sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XX

Definido, no capítulo anterior, o que é um Contra-Revolucionário, passo a trancrever o Capítulo V, da Parte II, do livro "Revolução e Contra-Revolução", no qual o Prof. Dr. Plínio Correa de Oliveira nos ensina a TÁTICA a ser usada para combater a Revolução e o Capítulo VI, da parte II, do mesmo livro, no qual é descrito pelo autor os MEIOS DE AÇÃO Contra-Revolucionária. 
Creio serem estes, os mais importantes capítulos para quem quer, de fato, combater a desordem instalada no cenário atual.

Parte II

Capítulo V
A Tática da Contra-Revolução
 
A Tática da Contra-Revolução pode ser considerada em pessoas, grupos, ou correntes de opinião, em função de três tipos de mentalidade: o contra-revolucionário atual, o contra-revolucionário potencial e o revolucionário.
1. EM RELAÇÃO AO CONTRA-REVOLUCIONÁRIO ATUAL
O contra-revolucionário atual é menos raro do que nos parece à primeira vista. Possui ele uma clara visão das coisas, um amor fundamental à coerência e um ânimo forte. Por isto tem uma noção lúcida das desordens do mundo contemporâneo e das catástrofes que se acumulam no horizonte. Mas sua própria lucidez lhe faz perceber toda a extensão do isolamento em que tão freqüentemente se encontra, num caos que lhe parece sem solução. Então o contra-revolucionário, muitas vezes, se cala, abatido. Triste situação: “Vae soli”, diz a Escritura[1].
[1] Ecle. 4,10.
Uma ação contra-revolucionária deve ter em vista, antes de tudo, detectar esses elementos, fazer com que se conheçam, com que se apoiem uns aos outros para a profissão pública de suas convicções. Ela pode realizar-se de dois modos diversos:
A. Ação individual
Esta ação deve ser feita antes de tudo na escala individual. Nada mais eficiente que a tomada de posição contra-revolucionária franca e ufana de um jovem universitário, de um oficial, de um professor, de um Sacerdote sobretudo, de um aristocrata ou um operário influente em seu meio. A primeira reação que obterá será por vezes de indignação. Mas se perseverar por um tempo que será mais longo, ou menos, conforme as circunstâncias, verá, pouco a pouco, aparecerem companheiros.
B. Ação em conjunto
Esses contactos individuais tendem, naturalmente, a suscitar nos diversos ambientes vários contra-revolucionários que se unem numa família de almas cujas forças se multiplicam pelo próprio fato da união.
2. EM RELAÇÃO AO CONTRA-REVOLUCIONÁRIO POTENCIAL
Os contra-revolucionários devem apresentar a Revolução e a Contra Revolução em todos os seus aspectos, religioso, político, social, econômico, cultural, artístico, etc. Pois os contra-revolucionários potenciais as vêem em geral por alguma faceta particular apenas, e por esta podem e devem ser atraídos para a visão total de uma e de outra. Um contra-revolucionário que argumentasse apenas em um plano, o político, por exemplo, limitaria muito seu campo de atração, expondo sua ação à esterilidade, e, pois, à decadência e à morte.
3. EM RELAÇÃO AO REVOLUCIONÁRIO
A. A iniciativa contra-revolucionária
Em face da Revolução e da Contra-Revolução não há neutros. Pode haver, isto sim, não combatentes, cuja vontade ou cujas veleidades estão, porém, conscientemente ou não em um dos dois campos. Por revolucionários entendemos, pois, não só os partidários integrais e declarados da Revolução, como também os “semicontra-revolucionários”.
A Revolução tem progredido, como vimos, à custa de ocultar seu vulto total, seu espirito verdadeiro, seus fins últimos.
O meio mais eficiente de refutá-la junto aos revolucionários consiste em mostrá-la inteira, quer em seu espirito e nas grandes linhas de sua ação, quer em cada uma de suas manifestações ou manobras aparentemente inocentes e insignificantes. Arrancar-lhe, assim, os véus é desferi-lhe o mais duro dos golpes.
Por esta razão, o esforço contra-revolucionário deve entregar-se a esta tarefa com o maior empenho.
Secundariamente, é claro, os outros recursos de uma boa dialética são indispensáveis para o êxito de uma ação contra-revolucionária.
Com o “semicontra-revolucionário”, como aliás também com o revolucionário que tem “coágulos” contra-revolucionários, há certas possibilidades de colaboração, e esta colaboração cria um problema especial: até que ponto é ela prudente? A nosso ver, a luta contra a Revolução só se desenvolve convenientemente ligando entre si pessoas radical e inteiramente isentas do vírus desta. Que os grupos contra-revolucionários possam colaborar com elementos como os acima mencionados, em alguns objetivos concretos, facilmente se concebe. Mas, admitir uma colaboração onímoda e estável com pessoas infectadas de qualquer influência da Revolução é a mais flagrante das imprudências e a causa, talvez, da maior parte dos malogros contra-revolucionários.
B. A contra-ofensiva revolucionária
O revolucionário, em via de regra, é petulante, verboso e afeito à exibição, quando não tem adversários diante de si, ou os tem fracos. Contudo, se encontra quem o enfrente com ufania e arrojo, ele se cala e organiza a campanha de silêncio. Um silêncio em meio ao qual se percebe o discreto zumbir da calúnia, ou algum murmúrio contra o “excesso de lógica” do adversário, sim. Mas um silêncio confuso e envergonhado que jamais é entrecortado por alguma réplica de valor. Diante desse silêncio de confusão e derrota, poderíamos dizer ao contra-revolucionário vitorioso as palavras espirituosas escritas por Veuillot em outra ocasião: “Interrogai o silêncio, e ele nada vos responderá[2].
[2] Oeuvres Complètes, P. Lethielleux Librairie-Editeur, Paris, vol. XXXIII, p. 349.
4. ELITES E MASSAS NA TÁTICA CONTRA-REVOLUCIONÁRIA
A Contra-Revolução deve procurar, quanto possível, conquistar as multidões. Entretanto, não deve fazer disso, no plano imediato, seu objetivo principal, e um contra-revolucionário não tem razão para desanimar pelo fato de que a grande maioria dos homens não está atualmente de seu lado. Um estudo exato da Historia nos mostra, com efeito, que não foram as massas que fizeram a Revolução. Elas se moveram num sentido revolucionário porque tiveram atrás de si elites revolucionárias. Se tivessem tido atrás de si elites de orientação oposta, provavelmente se teriam movido num sentido contrário. O fator massa, segundo mostra a visão objetiva da História, é secundário; o principal é a formação das elites. Ora, para essa formação, o contra-revolucionário pode estar sempre aparelhado com os recursos de sua ação individual, e pode pois obter bons frutos, apesar da carência de meios materiais e técnicos com que, às vezes, tenha que lutar.
 
