terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte VIII

Após apontar os caracteres do processo revolucionário e suas várias etapas, abordaremos, no capítulo IV de "Revolução e Contra-Revolução", as metamorfoses do processo revolucionário.

Os fatos atuais estão a mostrar-nos que o comunismo não morreu, mas passa por uma velhaca metamorfose para nos iludir. Mediante esta nova "maquiagem", visa mais facilmente atingir sua meta final: a implantação de um estado anárquico. A deterioração moral dos costumes e a demolição de todas as instituições, principalmente a família, é o seu maior objetivo.



Parte I

Capitulo IV
As Metamorfoses do Processo Revolucionário
 Como se depreende da análise feita no capítulo anterior, o processo revolucionário é o desenvolvimento, por etapas, de certas tendências desregradas do homem ocidental e cristão, e dos erros delas nascidos.
Em cada etapa, essas tendências e erros têm um aspecto próprio. A Revolução vai, pois, se metamorfoseando ao longo da História.
Essas metamorfoses que se observam nas grandes linhas gerais da Revolução, se repetem, em ponto menor, no interior de cada grande episódio dela.
Assim, o espírito da Revolução Francesa, em sua primeira fase, usou máscara e linguagem aristocrática e até eclesiástica. Freqüentou a corte e sentou-se à mesa do Conselho do Rei.
Depois, tornou-se burguês e trabalhou pela extinção incruenta da monarquia e da nobreza, e por uma velada e pacífica supressão da Igreja Católica.
Logo que pôde, fez-se jacobino, e se embriagou de sangue no Terror.
Mas os excessos praticados pela facção jacobina despertaram reações. Ele voltou atrás, percorrendo as mesmas etapas. De jacobino transformou-se em burguês no Diretório, com Napoleão estendeu a mão à Igreja e abriu as portas à nobreza exilada, e, por fim, aplaudiu a volta dos Bourbons. Terminada a Revolução Francesa, não termina com isto o processo revolucionário. Ei-lo que torna a explodir com a queda de Carlos X e a ascensão de Luís Felipe, e assim por sucessivas metamorfoses, aproveitando seus sucessos e mesmo seus insucessos, chegou ele até o paroxismo de nossos dias.
A Revolução usa, pois, suas metamorfoses não só para avançar, como também para operar os recuos táticos que tão freqüentemente lhe têm sido necessários.
Por vezes, movimento sempre vivo, ela tem simulado estar morta. E é esta uma de suas metamorfoses mais interessantes. Na aparência, a situação de um determinado país se apresenta como inteiramente tranqüila. A reação contra-revolucionária se distende e adormece. Mas, nas profundidades da vida religiosa, cultural, social, ou econômica, a fermentação revolucionária vai sempre ganhando terreno. E, ao cabo desse aparente interstício, explode uma convulsão inesperada, freqüentemente maior que as anteriores.

Volto aqui, porque, mais uma vez, vale lembrar (sempre faço questão de lembrar) que Antonio Gramsci (1891-1937), um dos fundadores do Partido Comunista Italiano em 1921, foi o primeiro teórico marxista a defender que a revolução na Europa Ocidental teria que se desviar muito do rumo seguido pelos bolcheviques russos, comandados por Lênin e seguido por Stalin.

Lênin, por exemplo, sustentava que a revolução deveria começar pela tomada do Estado para, a partir daí, transformar a sociedade. Gramsci inverteu esses termos: a revolução deveria começar pela transformação da sociedade, privando a classe dominante da direção da “sociedade civil” e, só então, atacar o poder do Estado.

Durante os anos de 1926 a 1935, Antonio Gramsci escreveu inúmeros textos sobre o comunismo, sob o título "Cadernos do Cárcere". Esta publicação, difundida em vários continentes, passou a ser o Catecismo das Esquerdas que viram nela uma forma muito mais potente de realizar o velho sonho de implantar o Totalitarismo, sem que fosse necessário o derramamento de sangue - um evidente recuo estratégico de que falou Dr. Plínio, dando uma aparência de morte, mas que "
nas profundidades da vida religiosa, cultural, social, ou econômica, a fermentação revolucionária vai sempre ganhando terreno."

Sugiro que o leitor, arrume um tempinho e leia o artigo de Anatoli Oliynik, "GRAMSCI E A COMUNIZAÇÃO DO BRASIL" e conheça mais este processo de 'metamorfoseamento' que já acontece em nossos dias, desde há mais de 50 anos aqui no Brasil.


Na próximo artigo (Capítulo V) veremos as três profundidades da Revolução: nas tendências, nas idéias e nos fatos. Até lá!

sábado, 28 de janeiro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte VII

Antes de dar continuidade, gostaria de dizer aos leitores que estão acompanhando a leitura do livro neste blog que, na época de seu lançamento, "Revolução e Contra-Revolução" teve uma grande repercussão nos meios intelectuais brasileiros e de outros países como, EUA, França, Espanha, Argentina e Chile. Porém, justamente aqui no Brasil, onde o livro foi publicado pela primeira vez, ele passa por um grave processo de esquecimento, tanto nos meios eclesiásticos como também intelectuais.

Não é para menos. Simplesmente não se lê - o ler não é muito bem aceito aqui neste país-; muito menos divulgado. E, por se tratar de uma leitura de análise crítica filosofo-histórica, não é de interesse da mídia, comandada pela batuta revolucionária, que seja divulgado. Não obstante, se chegam a lê-lo, o fazem superficialmente, dando margem a uma leitura impregnada de interpretações equivocadas.

