminada pela Fé, dispõe dos elementos para formar a única visão verdadeira do universo.
O elemento fundamental da cultura católica é a visão do universo elaborada segundo a doutrina da Igreja. Essa cultura compreende não só a instrução, isto é, a posse dos dados informativos necessários para uma tal elaboração, mas uma análise e uma coordenação desses dados conforme a doutrina católica. Ela não se cinge ao campo teológico, ou filosófico, ou científico, mas abrange todo o saber humano, reflete-se na arte e implica na afirmação de valores que impregnam todos os aspectos da existência.
Civilização católica é a estruturação de todas as relações humanas, de todas as instituições humanas, e do próprio Estado, segundo a doutrina da Igreja.
C. Caráter sacral da civilização católica
Está implícito que uma tal ordem de coisas é fundamentalmente sacral, e que ela importa no reconhecimento de todos os poderes da Santa Igreja, e particularmente do Sumo Pontífice: poder direito sobre as coisas espirituais, poder indireto sobre as coisas temporais, enquanto dizem respeito à salvação das almas.
Realmente, o fim da sociedade e do Estado é a vida virtuosa em comum. Ora, as virtudes que o homem é chamado a praticar são as virtudes cristãs, e destas a primeira é o amor a Deus. A sociedade e o Estado têm, pois, um fim sacral[4].
[4] Cfr. Santo Tomás, De Regimine Principum, I, 14 e 15.
Por certo é à Igreja que pertencem os meios próprios para promover a salvação das almas. Mas a sociedade e o Estado têm meios instrumentais para o mesmo fim, isto é, meios que, movidos por um agente mais alto, produzem efeito superior a si mesmos.
D. Cultura e civilização por excelência
De todos estes dados é fácil inferir que a cultura e a civilização católica são a cultura por excelência e a civilização por excelência. É preciso acrescentar que não podem existir senão em povos católicos. Realmente, se bem que o homem possa conhecer os princípios da Lei Natural por sua própria razão, não pode um povo, sem o Magistério da Igreja, manter-se duravelmente no conhecimento de todos eles[5] . E, por este motivo, um povo que não professe a verdadeira Religião não pode duravelmente praticar todos os Mandamentos[6]. Nestas condições, e como sem o conhecimento e a observância da Lei de Deus não pode haver ordem cristã, a civilização e a cultura por excelência só são possíveis no grêmio da Santa Igreja. Com efeito, de acordo com o que disse São Pio X, a civilização “é tanto mais verdadeira, mais durável, mais fecunda em frutos preciosos, quanto mais puramente cristã; tanto mais  decadente, para grande desgraça da sociedade, quanto mais se subtrai à idéia cristã. Por isto, pela força intrínseca das coisas, a Igreja torna-se também de fato a guardiã e protetora da civilização cristã”[7] .
[5] Cfr. Concílio Vaticano I, sess. III, cap. 2 - D. 1786
[6] Cfr. Concílio de Trento, sess. VI, cap. 2 - D. 812.
[7] Encíclica Il Fermo Proposito, de 11-VI-1905 – Bonne Presse, Paris, vol. II, p. 92.

E. A ilegitimidade por excelência
Se nisto consistem a ordem e a legitimidade, facilmente se vê no que consiste a Revolução. Pois é o contrário dessa ordem. É a desordem e a ilegitimidade por excelência.

Em breve, a 3ª parte deste capítulo. Até lá!