Parte II

Capítulo VI
Os meios de ação da Contra-Revolução
 
1. TENDER PARA OS GRANDES MEIOS DE AÇÃO
Em principio, é claro, a ação contra-revolucionária merece ter à sua disposição os melhores meios de televisão, rádio, imprensa de grande porte, propaganda racional, eficiente e brilhante. O verdadeiro contra-revolucionário deve tender sempre à utilização de tais meios, vencendo o estado de espírito derrotista de alguns de seus companheiros que, de antemão, abandonam a esperança de dispor deles porque os vêm sempre na posse dos filhos das trevas.
Entretanto, devemos reconhecer que, in concreto, a ação contra-revolucionária terá de se realizar muitas vezes sem esses recursos.
2. UTILIZAR TAMBÉM OS MEIOS MODESTOS: SUA EFICÁCIA
Ainda assim, e com meios dos mais modestos, poderá ela alcançar resultados muito apreciáveis, se tais meios forem utilizados com retidão de espírito e inteligência. Como vimos, é concebível uma ação contra-revolucionária reduzida à mera atuação individual. Mas não se pode concebê-la sem esta última. A qual, por sua vez, desde que bem feita, abre as portas para todos os progressos.
Os pequenos jornais de inspiração contra-revolucionária, quando de bom nível, têm uma eficácia surpreendente, principalmente para a tarefa primordial de fazer com que os contra-revolucionários se conheçam.
Tão ou mais eficientes podem ser o livro, a tribuna e a cátedra, a serviço da Contra-Revolução.

Até o próximo Capítulo, no qual o autor adverte sobre alguns obstáculos que a Contra-Revolução poderá encontrar. Até lá!

domingo, 2 de dezembro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XIX

Neste artigo, transcreverei o Capítulo IV, da Parte II, do livro "Revolução e Contra-Revolução", onde Dr. Plínio Corrêa de Oliveira define o que é um contra-revolucionário e, também, estabelece a diferença entre este e o "semicontra-revolucionário" - que é um filho da Revolução - como explicitou muito bem, anteriormente, no Capítulo IX da parte I, deste mesmo livro. Ou seja: segundo o autor, na alma do semicontra-revolucionário começa a vacilar o ídolo da Revolução, pois embora possa viver em meio fortemente tradicionalista e moralizado, tem o espírito marcado pela mesma. Assim que um autêntico contra-revolucionário só poderá ser total! Vejamos, então, o que é um contra-revolucionário:

Parte II

Capitulo IV
O que é um contra-revolucionário?
Pode-se responder à pergunta em epígrafe de duas maneiras:

1. EM ESTADO ATUAL

Em estado atual, contra-revolucionário é quem:

- Conhece a Revolução, a ordem e a Contra-Revolução em seu espírito, suas doutrinas, seus métodos respectivos.
- Ama a Contra-Revolução e a ordem cristã, odeia a Revolução e a “anti-ordem”.
- Faz desse amor e desse ódio o eixo em torno do qual gravitam todos os seus ideais, preferências e atividades.
Claro está que essa atitude de alma não exige instrução superior. Assim como Santa Joana D Arc não era teólogo mas surpreendeu seus juizes pela profundidade teológica de seus pensamentos, assim os melhores soldados da Contra-Revolução, animados por uma admirável compreensão do seu espírito e dos seus objetivos, têm sido muitas vezes simples camponeses, da Navarra, por exemplo, da Vendéa ou do Tirol.
2. EM ESTADO POTENCIAL

Em estado potencial, contra-revolucionários são os que têm uma ou outra das opiniões e dos modos de sentir dos revolucionários, por inadvertência ou qualquer outra razão ocasional, e sem que o próprio fundo de sua personalidade esteja afetado pelo espirito da Revolução. Alertadas, esclarecidas, orientadas, essas pessoas adotam facilmente uma posição contra-revolucionária. E nisto se distinguem dos “semicontra-revolucionários” de que atrás falávamos[1].
[1] Parte I - Cap. IX.