Quero, portanto, nesta parte do livro que fala de ditadura, desfazer qualquer equívoco interpretativo que possa haver - principalmente pela leitura liberal-esquerdista que domina o cenário acadêmico brasileiro - esclarecendo que:  Dr. Plínio jamais em momento algum apoiou ditaduras militares ou totalitárias na América Latina ou em qualquer parte do mundo. Ao contrário, sempre defendeu a ordem. E por "ordem” ele entendia “não apenas a tranquilidade material, mas a disposição das coisas segundo seu fim e de acordo com a respectiva escala de valores."  Além disso, como veremos mais adiante, na Parte II do livro, a Contra-Revolução proposta pelo autor, visa o retorno sadio e saudável da civilização cristã - uma civilização anti-militarista, anti-totalitária que fará uso equilibrado do progresso material, mas que acima de tudo viverá iluminada providência, pela misericórdia de Deus e pelo seu corpo místico, que é a Igreja.

Peço, então, que leiam cuidadosamente o texto a seguir, onde o autor nos mostra que a principal característica de uma ditadura não é a concentração do poder em uma só pessoa, mas a onipotência do Estado. Assim concluimos o Capítulo III da Parte I de "Revolução e Contra-Revolução".




F. Revolução, Contra-Revolução e ditadura
As presentes considerações sobre a posição da Revolução e do pensamento católico em face das formas de governo suscitarão em vários leitores uma interrogação: a ditadura é um fator de Revolução, ou de Contra-Revolução?
Para responder com clareza a uma pergunta a que têm sido dadas tantas soluções confusas e até tendenciosas, é necessário estabelecer uma distinção entre certos elementos que se emaranham desordenadamente na idéia de ditadura, como a opinião pública a conceitua. Confundindo a ditadura em tese com o que ela tem sido in concreto em nosso século, o público entende por ditadura um estado de coisas em que um chefe dotado de poderes irrestritos governa um país. Para o bem deste, dizem uns. Para o mal, dizem outros. Mas em um e outro caso, tal estado de coisas é sempre uma ditadura.
Ora, este conceito envolve dois elementos distintos:
- onipotência do Estado;

- concentração do poder estatal em uma só pessoa.

No espírito público, parece que o segundo elemento chama mais a atenção. Entretanto, o elemento básico é o primeiro, pelo menos se entendermos por ditadura um estado de coisas em que o Poder público, suspensa qualquer ordem jurídica, dispõe a seu talante de todos os direitos. Que uma ditadura possa ser exercida por um Rei (a ditadura real, isto é, a suspensão de toda a ordem jurídica e o exercício irrestrito do poder público pelo Rei, não se confunde com o Ancien Régime, em que estas garantias existiam em considerável medida, e muito menos com a monarquia orgânica medieval) ou um chefe popular, uma aristocracia hereditária ou um clã de banqueiros, ou até pela massa, é inteiramente evidente.

Em si, uma ditadura exercida por um chefe ou um grupo de pessoas não é revolucionária nem contra-revolucionária. Ela será uma ou outra coisa em função das circunstância de que se originou, e da obra que realizar. E isto, quer esteja em mãos de um homem, quer de um grupo.

Há circunstâncias que exigem, para a salus populi, uma suspensão provisória de todos os direitos individuais, e o exercício mais amplo do poder público. A ditadura pode, portanto, ser legítima em certos casos.

Uma ditadura contra-revolucionária e, pois, inteiramente norteada pelo desejo de Ordem, deve apresentar três requisitos essenciais:

* Deve suspender os direitos, não para subverter a Ordem, mas para a proteger. E por Ordem não entendemos apenas a tranqüilidade material, mas a disposição das coisas segundo seu fim, e de acordo com a respectiva escala de valores. Há, pois, uma suspensão de direitos mais aparente do que real, o sacrifício das garantias jurídicas de que os maus elementos abusavam em detrimento da própria ordem e do bem comum, sacrifício este todo voltado para a proteção dos verdadeiros direitos dos bons.

* Por definição, esta suspensão deve ser provisória, e deve preparar as circunstâncias para que o mais cedo possível se volte à ordem e à normalidade. A ditadura, na medida em que é boa, vai fazendo cessar sua própria razão de ser. A intervenção do Poder público nos vários setores da vida nacional deve fazer-se de maneira que, o mais breve possível, cada setor possa viver com a necessária autonomia. Assim, cada família deve poder fazer tudo aquilo de que por sua natureza é capaz, sendo apoiada apenas subsidiariamente por grupos sociais superiores naquilo que ultrapasse o seu âmbito. Esses grupos, por sua vez, só devem receber o apoio do município no que excede à normal capacidade deles, e assim por diante nas relações entre o município e a região, ou entre esta e o país.

* O fim precípuo da ditadura legítima hoje em dia deve ser a Contra-Revolução. O que, aliás, não implica em afirmar que a ditadura seja normalmente um meio necessário para a derrota da Revolução. Mas em certas circunstâncias pode ser.

Pelo contrário, a ditadura revolucionária visa eternizar-se, viola os direitos autênticos, e penetra em todas as esferas da sociedade para as aniquilar, desarticulando a vida de família, prejudicando as elites genuínas, subvertendo a hierarquia social, alimentando de utopias e de aspirações desordenadas a multidão, extinguindo a vida real dos grupos sociais e sujeitando tudo ao Estado: em uma palavra, favorecendo a obra da Revolução. Exemplo típico de tal ditadura foi o hitlerismo.

Por isto, a ditadura revolucionária é fundamentalmente anticatólica. Com efeito, em um ambiente verdadeiramente católico, não pode haver clima para uma tal situação.

O que não quer dizer que a ditadura revolucionária, neste ou naquele país, não tenha procurado favorecer a Igreja. Mas trata-se de atitude meramente política, que se transforma em perseguição franca ou velada, logo que a autoridade eclesiástica comece a deter o passo à Revolução.