Interessante observar que aqui se faz mais nítida a distinção entre os semicontra-revolucionários e o autêntico contra-revolucionário: este "Ama a Contra-Revolução e a ordem cristã, odeia a Revolução e a “anti-ordem”, como disse o Dr. Plínio. Mas estes ainda são poucos, hoje em dia. Não obstante, os semicontra-revolucionários até conservam - em um ou muitos pontos - uma atitude contra-revolucionária, porém se encontram impregnados pela Revolução, mormente, pela tática gramscista da mesma, como já falei anteriormente. São ainda a grande maioria!

No próximo artigo será abordada a tática da Contra-Revolução. Até lá!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XVIII

Neste artigo transcreverei o Capítulo III, da Parte II, da magna obra do Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, "Revolução e Contra-Revolução", no qual ele define como deverá ser a Ordem nascida da Contra-Revolução - que deverá refulgir ainda mais do que a da Idade Média -, a missão de defender os valores ainda vivos do passado e a concepção contra-revolucionária do progresso.

Parte II

Capitulo III
A Contra-Revolução e o prurido de novidades
A tendência de tantos de nossos contemporâneos, filhos da Revolução, de amar sem restrições o presente, adorar o futuro e votar incondicionalmente o passado ao desprezo e ao ódio, suscita a respeito da Contra-Revolução um conjunto de incompreensões que importa fazer cessar. Sobretudo, afigura-se a muitas pessoas que o caráter tradicionalista e conservador desta última faz dela uma adversaria nata do progresso humano.
1. A CONTRA-REVOLUÇÃO É TRADICIONALISTA
A. Razão
A Contra-Revolução, como vimos, é um esforço que se desenvolve em função de uma Revolução. Esta se volta constantemente contra todo um legado de instituições, de doutrinas, de costumes, de modos de ver, sentir e pensar cristãos que recebemos de nossos maiores, e que ainda não estão completamente abolidos. A Contra-Revolução é, pois, a defensora das tradições cristãs.
B. A mecha que ainda fumega
A Revolução ataca a civilização cristã mais ou menos como certa árvore da floresta brasileira, a figueira brava (Urostigma olearia), que, crescendo no tronco de outra, a envolve completamente e a mata. Em suas correntes “moderadas” e de velocidade lenta, acercou-se a Revolução da civilização cristã para envolvê-la de todo e matá-la. Estamos num período em que esse estranho fenômeno de destruição ainda não se completou, isto é, numa situação híbrida em que aquilo a que quase chamaríamos restos mortais da civilização cristã, somado ao perfume e à ação remota de muitas tradições, só recentemente abolidas, mas que ainda têm alguma coisa de vivo na memória dos homens, coexiste com muitas instituições e costumes revolucionários.
Em face dessa luta entre uma esplendida tradição cristã em que ainda palpita a vida, e uma ação revolucionária inspirada pela mania de novidades a que se referia Leão XIII, nas palavras iniciais da Encíclica Rerum Novarum, é natural que o verdadeiro contra-revolucionário seja o defensor nato do tesouro das boas tradições, porque elas são os valores do passado cristão ainda existentes e que se trata exatamente de salvar. Nesse sentido, o contra-revolucionário atua como Nosso Senhor, que não veio apagar a mecha que ainda fumega, nem romper o arbusto partido[1]. Deve ele, portanto, procurar salvar amorosamente todas essas tradições cristãs. Uma ação contra-revolucionária é, essencialmente, uma ação tradicionalista.
[1] Cfr. Mt. 12,20.
C. Falso tradicionalismo
O espirito tradicionalista da Contra-Revolução nada tem de comum com um falso e estreito tradicionalismo que conserva certos ritos, estilos ou costumes por mero amor às formas antigas e sem qualquer apreço pela doutrina que os gerou. Isto seria arqueologismo, não sadio e vivo tradicionalismo.
2. A CONTRA-REVOLUÇÃO É CONSERVADORA
A Contra-Revolução é conservadora? Em um sentido, sim, e profundamente. E em outro sentido, não, também profundamente.
Se se trata de conservar, do presente, algo que é bom e merece viver, a Contra-Revolução é conservadora.
Mas se se trata de perpetuar a situação híbrida em que nos encontramos, de sustar o processo revolucionário nesta etapa, mantendo-nos imóveis como uma estátua de sal, à margem do caminho da História e do Tempo, abraçados ao que há de bom e de mau em nosso século, procurando assim uma coexistência perpétua e harmônica do bem e do mal, a Contra-Revolução não é nem pode ser conservadora.
3. A CONTRA-REVOLUÇÃO É CONDIÇÃO ESSENCIAL DO VERDADEIRO PROGRESSO
A Contra-Revolução é progressista? Sim, se o progresso for autêntico. E não, se for a marcha para a realização da utopia revolucionaria.
Em seu aspecto material, consiste o verdadeiro progresso no reto aproveitamento das forças da natureza, segundo a Lei de Deus e a serviço do homem. Por isso, a Contra-Revolução não pactua com o tecnicismo hipertrofiado de hoje, com a adoração das novidades, das velocidades e das máquinas, nem com a deplorável tendência a organizar more mechanico a sociedade humana. Estes são excessos que Pio XII condenou com profundidade e precisão[2].
[1] Cfr. Radiomensagem de Natal de 1957 – Discorsi e Radiomessaggi, vol. XIX, p. 670.
E nem é o progresso material de um povo o elemento capital do progresso cristãmente entendido. Consiste este, sobretudo, no pleno desenvolvimento de todas as suas potências de alma, e na ascensão dos homens rumo à perfeição moral. Uma concepção contra-revolucionária do progresso importa, pois, na prevalência dos aspectos espirituais deste sobre os aspectos materiais. Em conseqüência, é próprio à Contra-Revolução promover, entre os indivíduos e as multidões, um apreço muito maior por tudo quanto diz respeito à Religião verdadeira, à verdadeira filosofia, à verdadeira arte e à verdadeira literatura, do que pelo que se relaciona com o bem do corpo e o aproveitamento da matéria.
Por fim, para demarcar a diferença entre os conceitos revolucionário e contra-revolucionário de progresso, importa notar que o último toma em consideração que este mundo será sempre um vale de lágrimas e uma passagem para o Céu, ao passo que para o primeiro o progresso deve fazer da terra um paraíso no qual o homem viva feliz, sem cogitar da eternidade.
Pela própria noção de reto progresso, vê-se que este tem por contrário o progresso da Revolução.
Assim, a Contra-Revolução é condição essencial para que seja preservado o desenvolvimento normal do verdadeiro progresso, e derrotada a utopia revolucionaria, que de progresso só tem aparências falaciosas.