Aqui concluo o Capítulo III. Até o próximo artigo, onde serão abordadas as metamorfoses do processo revolucionário!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte VI

Caro leitor que vem acompanhando a leitura do livro "Revolução e Contra-Revolução" do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira neste blog, hoje publico o 6º artigo.
Após discorrer sobre os caracteres das 3 Grandes Revoluções, nos primeiros cinco artigos, descrevendo as características do processo revolucionário e sua ação na História do Ocidente, será abordado, neste item E do Capítulo III, da Parte I do livro "Revolução e Contra-Revolução", o pensamento da Igreja em matéria de regimes de governo. 



E. Monarquia, república e religião
A fim de evitar qualquer equívoco, convém acentuar que esta exposição não contém a afirmação de que a república é um regime político necessariamente revolucionário. Leão XIII deixou claro, ao falar das diversas formas de governo, que “cada uma delas é boa, desde que saiba caminhar retamente para seu fim, a saber, o bem comum, para o qual a autoridade social é constituída[3].
[3]Encíclica “Au Milieu des Solicitudes”, de 16-II-1892, Bonne Presse, Paris, vol. III, p. 116.
Taxamos de revolucionária, isto sim, a hostilidade professada, por princípio, contra a monarquia e a aristocracia, como sendo formas essencialmente incompatíveis com a dignidade humana e a ordem normal das coisas. É o erro condenado por São Pio X na Carta Apostólica “Notre Charge Apostolique”, de 25 de agosto de 1910. Nela censura o grande e santo Pontífice a tese do “Sillon”, de que “só a democracia inaugurará o reino da perfeita justiça”, e exclama: “Não é isto uma injúria às outras formas de governo, que são rebaixadas, por esse modo, à categoria de governos impotentes, aceitáveis à falta de melhor?[4].
[4]A.A.S., vol. II, p. 618.
Ora, sem este erro, inviscerado no processo de que falamos, não se explica inteiramente que a monarquia, qualificada pelo Papa Pio VI como sendo em tese a melhor forma de governo - praestantioris monarchici regiminis forma[5] -, tenha sido objeto, nos séculos XIX e XX, de um movimento mundial de hostilidade que deu por terra com os tronos e as dinastias mais veneráveis. A produção em série de repúblicas para o mundo inteiro é, a nosso ver, um fruto típico da Revolução, e um aspecto capital dela.
[5] Alocução ao Consistório, de 17-VI-1793, “Les Enseignements Pontificaux - La paix intérieure des Nations - par les moines de Solesmes”, Desclée & Cie., p. 8.
Não pode ser taxado de revolucionário quem para sua Pátria, por razões concretas e locais, ressalvados sempre os direitos da autoridade legítima, prefere a democracia à aristocracia ou à monarquia. Mas sim quem, levado pelo espírito igualitário da Revolução, odeia em princípio, e qualifica de injusta ou inumana por essência, a aristocracia ou a monarquia.
Desse ódio antimonárquico e antiaristocrático, nascem as democracias demagógicas, que combatem a tradição, perseguem as elites, degradam o tônus geral da vida, e criam um ambiente de vulgaridade que constitui como que a nota dominante da cultura e da civilização, ... se é que os conceitos de civilização e de cultura se podem realizar em tais condições.
Como diverge desta democracia revolucionária a democracia descrita por Pio XII: “Segundo o testemunho da História, onde reina uma verdadeira democracia, a vida do povo está como que impregnada de sãs tradições, que é ilícito abater. Representantes dessas tradições são, antes de tudo, as classes dirigentes, ou seja, os grupos de homens e mulheres ou as associações, que dão, como se costuma dizer, o tom na aldeia e na cidade, na região e no país inteiro.
“Daqui, em todos os povos civilizados, a existência e o influxo de instituições eminentemente aristocráticas, no sentido mais elevado da palavra, como são algumas academias de larga e bem merecida fama. Pertence a este número também a nobreza[6] . Como se vê, o espírito da democracia revolucionária é bem diverso daquele que deve animar uma democracia conforme a doutrina da Igreja.
[6] Alocução ao Patriciado e à Nobreza Romana, de 16-I-1946, Discorsi e Radiomessaggi, vol. VII, p. 340.

O 7º artigo tratará da Ditadura: é ela revolucionária ou contra-revolucionária? Aguardem! 

sábado, 21 de janeiro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte V

Seguindo com a leitura do livro "Revolução e Contra-Revolução" e ainda discorrendo sobre os caracteres das crises, do Capítulo III, da Parte I, falaremos agora do item D, que trata do Comunismo. Neste Capítulo, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira mostra como as revoluções protestante e francesa, logicamente, haveriam de dar origem a esta Terceira Grande Revolução.

Antes de prosseguir, creio que é de fundamental importância que se esclareça o seguinte aspecto:  o comunismo não é senão uma forma extrema de socialismo. Do ponto de vista ideológico, não há diferença substancial entre os dois. Na verdade, a União Soviética, um país comunista, chamou-se “União das Repúblicas Socialistas Soviéticas” (1922-1991) e igualmente a China comunista, Cuba e Vietnã se definem como nações socialistas. E quando se fala de um, fala-se de outro, pois comunismo e socialismo são, na verdade, a mesma ideologia. Ambos violam a liberdade pessoal, a natureza humana, a propriedade privada, se opõem ao casamento tradicional, ao direito dos pais na educação, promovem a igualdade radical, o ateísmo, o relativismo e zombam da Religião. 

Os Teólogos da Libertação pregam, inclusive, a possibilidade de um “comunismo cristão”, uma espécie de socialismo aliado ao Evangelho. Neste aspecto, no entanto, o Papa Pio XI afirmou taxativamente: “Socialismo religioso, socialismo católico, são termos contraditórios — termos que ‘urram de se encontrar juntos’. Ninguém pode ser ao mesmo tempo bom católico e verdadeiro socialista” (Encíclica Quadragesimo Anno, 15-5-1931).

Voltemos ao livro:



D. Comunismo
No protestantismo nasceram algumas seitas que, transpondo diretamente suas tendências religiosas para o campo político, prepararam o advento do espírito republicano. São Francisco de Sales, no século XVII, premuniu contra estas tendências republicanas o Duque de Sabóia[2]. Outras, indo mais longe, adotaram princípios que, se não se chamarem comunistas em todo o sentido hodierno do termo, são pelo menos pré-comunistas.
[2]Cfr. Sainte-Beuve, “Études des lundis - XVIIème siècle - Saint François de Sales”,
Librairie Garnier, Paris, 1928, p. 364.
Da Revolução Francesa nasceu o movimento comunista de Babeuf. E mais tarde, do espírito cada vez mais vivaz da Revolução, irromperam as escolas do comunismo utópico do século XIX e o comunismo dito científico de Marx.
E o que de mais lógico? O deísmo tem como fruto normal o ateísmo. A sensualidade, revoltada contra os frágeis obstáculos do divórcio, tende por si mesma ao amor livre. O orgulho, inimigo de toda superioridade, haveria de investir contra a última desigualdade, isto é, a de fortunas. E assim, ébrio de sonhos de República Universal, de supressão de toda autoridade eclesiástica ou civil, de abolição de qualquer Igreja e, depois de uma ditadura operária de transição, também do próprio Estado, aí está o neobárbaro do século XX, produto mais recente e mais extremado do processo revolucionário.

Outra coisa que temos de ter bem presente é que, passados alguns anos, depois da euforia provocada pela queda do Muro e, posteriormente, pela abertura da Cortina de Ferro, são poucos os intelectuais e analistas políticos que ousam afirmar que o comunismo morreu ou que o comunismo acabou. O comunismo, na realidade, metamorfoseou-se e está passando por uma transformação. Devemos estar atentos quanto a essa nova face do comunismo, pois numa coisa os comunistas não mudarão: sua determinação firme de destruir o que ainda resta de Civilização Cristã.

Até o próximo artigo!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte IV

Segue, neste quarto artigo, o Capítulo III da Parte I do livro REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO, cujo autor, Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, trata da imensa crise que envolve o mundo atual e seu processo revolucionário.
No último artigo, mostrei como se deu a decadência da Idade Média (item A). Neste artigo, vou mostrar os traços essenciais da Primeira Grande Revolução, levada a efeito pelo Humanismo e pelo Protestantismo, no item B.



B. Pseudo-Reforma e Renascença
Este novo estado de alma continha um desejo possante, se bem que mais ou menos inconfessado, de uma ordem de coisas fundamentalmente diversa da que chegara a seu apogeu nos séculos XII e XIII.
A admiração exagerada, e não raro delirante, pelo mundo antigo, serviu como meio de expressão a esse desejo. Procurando muitas vezes não colidir de frente com a velha tradição medieval, o Humanismo e a Renascença tenderam a relegar a Igreja, o sobrenatural, os valores morais da Religião, a um segundo plano. O tipo humano, inspirado nos moralistas pagãos, que aqueles movimentos introduziram como ideal na Europa, bem como a cultura e a civilização coerentes com este tipo humano, já eram os legítimos precursores do homem ganancioso, sensual, laico e pragmático de nossos dias, da cultura e da civilização materialistas em que cada vez mais vamos imergindo. Os esforços por uma Renascença cristã não lograram esmagar em seu germe os fatores de que resultou o triunfo paulatino do neopaganismo.
Em algumas partes da Europa, este se desenvolveu sem levar à apostasia formal. Importantes resistências se lhe opuseram. E mesmo quando ele se instalava nas almas, não lhes ousava pedir - de início pelo menos - uma formal ruptura com a Fé.
Mas em outros países ele investiu às escâncaras contra a Igreja. O orgulho e a sensualidade, em cuja satisfação está o prazer da vida pagã, suscitaram o protestantismo.
O orgulho deu origem ao espírito de dúvida, ao livre exame, à interpretação naturalista da Escritura. Produziu ele a insurreição contra a autoridade eclesiástica, expressa em todas as seitas pela negação do caráter monárquico da Igreja Universal, isto é, pela revolta contra o Papado. Algumas, mais radicais, negaram também o que se poderia chamar a alta aristocracia da Igreja, ou seja, os Bispos, seus Príncipes. Outras ainda negaram o próprio sacerdócio hierárquico, reduzindo-o a mera delegação do povo, único detentor verdadeiro do poder sacerdotal.
No plano moral, o triunfo da sensualidade no protestantismo se afirmou pela supressão do celibato eclesiástico e pela introdução do divórcio.


Em suma, a revolução protestante, conhecida como Pseudo-reforma, constitui, juntamente com a Renascença, a primeira etapa do processo multissecular de destruição da Civilização Cristã, que teve início com a decadência da Idade Média.

O item C do Cap. III falará sobre a Segunda Grande Revolução - a Revolução Francesa - e suas correlações com a primeira.


C. Revolução Francesa
A ação profunda do Humanismo e da Renascença entre os católicos não cessou de se dilatar numa crescente cadeia de conseqüências, em toda a França. Favorecida pelo enfraquecimento da piedade dos fiéis - ocasionado pelo jansenismo e pelos outros fermentos que o protestantismo do século XVI desgraçadamente deixara no Reino Cristianíssimo - tal ação teve por efeito no século XVIII uma dissolução quase geral dos costumes, um modo frívolo e brilhante de considerar as coisas, um endeusamento da vida terrena, que preparou o campo para a vitória gradual da irreligião. Dúvidas em relação à Igreja, negação da divindade de Cristo, deísmo, ateísmo incipiente foram as etapas dessa apostasia.
Profundamente afim com o protestantismo, herdeira dele e do neopaganismo renascentista, a Revolução Francesa realizou uma obra de todo em todo simétrica à da Pseudo-Reforma. A Igreja Constitucional que ela, antes de naufragar no deísmo e no ateísmo, tentou fundar, era uma adaptação da Igreja da França ao espírito do protestantismo. E a obra política da Revolução Francesa não foi senão a transposição, para o âmbito do Estado, da “reforma” que as seitas protestantes mais radicais adotaram em matéria de organização eclesiástica:

- Revolta contra o Rei, simétrica à revolta contra o Papa;

- Revolta da plebe contra os nobres, simétrica à revolta da “plebe” eclesiástica, isto é, dos fiéis, contra a “aristocracia” da Igreja, isto é, o Clero;

- Afirmação da soberania popular, simétrica ao governo de certas seitas, em medida maior ou menor, pelos fiéis.