Aguardem os próximos artigos!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XVII

Tendo encerrado no último artigo a publicação da Parte I - "A Revolução" - do livro do Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, "Revolução e Contra-Revolução", passo agora, no presente artigo, a reproduzir, a Parte II – "A Contra-Revolução".

Na Primeira Parte, Dr. Plínio denominou Revolução o processo já cinco vezes secular que vem destruindo a Cristandade, desde o declínio da Idade Média, época em que o ideal católico de sociedade mais se aproximou de sua realização. Na Segunda Parte, o autor falará sobre a Contra-Revolução, a qual entende como sendo a reação organizada que se opõe à Revolução e que visa restaurar a Cristandade.

No presente artigo, irei postar os Capítulos I e II, da Segunda Parte do livro "Revolução e Contra-Revolução".


Parte II

Capítulo I
Contra-Revolução é Reação


1. A CONTRA-REVOLUÇÃO, LUTA ESPECÍFICA E DIRETA CONTRA A REVOLUÇÃO
Se tal é a Revolução, a Contra-Revolução é, no sentido literal da palavra, despido das conexões ilegítimas e mais ou menos demagógicas que a ela se juntaram na linguagem corrente, uma “re-ação”. Isto é, uma ação que é dirigida contra outra ação. Ela está para a Revolução como, por exemplo, a Contra-Reforma está para a Pseudo-Reforma.
2. NOBREZA DESSA REAÇÃO
E deste caráter de reação vem à Contra-Revolução sua nobreza e sua importância. Com efeito, se é a Revolução que nos vai matando, nada é mais indispensável do que uma reação que vise esmagá-la. Ser infenso, em princípio, a uma reação contra-revolucionária é o mesmo que querer entregar o mundo ao domínio da Revolução.
3. REAÇÃO VOLTADA TAMBÉM CONTRA OS ADVERSÁRIOS DE HOJE
Importa acrescentar que a Contra Revolução, assim vista, não é nem pode ser um movimento nas nuvens, que combata fantasmas. Ela tem de ser a Contra-Revolução do século XX, feita contra a Revolução como hoje em concreto esta existe e, pois, contra as paixões revolucionárias como hoje crepitam, contra as idéias revolucionárias como hoje se formulam, os ambientes revolucionários como hoje se apresentam, a arte e a cultura revolucionárias como hoje são, as correntes e os homens que, em qualquer nível, são atualmente os fautores mais ativos da Revolução. A Contra-Revolução não é, pois, um mero retrospecto dos malefícios da Revolução no passado, mas um esforço para lhe cortar o caminho no presente.
4. MODERNIDADE E INTEGRIDADE DA CONTRA-REVOLUÇÃO
A modernidade da Contra-Revolução não consiste em fechar os olhos nem em pactuar, ainda que em proporções insignificantes, com a Revolução. Pelo contrario, consiste em conhecê-la em sua essência invariável e em seus tão relevantes acidentes contemporâneos, combatendo-a nestes e naquela, inteligentemente, argutamente, planejadamente, com todos os meios lícitos, e utilizando o concurso de todos os filhos da luz.

Parte II

Capítulo II
Reação e imobilismo histórico
 
 
1. O QUE RESTAURAR

Se a Revolução é a desordem, a Contra-Revolução é a restauração da ordem. E por ordem entendemos a paz de Cristo no reino de Cristo. Ou seja, a civilização cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, antiigualitária e antiliberal.

2. O QUE INOVAR

Entretanto, por força da lei histórica segundo a qual o imobilismo não existe nas coisas terrenas, a ordem nascida da Contra-Revolução deverá ter características próprias que a diversifiquem da ordem existente antes da Revolução. Claro está que esta afirmação não se refere aos princípios, mas aos acidentes. Acidentes, entretanto, de tal importância, que merecem ser mencionados.