Até o próximo artigo!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte III

Dando continuidade ao Capítulo III da Parte I, neste artigo vou citar cada momento da História onde a crise começou a se manifestar de modo mais proeminente, começando pela Idade Média. 

Antes, gostaria de poder desmistificar um pouco este período que foi chamado de Idade das Trevas - o que não é verdade - e já tem sido refutado por grandes personalidades, como Jacques Heers, diretor do Departamento de Estudos Medievais da Universidade de Paris-Sorbonne IV,  em sua obra “Le Moyen Age, une Imposture - Vérités et Légendes” , Perrin, Paris, 1993, que disse tratar-se de "uma legenda urdida a partir do século XVIII e sabiamente orquestrada pelos revolucionários franceses de 1789, pelos bonzos da História e, sobretudo pelos mestres do ensino público” ; pelo Prof  Rodney Stark, “A Vitória da Razão”, Random House, New York, 2005, onde ele diz que "nos últimos anos estes pontos de vista ficaram tão completamente desacreditados que até alguns dicionários e enciclopédias começaram a se referir à noção de "Era das Trevas" como sendo um mito" e que "a Era das Trevas é um boato espalhado por intelectuais anti-religiosos, amarguradamente anti-católicos do século XVIII que estavam decididos a afirmar a superioridade cultural do seu próprio tempo, e que engrossavam sua pretensão denegrindo os séculos passados como — nas palavras de Voltaire — uma época em que a "barbárie, a superstição e a ignorância cobriram a face do mundo.", entre outros.
 
Claramente se vê a desonestidade daqueles revoltosos, pois na realidade foi exatamente neste período em que houve o apogeu da Cristandade, sob o influxo de todas as energias naturais e sobrenaturais entesouradas nas nações cristãs.

Em seu livro “A Cruzada do século XX”, Plínio Correa de Oliveira nos conta que foi na Idade Média que houve "o conhecimento profundo da ordem natural das coisas;[...]"; que foi neste período que "Nasceram os reinos, e as estirpes fidalgas, os costumes corteses, e as leis justas, as corporações e a cavalaria, a escolástica e as universidades, o estilo gótico e o canto dos menestréis, por exemplo."; que os homens desta época lutavam pela realização do ideal da Civilização Cristã e "daí uma consonância profunda de todas as instituições, de todos os costumes, de todas as tradições nascidas nessa época."

Além disso, sabe-se também que na Idade Média, o povo legislava mediante leis consuetudinárias, isto é, leis codificadas dos costumes que todas as categorias sociais elaboravam. Nem o rei, nem o nobre, nem os eclesiásticos podiam ir contra o costume, desde que não violasse a Lei de Deus e os demais costumes já existentes. A família era uma instituição sólida, organizada e tinha uma grande influência no meio: era ela que dominava a vida pública e não o inverso, como hoje. E, ao contrário do que se diz, a mulher da Idade Média era valorizada e respeitada. Frequentava universidades, desempenhavam notável papel na Igreja medieval. Muitas mártires cristãs, como Santa Agnes e Santa Cecília, surgiram na Idade Média. "Verdade é que a jovem era dada em casamento pelos pais sem que tivesse livre escolha do seu futuro consorte. Todavia, observe-se que também o rapaz era assim tratado; por conseguinte, homens e mulheres eram sujeitos ao mesmo regime.", conforme relata Régine Pernoud, em “Idade Média ‒ o que não nos ensinaram”.

Todos estes dados poderão ser conferidos no blog:  http://gloriadaidademedia.blogspot.com/

Desfeitos estes mitos, voltemos ao livro "Revolução e Contra-Revolução" de que estou tratando.


Parte I

Capítulo III
Caracteres dessa Crise
 A. Decadência da Idade Média
Já esboçamos na Introdução os grandes traços deste processo. É oportuno acrescentar aqui alguns pormenores.
No século XIV começa a observar-se, na Europa cristã, uma transformação de mentalidade que ao longo do século XV cresce cada vez mais em nitidez. O apetite dos prazeres terrenos se vai transformando em ânsia. As diversões se vão tornando mais freqüentes e mais suntuosas. Os homens se preocupam sempre mais com elas. Nos trajes, nas maneiras, na linguagem, na literatura e na arte o anelo crescente por uma vida cheia de deleites da fantasia e dos sentidos vai produzindo progressivas manifestações de sensualidade e moleza. Há um paulatino deperecimento da seriedade e da austeridade dos antigos tempos. Tudo tende ao risonho, ao gracioso, ao festivo. Os corações se desprendem gradualmente do amor ao sacrifício, da verdadeira devoção à Cruz, e das aspirações de santidade e vida eterna. A Cavalaria, outrora uma das mais altas expressões da austeridade cristã se torna amorosa e sentimental, a literatura de amor invade todos os países, os excessos do luxo e a conseqüente avidez de lucros se estendem por todas as classes sociais.
Tal clima moral, penetrando nas esferas intelectuais, produziu claras manifestações de orgulho, como o gosto pelas disputas aparatosas e vazias, pelas argúcias inconsistentes, pelas exibições fátuas de erudição, e lisonjeou velhas tendências filosóficas, das quais triunfara a Escolástica, e que já agora, relaxado o antigo zelo pela integridade da Fé, renasciam em aspectos novos. O absolutismo dos legistas, que se engalanavam com um conhecimento vaidoso do Direito Romano, encontrou em Príncipes ambiciosos um eco favorável. E “pari passu” foi-se extinguindo nos grandes e nos pequenos a fibra de outrora para conter o poder real nos legítimos limites vigentes nos dias de São Luís de França e São Fernando de Castela.

No próximo artigo, será abordado o tema "Contra-Reforma e Renascença". Até lá!

domingo, 15 de janeiro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte II

Como disse no artigo anterior, o livro do D. Plínio Corrêa de Oliveira, REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO quer tratar é sobre  os contornos da imensa avalancha que é a Revolução, dar-lhe o nome adequado, indicar muito sucintamente suas causas profundas, os agentes que a promovem, os elementos essenciais de sua doutrina, a importância respectiva dos vários terrenos em que ela age, o vigor de seu dinamismo, o “mecanismo” de sua expansão. Simetricamente, tratar depois de pontos análogos referentes à Contra-Revolução, e estudar algumas das suas condições de vitória.
Então vamos lá!



Parte I

Capítulo I
Crise do Homem Contemporâneo

As muitas crises que abalam o mundo hodierno - do Estado, da família, da economia, da cultura, etc. - não constituem senão múltiplos aspectos de uma só crise fundamental, que tem como campo de ação o próprio homem. Em outros termos, essas crises têm sua raiz nos problemas de alma mais profundos, de onde se estendem para todos os aspectos da personalidade do homem contemporâneo e todas as suas atividades.

Parte I

Capítulo II
Crise do Homem Ocidental e Cristão

Essa crise é principalmente a do homem ocidental e cristão, isto é, do europeu e de seus descendentes, o americano e o australiano. E é enquanto tal que mais particularmente a estudaremos. Ela afeta também os outros povos, na medida em que a estes se estende e neles criou raiz o mundo ocidental. Nesses povos tal crise se complica com os problemas próprios às respectivas culturas e civilizações e ao choque entre estas e os elementos positivos ou negativos da cultura e da civilização ocidentais.
Aqui quero intervir com algo que agora me veio à lembrança, quando no Capítulo I, diz que a crise tem como campo de ação o próprio homem. Mikhail Bakunin, um anarquista russo e companheiro de Marx na Primeira internacional, que tinha um programa completo de revolução, disse que “Nesta revolução, devemos despertar o demônio no povo a fim de estimular as suas paixões mais inferiores”. Ora, se o demônio foi incapaz de trazer abaixo o trono de Deus, nada mais natural que ele insista em exterminar com Sua grande e mais amada criação: o homem - principalmente o homem cristão!


Seguindo a leitura:

Parte I

Capítulo III
Caracteres dessa Crise

Por mais profundos que sejam os fatores de diversificação dessa crise nos vários países hodiernos, ela conserva, sempre, cinco caracteres capitais:
1. É UNIVERSAL
Essa crise é universal. Não há hoje povo que não esteja atingido por ela, em grau maior ou menor.
2. É UNA
Essa crise é una. Isto é, não se trata de um conjunto de crises que se desenvolvem paralela e autonomamente em cada país, ligadas entre si por algumas analogias mais ou menos relevantes.
Quando ocorre um incêndio numa floresta, não é possível considerar o fenômeno como se fosse mil incêndios autônomos e paralelos, de mil árvores vizinhas umas das outras. A unidade do fenômeno “combustão”, exercendo-se sobre a unidade viva que é a floresta, e a circunstância de que a grande força de expansão das chamas resulta de um calor no qual se fundem e se multiplicam as incontáveis chamas das diversas árvores, tudo, enfim, contribui para que o incêndio da floresta seja um fato único, englobando numa realidade total os mil incêndios parciais, por mais diferentes, aliás, que cada um destes seja em seus acidentes.
A Cristandade ocidental constituiu um só todo, que transcendia os vários países cristãos, sem os absorver. Nessa unidade viva se operou uma crise que acabou por atingi-la toda inteira, pelo calor somado e, mais do que isto, fundido, das sempre mais numerosas crises locais que há séculos se vêm interpenetrando e entreajudando ininterruptamente. Em conseqüência, a Cristandade, enquanto família de Estados oficialmente católicos, de há muito cessou de existir. Dela restam como vestígios os povos ocidentais e cristãos. E todos se encontram presentemente em agonia, sob a ação deste mesmo mal.
3. É TOTAL
Considerada em um dado país, essa crise se desenvolve numa zona de problemas tão profunda, que ela se prolonga ou se desdobra, pela própria ordem das coisas, em todas as potências da alma, em todos os campos da cultura, em todos os domínios, enfim, da ação do homem.
4. É DOMINANTE
Encarados superficialmente, os acontecimentos dos nossos dias parecem um emaranhado caótico e inextricável, e de fato o são de muitos pontos de vista.
Entretanto, podem-se discernir resultantes, profundamente coerentes e vigorosas, da conjunção de tantas forças desvairadas, desde que estas sejam consideradas do ângulo da grande crise de que tratamos.
Com efeito, ao impulso dessas forças em delírio, as nações ocidentais vão sendo gradualmente impelidas para um estado de coisas que se vai delineando igual em todas elas, e diametralmente oposto à civilização cristã.
De onde se vê que essa crise é como uma rainha a que todas as forças do caos servem como instrumentos eficientes e dóceis.
5. É PROCESSIVA
Essa crise não é um fato espetacular e isolado. Ela constitui, pelo contrário, um processo crítico já cinco vezes secular, um longo sistema de causas e efeitos que, tendo nascido, em momento dado, com grande intensidade, nas zonas mais profundas da alma e da cultura do homem ocidental, vem produzindo, desde o século XV até nossos dias, sucessivas convulsões. A este processo bem se podem aplicar as palavras de Pio XII a respeito de um sutil e misterioso “inimigo” da Igreja: “Ele se encontra em todo lugar e no meio de todos: sabe ser violento e astuto. Nestes últimos séculos tentou realizar a desagregação intelectual, moral, social, da unidade no organismo misterioso de Cristo. Ele quis a natureza sem a graça, a razão sem a fé; a liberdade sem a autoridade; às vezes a autoridade sem a liberdade. É um “inimigo” que se tornou cada vez mais concreto, com uma ausência de escrúpulos que ainda surpreende: Cristo sim, a Igreja não! Depois: Deus sim, Cristo não! Finalmente o grito ímpio: Deus está morto; e, até, Deus jamais existiu. E eis, agora, a tentativa de edificar a estrutura do mundo sobre bases que não hesitamos em indicar como principais responsáveis pela ameaça que pesa sobre a humanidade: uma economia sem Deus, um Direito sem Deus, uma política sem Deus”[1]