Na impossibilidade de nos estendermos sobre este assunto, digamos simplesmente que, em geral, quando num organismo se opera uma fratura ou dilaceração, a zona de soldadura ou recomposição apresenta dispositivos de proteção especiais. É, pelas causas segundas, o desvelo amoroso da Providência contra a eventualidade de novo desastre. Observa-se isto com os ossos fraturados, cuja soldadura se constitui à maneira de reforço na própria zona de fratura, ou com os tecidos cicatrizados. Esta é uma imagem material de fato análogo que se passa na ordem espiritual. O pecador que verdadeiramente se emenda tem ao pecado, em via de regra, horror maior do que teve nos melhores anos anteriores à queda. É a historia dos Santos penitentes. Assim também, depois de cada prova, a Igreja emerge particularmente armada contra o mal que procurou prostrá-La. Exemplo típico disto é a Contra-Reforma.

Em virtude dessa lei, a ordem nascida da Contra-Revolução deverá refulgir, mais ainda do que a da Idade Media, nos três pontos capitais em que esta foi vulnerada pela Revolução:

* Um profundo respeito dos direitos da Igreja e do Papado e uma sacralização, em toda a extensão do possível, dos valores da vida temporal, tudo por oposição ao laicismo, ao interconfessionalismo, ao ateísmo e ao panteísmo, bem como a suas respectivas seqüelas.
* Um espirito de hierarquia, marcando todos os aspectos da sociedade e do Estado, da cultura e da vida, por oposição à metafísica igualitária da Revolução.
* Uma diligência no detectar e no combater o mal em suas formas embrionárias ou veladas, em fulminá-lo com execração e nota de infâmia, e em puni-lo com inquebrantável firmeza em todas as suas manifestações, e particularmente nas que atentarem contra a ortodoxia e a pureza dos costumes, tudo por oposição à metafísica liberal da Revolução e à tendência desta a dar livre curso e proteção ao mal.

 Até o próximo artigo, com os demais Capítulos da Segunda Parte.

domingo, 4 de novembro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XVI

No presente artigo apresentarei os Cap. XI e XII, da parte I, do livro "Revolução e Contra-Revolução", do Dr. Plínio de Oliveira. Nos itens 1 e 2, do capitulo XI, ele deixa claro por que a Revolução nega a noção de pecado e o uso de táticas para destruir a noção de bem e de mal no homem contemporâneo e, assim, a própria Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo. No item 3 e em todo o Cap. XII, o autor denuncia a utopia pacifista para a qual a Revolução tenta impelir a humanidade.

Parte I

Capítulo XI
A Revolução, o pecado e a Redenção - A utopia revolucionária
Dentre os múltiplos aspectos da Revolução, é importante ressaltar que ela induz seus filhos a subestimarem ou negarem as noções de bem e mal, de pecado original e de Redenção.
1. A REVOLUÇÃO NEGA O PECADO E A REDENÇÃO
A Revolução é, como vimos, filha do pecado. Mas, se ela o reconhecesse, desmascarar-se-ia e se voltaria contra sua própria causa.
Explica-se, assim, porque a Revolução tende, não só a passar sob silêncio a raiz de pecado da qual brotou, mas a negar a própria noção do pecado. Negação radical, que inclui tanto a culpa original quanto a atual, e se efetua principalmente:
• Por sistemas filosóficos ou jurídicos que negam a validade e a existência de qualquer Lei moral ou dão a esta os fundamentos vãos e ridículos do laicismo.
• Pelos mil processos de propaganda que criam nas multidões um estado de alma em que, sem se afirmar diretamente que a moral não existe, se faz abstração dela, e toda a veneração devida à virtude é tributada a ídolos como o ouro, o trabalho, a eficiência, o êxito, a segurança, a saúde, a beleza física, a força muscular, o gozo dos sentidos, etc.
É a própria noção de pecado, a distinção mesma entre o bem e o mal, que a Revolução vai destruindo no homem contemporâneo. E, ipso facto, vai ela negando a Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sem o pecado, se torna incompreensível e perde qualquer relação lógica com a História e a vida.
2. EXEMPLIFICAÇÃO HISTÓRICA: NEGAÇÃO DO PECADO NO LIBERALISMO E NO SOCIALISMO
Em cada uma de suas etapas, a Revolução tem procurado subestimar ou negar radicalmente o pecado.
A. A conceição imaculada do indivíduo
Na fase liberal e individualista, ela ensinou que o homem é dotado de uma razão infalível, de uma vontade forte e de paixões sem desregramentos. Daí uma concepção da ordem humana, em que o indivíduo, reputado um ente perfeito, era tudo, e o Estado nada, ou quase nada, um mal necessário... provisoriamente necessário, talvez. Foi o período em que se pensava que a causa única de todos os erros e crimes era a ignorância. Abrir escolas era fechar prisões. O dogma básico destas ilusões foi a conceição imaculada do indivíduo.
A grande arma do liberal, para se defender contra as possíveis prepotências do Estado, e para impedir a formação de camarilhas que lhe tirassem a direção da coisa pública, eram as liberdades políticas e o sufrágio universal.
B. A conceição imaculada das massas e do Estado
Já no século passado, o desacerto desta concepção se tornara patente, pelo menos em parte. Mas a Revolução não recuou. Em vez de reconhecer seu erro, ela o substituiu por outro. Foi a conceição imaculada das massas e do Estado. Os indivíduos são propensos ao egoísmo e podem errar. Mas as massas acertam sempre, e jamais se deixam levar pelas paixões. Seu impecável meio de ação é o Estado. Seu infalível meio de expressão, o sufrágio universal, do qual decorrem os parlamentos impregnados de pensamento socialista, ou a vontade forte de um ditador carismático, que guia sempre as massas para a realização da vontade delas.
3. A REDENÇÃO PELA CIÊNCIA E PELA TÉCNICA: A UTOPIA REVOLUCIONÁRIA
De qualquer maneira, depositando toda a sua confiança no indivíduo considerado isoladamente, nas massas, ou no Estado, é no homem que a Revolução confia. Auto-suficiente pela ciência e pela técnica, pode ele resolver todos os seus problemas, eliminar a dor, a pobreza, a ignorância, a insegurança, enfim tudo aquilo a que chamamos efeito do pecado original ou atual.
Um mundo em cujo seio as pátrias unificadas numa República Universal não sejam senão denominações geográficas, um mundo sem desigualdades sociais nem econômicas, dirigido pela ciência e pela técnica, pela propaganda e pela psicologia, para realizar, sem o sobrenatural, a felicidade definitiva do homem: eis a utopia para a qual a Revolução nos vai encaminhando.
Nesse mundo, a Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo nada tem a fazer. Pois o homem terá superado o mal pela ciência e terá transformado a terra em um “céu” tecnicamente delicioso. E pelo prolongamento indefinido da vida esperará vencer um dia a morte.


Parte I

Capítulo XII
Caráter pacifista e antimilitarista da Revolução

O exposto no capítulo anterior nos faz compreender facilmente o caráter pacifista, e portanto antimilitarista da Revolução.
1. A CIÊNCIA ABOLIRÁ AS GUERRAS, AS FORÇAS ARMADAS E A POLÍCIA
No paraíso técnico da Revolução, a paz tem de ser perpétua. Pois a ciência demonstra que a guerra é um mal. E a técnica consegue evitar todas as causas das guerras.
Daí uma incompatibilidade fundamental entre a Revolução e as forças armadas, que deverão ser inteiramente abolidas. Na República Universal haverá apenas uma polícia, enquanto os progressos da ciência e da técnica não acabarem de eliminar o crime.
2. INCOMPATIBILIDADE DOUTRINÁRIA ENTRE A REVOLUÇÃO E A FARDA
A farda, por sua simples presença, afirma implicitamente algumas verdades, um tanto genéricas, sem dúvida, mas de índole certamente contra-revolucionária:
- A existência de valores que são mais que a vida e pelos quais se deve morrer, - o que é contrário à mentalidade socialista, toda feita de horror ao risco e à dor, de adoração da segurança, e do supremo apego à vida terrena.
- A existência de uma moral, pois a condição militar é toda ela fundada sobre idéias de honra, de força posta ao serviço do bem e voltada contra o mal, etc.
3. O “TEMPERAMENTO” DA REVOLUÇÃO É INFENSO À VIDA MILITAR
Por fim, entre a Revolução e o espírito militar há uma antipatia “temperamental”. A Revolução, enquanto não tem todas as rédeas na mão, é verbosa, enredadeira, declamatória. Resolver as coisas diretamente, drasticamente, secamente more militari, desagrada o que poderíamos chamar o atual temperamento da Revolução. “Atual”, frisamos, para aludir a esta no estágio em que se encontra entre nós. Pois nada há de mais despótico e cruel do que a Revolução quando é onipotente: a Rússia dá disto um eloqüente exemplo. Mas ainda aí a divergência subsiste, posto que o espírito militar é coisa bem diferente de espírito de carrasco.
* * *
Analisada assim em seus vários aspectos a utopia revolucionária, damos por concluído o estudo da Revolução.
Assim, concluímos a Parte I, do livro "Revolução e Contra-Revolução", do Dr. Plínio Corrêa de Oliveira. No próximo artigo, entrarei na Parte II deste mesmo livro.

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XV

Hoje, neste 15º artigo, apresentarei os Capítulos IX e X, da Parte I, do memorável livro do Dr. Plínio Correa de Oliveira, "Revolução e Contra Revolução". No capítulo IX ele mostra que na mentalidade dos semi-contra-revolucionários entroniza-se a Revolução. No capítulo X, ressaltará a importância da cultura, das artes e dos ambientes na marcha da mesma.


Parte I

Capítulo IX
Também é filho da Revolução o “semicontra-revolucionário”

Tudo quanto aqui se disse dá fundamento a uma observação de importância prática.
Espíritos marcados por essa Revolução interior poderão talvez, por um jogo qualquer de circunstâncias e de coincidência, como uma educação em meio fortemente tradicionalista e moralizado, conservar em um ou muitos pontos uma atitude contra-revolucionária[1].
[1] Cfr. Parte I - Cap. VI, 5, A.
Sem embargo, na mentalidade destes “semicontra-revolucionários” se terá entronizado o espírito da Revolução. E num povo onde a maioria esteja em tal estado de alma, a Revolução será incoercível enquanto este não mudar.
Assim, a unidade da Revolução trás, como contrapartida, que o contra-revolucionário autêntico só poderá ser total.
Quanto aos “semicontra-revolucionários” em cuja alma começa a vacilar o ídolo da Revolução, a situação é algum tanto diversa. 