[1] Alocução à União dos Homens da A. C. Italiana, de 12-X-1952 – “Discorsi e Radiomessaggi”, vol. XIV, p. 359.
Este processo não deve ser visto como uma seqüência toda fortuita de causas e efeitos, que se foram sucedendo de modo inesperado. Já em seu início possuía esta crise as energias necessárias para reduzir a atos todas as suas potencialidades, que em nossos dias conserva bastante vivas para causar por meio de supremas convulsões as destruições últimas que são seu termo lógico.
Influenciada e condicionada em sentidos diversos, por fatores extrínsecos de toda ordem - culturais, sociais, econômicos, étnicos, geográficos e outros - e seguindo por vezes caminhos bem sinuosos, vai ela no entanto progredindo incessantemente para seu trágico fim.

Para não ficar muito longo para os leitores, dividirei o Capítulo III em duas partes. No próximo artigo, serão abordados os diversos caracteres desta crise, ao longo da História, desde a decadência da Idade Média.

Até lá!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução"

REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO é uma obra do Sr. Plínio Corrêa de Oliveira, que causou uma "magnífica impressão" ao Mons. Romolo Carboni, Núncio Apostólico no Peru, posteriormente Núncio junto ao governo italiano; uma "obra profética", palavras ditas pelo Pe. Anastasio Gutierrez, CMF, Decano emérito da Facul. de Direito Canônico da Univ. de Latrão, membro da Comissão de Reforma do Direito Canônico, reputado canonista em Roma; "uma edição atualizada da grandiosa obra de Sto. Agostinho 'De Civitate Dei'", dito pelo Pe. César Dainese SJ, Superior da Residência dos Padres Jesuítas de Pinheiral, RJ; que "tem um porte de uma Encíclica", impressão que teve o Prof. Fernando Serrano Misas, Catedrático da Facul. de Direito e diretor da revista 'Cristianidad', Espanha; e que é também "o mais importante documento jamais escrito, excetuada a Bíblia", dito por John Steinbacher, editor e escritor, EUA.
Diante de tantos elogios, é inevitável que nos cause uma grande curiosidade a leitura desta obra. Foi o que fiz!
Li toda a obra e passei estes últimos dias, tentando imaginar uma forma de levar ao conhecimento de todos, dada a sua importante mensagem - mais atual que nunca para os nossos dias tão sedentos de respostas. 
Daí eu ter decidido escrever neste Blog, no qual transcreverei textos do livro em vários e pequenos artigos para poder dar destaque às partes mais importantes (tarefa difícil, pois cada linha, cada palavra é imprescindível para um bom entendimento desta obra e, por isso, algumas vezes certos trechos serão colocados na íntegra), mas, sobretudo, inserindo ilustrações, a fim de torná-la mais atrativa aos que não têm paciência de ler.
Nada complicado de entender, dado o fato de a leitura ser simples, absorvente e didática. 
O livro é dividido em Primeira Parte - fala do que é a Revolução e seus contornos, causas, doutrina, etc - e divide-se Introdução e em Capítulos de I a XII; Segunda Parte - que fala da Contra-Revolução, uma forma de combater a Revolução hodierna, ou a Reação - que também divide-se em Capítulos de I a XII; e Terceira Parte, com Capítulos de I a III e suas sub-divisões, Conclusão e Pósfácio.
O motivo principal de eu querer divulgar o livro é por ver muitas pessoas usarem o termo "revolução" como algo que traria "mudança" a uma ordem vigente - da qual não se agradam - e, com isso, implantar-se-ia uma nova ordem, ao gosto da, digamos, maioria queixosa ou descontente. Pois o termo para isso está errado! Vejamos:
Tenho percebido muita gente refutar o comunismo, o socialismo, o liberalismo, o liturgicismo, enfim, mas não se dão conta de que, no fundo, estão a querer combater o que esta obra chama de "denominador comum".

O que é esse denominador comum? Uma doutrina? Uma força? Uma corrente de opinião?

O estudo da Revolução e da Contra-Revolução excede de muito, em proveito, este objetivo limitado.
Para demonstrá-lo, basta lançar os olhos sobre o panorama religioso de nosso País. Estatisticamente, a situação dos católicos é excelente: segundo os últimos dados oficiais constituímos 94%[2] da população. Se todos os católicos fôssemos o que devemos ser, o Brasil seria hoje uma das mais admiráveis potências católicas nascidas ao longo dos vinte séculos de vida da Igreja.

[2] NOTA DO SITE: Dados de 1959. Atualmente o número de católicos no Brasil é de 74%, embora reduzido ainda é o maior país de população católica do mundo.