Parte I

Capítulo X
A cultura, a arte e os ambientes, na Revolução
Assim descrita a complexidade e amplitude que o processo revolucionário tem nas camadas mais profundas das almas, e portanto da mentalidade dos povos, é mais fácil apontar toda a importância da cultura, das artes e dos ambientes na marcha da Revolução.
1. A CULTURA
As idéias revolucionárias fornecem às tendências de que nasceram o meio de se afirmarem com foros de cidadania, aos olhos do próprio indivíduo e de terceiros. Elas servem ao revolucionário para abalar nestes últimos as convicções verdadeiras, e para assim desencadear ou agravar neles a revolta das paixões. Elas são inspiração e molde para as instituições geradas pela Revolução. Essas idéias podem encontrar-se nos mais variados ramos do saber ou da cultura, pois é difícil que algum deles não esteja implicado, pelo menos indiretamente, na luta entre a Revolução e a Contra-Revolução.
2. AS ARTES
Quanto às artes, como Deus estabeleceu misteriosas e admiráveis relações entre certas formas, cores, sons, perfumes e sabores e certos estados de alma, é claro que por estes meios se podem influenciar a fundo as mentalidades e induzir pessoas, famílias e povos à formação de um estado de espírito profundamente revolucionário. Basta lembrar a analogia entre o espírito da Revolução Francesa e as modas que durante ela surgiram. Ou entre as efervescências revolucionárias de hoje e as presentes extravagâncias das modas e das escolas artísticas ditas avançadas.
3. OS AMBIENTES
Quanto aos ambientes na medida em que favorecem costumes bons ou maus, podem opor à Revolução as admiráveis barreiras de reação, ou pelo menos de inércia, de tudo quanto é sadiamente consuetudinário; ou podem comunicar às almas as toxinas e as energias tremendas do espírito revolucionário.
4. PAPEL HISTÓRICO DAS ARTES E DOS AMBIENTES NO PROCESSO REVOLUCIONÁRIO
Por isto, em concreto, é necessário reconhecer que a democratização geral dos costumes e dos estilos de vida, levado aos extremos de uma vulgaridade sistemática e crescente, e a ação proletarizante de certa arte moderna, contribuíram para o triunfo do igualitarismo tanto ou mais do que a implantação de certas leis, ou de certas instituições essencialmente políticas.
Como também é preciso reconhecer que quem, por exemplo, conseguisse fazer cessar o cinema ou a televisão imorais ou agnósticos teria feito pela Contra-Revolução muito mais do que se provocasse a queda de um gabinete esquerdista, na rotina de um regime parlamentar.

Fiquem atentos pois no próximo artigo, publicarei os capítulos XI e XII.



sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XIV

No capítulo anterior o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, discorreu sobre a Essência da Revoluçäo, o orgulho e a sensualidade enquanto valores metafísicos da Revoluçäo. No capítulo VIII, da Parte I, do livro "Revolução e Contra-Revolução", o qual transcrevo neste artigo, ele passa a explicitar as relaçöes entre erro e paixäo e o papel deles no processo revolucionário e do tema da perda de objetividade no homem que se deixa levar pelas paixões desordenadas. .

Parte I

Capítulo VIII
A inteligência, a vontade e a sensibilidade, na determinação dos atos humanos
 
 

As anteriores considerações pedem um desenvolvimento quanto ao papel da inteligência, da vontade e da sensibilidade, nas relações entre erro e paixão.

Poderia parecer, com efeito, que afirmamos que todo erro é concebido pela inteligência para justificar alguma paixão desregrada. Assim, o moralista que afirmasse uma máxima liberal seria sempre movido por uma tendência liberal.

Não é o que pensamos. Pode suceder que unicamente por fraqueza da inteligência atingida pelo pecado original, o moralista chegue a uma conclusão liberal.

Em tal caso terá havido necessariamente alguma falta moral de outra natureza, o descuido, por exemplo? É questão alheia a nosso estudo.

Afirmamos, isto sim, que, historicamente, esta Revolução teve sua primeira origem em uma violentíssima fermentação de paixões. E estamos longe de negar o grande papel dos erros doutrinários nesse processo.

Muitos têm sido os estudos de autores de grande valor, como de Maistre, de Bonald, Donoso Cortés e tantos outros, sobre tais erros e o modo por que foram eles derivando uns dos outros, do século XV ao século XVI, e assim por diante até o século XX. Não é, pois, nossa intenção insistir aqui sobre o assunto.

Parece-nos, entretanto, particularmente oportuno focalizar a importância dos fatores “passionais” e a influência destes nos aspectos estritamente ideológicos do processo revolucionário em que nos achamos. Pois, a nosso ver, as atenções estão pouco voltadas para este ponto, o que traz uma visão incompleta da Revolução, e acarreta em conseqüência a adoção de métodos contra-revolucionários inadequados.

Sobre o modo por que as paixões podem influir nas idéias, há algo a acrescentar aqui.

1. A NATUREZA DECAÍDA, A GRAÇA E O LIVRE ARBÍTRIO

O homem, pelas simples forças de sua natureza, pode conhecer muitas verdades e praticar várias virtudes. Entretanto, não lhe é possível, sem o auxílio da graça, permanecer duravelmente no conhecimento e na prática de todos os Mandamentos[1] .
 
[1]  Cfr. Parte I - Cap. VII, 2, D.

Isto quer dizer que em todo homem decaído há sempre a debilidade da inteligência e uma tendência primeira, e anterior a qualquer raciocínio, que o incita a revoltar-se contra a Lei[2].
 
[2] Donoso Cortés, in Ensayo sobre el Catolicismo, el Liberalismo y el Socialismo – Obras completas, B. A. C., Madrid, 1946, tomo II, p. 377 - dá um importante desenvolvimento dessa verdade, o qual muito se relaciona com o presente trabalho.
 
[NOTA DO SITE: Encontra-se disponível para estudo o trecho da obra de Donoso Cortês acima citado: clique aqui]

2. O GERME DA REVOLUÇÃO

Tal tendência fundamental à revolta pode, em dado momento, ter o consentimento do livre arbítrio. O homem decaído peca, assim, violando um ou outro Mandamento. Mas sua revolta pode ir além, e chegar até o ódio, mais ou menos inconfessado, à própria ordem moral em seu conjunto. Esse ódio, revolucionário por essência, pode gerar erros doutrinários, e até levar à profissão consciente e explícita de princípios contrários à Lei moral e à doutrina revelada, enquanto tais, o que constitui um pecado contra o Espírito Santo. Quando esse ódio começou a dirigir as tendências mais profundas da História do Ocidente, teve início a Revolução cujo processo hoje se desenrola e em cujos erros doutrinários ele imprimiu vigorosamente sua marca. Ele é a causa mais ativa da grande apostasia hodierna. Por sua natureza, é ele algo que não pode ser reduzido simplesmente a um sistema doutrinário: é a paixão desregrada, em altíssimo grau de exacerbação.

Como é fácil ver, tal afirmação, relativa a esta Revolução em concreto, não implica em dizer que há sempre uma paixão desordenada na raiz de todo erro.

E nem implica em negar que muitas vezes foi um erro que desencadeou nesta ou naquela alma, ou mesmo neste ou naquele grupo social, o desregramento das paixões.

Afirmamos tão somente que o processo revolucionário, considerado em seu conjunto, e também em seus principais episódios, teve por germe mais ativo e profundo o desregramento das paixões.

3. REVOLUÇÃO E MÁ FÉ

Poder-se-ia talvez opor a seguinte objeção: se tal é a importância das paixões no processo revolucionário, parece que a vítima deste está sempre, em alguma medida, pelo menos, de má fé. Se o protestantismo, por exemplo, é filho da Revolução, está de má fé todo protestante? Não colide isto com a doutrina da Igreja que admite que haja, em outras religiões, almas de boa fé?

É óbvio que uma pessoa de inteira boa fé, e dotada de um espírito fundamentalmente contra-revolucionário, pode estar presa nas malhas dos sofismas revolucionários (sejam de índole religiosa, filosófica, política, ou outra qualquer) por uma ignorância invencível. Em pessoas assim não há qualquer culpa.

Mutatis mutandis, pode-se dizer o mesmo quanto às que aderem à doutrina da Revolução num ou noutro ponto restrito, por um lapso involuntário da inteligência.

Mas se alguém participa do espírito da Revolução, movido pelas paixões desregradas inerentes a ela, a resposta tem de ser outra.

Pode um revolucionário nestas condições estar persuadido das excelências das suas máximas subversivas. Ele não será portanto insincero. Mas terá culpa pelo erro em que caiu.

E pode também acontecer que o revolucionário professe uma doutrina da qual não esteja persuadido, ou da qual tenha uma convicção incompleta.

Será, neste caso, parcial ou totalmente insincero...

Parece-nos que, a este propósito, quase não seria necessário acentuar que, quando afirmamos que as doutrinas de Marx estavam implícitas nas negações da Pseudo-Reforma e da Revolução Francesa, não queremos com isto dizer que os adeptos daqueles dois movimentos eram, conscientemente, marxistas avant la lettre, e que ocultavam hipocritamente suas opiniões.

O próprio da virtude cristã é a reta disposição das potências da alma e, pois, o incremento da lucidez da inteligência iluminada pela graça e guiada pelo Magistério da Igreja. Não é por outra razão que todo o Santo é um modelo de equilíbrio e de imparcialidade. A objetividade de seus juízos e a firme orientação de sua vontade para o bem não são debilitadas, nem de leve, pelo bafo venenoso das paixões desregradas.

Pelo contrário, à medida que o homem decai na virtude e se entrega ao jugo dessas paixões, vai minguando nele a objetividade em tudo quanto com as mesmas se relacione. De modo particular, essa objetividade fica perturbada quanto aos julgamentos que o homem formule sobre si mesmo.

Até que ponto um revolucionário “de marcha lenta” do século XVI ou do século XVIII, obnubilado pelo espírito da Revolução, se dava conta do sentido profundo e das últimas conseqüências de sua doutrina, é em cada caso concreto o segredo de Deus.

De qualquer forma, a hipótese de que fossem todos eles marxistas conscientes é de se excluir inteiramente.
 
Concluído este artigo do Cap. VIII, da Parte I, do livro “Revolução e Contra-Revolução”, no próximo, apresentarei os Capítulos IX e X.