Por que, então, estamos tão longe deste ideal? Quem poderia afirmar que a causa principal de nossa presente situação é o espiritismo, o protestantismo, o ateísmo, ou o comunismo? Não. Ela é outra, impalpável, sutil, penetrante como se fosse uma poderosa e temível radioatividade. Todos lhe sentem os efeitos, mas poucos saberiam dizer-lhe o nome e a essência.

Este inimigo terrível tem um nome: ele se chama Revolução. Sua causa profunda é uma explosão de orgulho e sensualidade que inspirou, não diríamos um sistema, mas toda uma cadeia de sistemas ideológicos. Da larga aceitação dada a estes no mundo inteiro, decorreram as três grandes revoluções da História do Ocidente: a Pseudo-Reforma, a Revolução Francesa e o Comunismo [3].
[3] cfr. Leão XIII, Encíclica “Parvenus à la Vingt-Cinquième Année”, de 19-III-1902 – “Bonne Presse”, Paris, vol. VI, p. 279).

 O orgulho leva ao ódio a toda superioridade, e, pois, à afirmação de que a desigualdade é em si mesma, em todos os planos, inclusive e principalmente nos planos metafísico e religioso, um mal. É o aspecto igualitário da Revolução.
A sensualidade, de si, tende a derrubar todas as barreiras. Ela não aceita freios e leva à revolta contra toda autoridade e toda lei, seja divina ou humana, eclesiástica ou civil. É o aspecto liberal da Revolução.
Ambos os aspectos, que têm em última análise um caráter metafísico, parecem contraditórios em muitas ocasiões, mas se conciliam na utopia marxista de uma paraíso anárquico em que uma humanidade altamente evoluída e “emancipada” de qualquer religião vivesse em ordem profunda sem autoridade política, e em uma liberdade total da qual entretanto não decorresse qualquer desigualdade.

A Pseudo-Reforma foi uma primeira Revolução. Ela implantou o espírito de dúvida, o liberalismo religioso e o igualitarismo eclesiástico, em medida variável aliás nas várias seitas a que deu origem.

Lutero na dieta de Worms

 Seguiu-se-lhe a Revolução Francesa, que foi o triunfo do igualitarismo em dois campos. No campo religioso, sob a forma do ateísmo, especiosamente rotulado de laicismo. E na esfera política, pela falsa máxima de que toda a desigualdade é uma injustiça, toda autoridade um perigo, e a liberdade o bem supremo.

Execução de Maria Antonieta

 O Comunismo é a transposição destas máximas para o campo social e econômico.
Lenin na URSS
 Estas três revoluções são episódios de uma só Revolução, dentro da qual o socialismo, o liturgicismo, a “politique de la main tendue”, etc., são etapas de transição ou manifestações atenuadas. Sobre os erros através dos quais se opera a penetração larvada do espírito da Revolução em ambientes católicos, o Exmo. Revmo. Sr. D. Antônio de Castro Mayer, Bispo de Campos, publicou uma Carta Pastoral da maior importância[4].
[4]Carta Pastoral sobre os Problemas do Apostolado Moderno - Boa Imprensa Ltda., Campos, 1953, 2ª. edição.

 Claro está que um processo de tanta profundidade, de tal envergadura e tão longa duração não pode desenvolver-se sem abranger todos os domínios da atividade do homem, como por exemplo a cultura, a arte, as leis, os costumes e as instituições.

 Aqui eu entro, para recordarmos de Antonio Gramsci, na sua obra sob o título "Cadernos do Cárcere" (escrita na década de 30 e concluída em 1975), na qual ele "professava que a implantação do comunismo não deve se dar pela força, como aconteceu na Rússia, mas de forma pacífica e sorrateira, infiltrando, lenta e gradualmente, a idéia revolucionária. A estratégia é utilizar-se de diplomas legais e de ações políticas que sejam docilmente aceitas pelo povo, entorpecendo consciências e massificando a sociedade com uma propaganda subliminar, imperceptível aos mais incautos que, a priori, representam a grande maioria da população, de modo que, entorpecidos pelo melífluo discurso gramsciano, as consciências já não possam mais perceber o engodo em que estão sendo envolvidas." (texto retirado do artigo "Gramsci e a Comunização do Brasil" de Anatoli Oliynik). "Gramsci priorizou a mudança das mentalidades pela derrubada dos valores tradicionais, para implantar os valores da ideologia comunista".
Mas, o que REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO quer tratar é sobre  os contornos da imensa avalancha que é a Revolução, dar-lhe o nome adequado, indicar muito sucintamente suas causas profundas, os agentes que a promovem, os elementos essenciais de sua doutrina, a importância respectiva dos vários terrenos em que ela age, o vigor de seu dinamismo, o “mecanismo” de sua expansão. Simetricamente, tratar depois de pontos análogos referentes à Contra-Revolução, e estudar algumas das suas condições de vitória.
Então vamos lá!

Parte I

Capítulo I
Crise do Homem Contemporâneo

As muitas crises que abalam o mundo hodierno - do Estado, da família, da economia, da cultura, etc. - não constituem senão múltiplos aspectos de uma só crise fundamental, que tem como campo de ação o próprio homem. Em outros termos, essas crises têm sua raiz nos problemas de alma mais profundos, de onde se estendem para todos os aspectos da personalidade do homem contemporâneo e todas as suas atividades.

Parte I

Capítulo II
Crise do Homem Ocidental e Cristão

Essa crise é principalmente a do homem ocidental e cristão, isto é, do europeu e de seus descendentes, o americano e o australiano. E é enquanto tal que mais particularmente a estudaremos. Ela afeta também os outros povos, na medida em que a estes se estende e neles criou raiz o mundo ocidental. Nesses povos tal crise se complica com os problemas próprios às respectivas culturas e civilizações e ao choque entre estas e os elementos positivos ou negativos da cultura e da civilização ocidentais.
O Capítulo III, por ser mais extenso e mais detalhado, deixarei para o próximo artigo! 
Fiquem atentos!!!