Parte II
A tendência de tantos de nossos
contemporâneos, filhos da Revolução, de amar sem restrições o presente,
adorar o futuro e votar incondicionalmente o passado ao desprezo e ao
ódio, suscita a respeito da Contra-Revolução um conjunto de
incompreensões que importa fazer cessar. Sobretudo, afigura-se a muitas
pessoas que o caráter tradicionalista e conservador desta última faz
dela uma adversaria nata do progresso humano.
1. A CONTRA-REVOLUÇÃO É TRADICIONALISTA
A. Razão
A Contra-Revolução, como vimos, é
um esforço que se desenvolve em função de uma Revolução. Esta se volta
constantemente contra todo um legado de instituições, de doutrinas, de
costumes, de modos de ver, sentir e pensar cristãos que recebemos de
nossos maiores, e que ainda não estão completamente abolidos. A
Contra-Revolução é, pois, a defensora das tradições cristãs.
B. A mecha que ainda fumega
A Revolução ataca a civilização
cristã mais ou menos como certa árvore da floresta brasileira, a
figueira brava (Urostigma olearia), que, crescendo no tronco de outra, a
envolve completamente e a mata. Em suas correntes “moderadas” e de
velocidade lenta, acercou-se a Revolução da civilização cristã para
envolvê-la de todo e matá-la. Estamos num período em que esse estranho
fenômeno de destruição ainda não se completou, isto é, numa situação
híbrida em que aquilo a que quase chamaríamos restos mortais da
civilização cristã, somado ao perfume e à ação remota de muitas
tradições, só recentemente abolidas, mas que ainda têm alguma coisa de
vivo na memória dos homens, coexiste com muitas instituições e costumes
revolucionários.
Em face dessa luta entre uma
esplendida tradição cristã em que ainda palpita a vida, e uma ação
revolucionária inspirada pela mania de novidades a que se referia Leão
XIII, nas palavras iniciais da Encíclica Rerum Novarum, é natural que o
verdadeiro contra-revolucionário seja o defensor nato do tesouro das
boas tradições, porque elas são os valores do passado cristão ainda
existentes e que se trata exatamente de salvar. Nesse sentido, o
contra-revolucionário atua como Nosso Senhor, que não veio apagar a
mecha que ainda fumega, nem romper o arbusto partido[1]. Deve
ele, portanto, procurar salvar amorosamente todas essas tradições
cristãs. Uma ação contra-revolucionária é, essencialmente, uma ação
tradicionalista.
[1] Cfr. Mt. 12,20.
C. Falso tradicionalismo
O espirito tradicionalista da
Contra-Revolução nada tem de comum com um falso e estreito
tradicionalismo que conserva certos ritos, estilos ou costumes por mero
amor às formas antigas e sem qualquer apreço pela doutrina que os gerou.
Isto seria arqueologismo, não sadio e vivo tradicionalismo.
2. A CONTRA-REVOLUÇÃO É CONSERVADORA
A Contra-Revolução é conservadora? Em um sentido, sim, e profundamente. E em outro sentido, não, também profundamente.
Se se trata de conservar, do presente, algo que é bom e merece viver, a Contra-Revolução é conservadora.
Mas se se trata de perpetuar a situação híbrida em que nos encontramos, de sustar o processo revolucionário nesta etapa, mantendo-nos imóveis como uma estátua de sal, à margem do caminho da História e do Tempo, abraçados ao que há de bom e de mau em nosso século, procurando assim uma coexistência perpétua e harmônica do bem e do mal, a Contra-Revolução não é nem pode ser conservadora.
Se se trata de conservar, do presente, algo que é bom e merece viver, a Contra-Revolução é conservadora.
Mas se se trata de perpetuar a situação híbrida em que nos encontramos, de sustar o processo revolucionário nesta etapa, mantendo-nos imóveis como uma estátua de sal, à margem do caminho da História e do Tempo, abraçados ao que há de bom e de mau em nosso século, procurando assim uma coexistência perpétua e harmônica do bem e do mal, a Contra-Revolução não é nem pode ser conservadora.
3. A CONTRA-REVOLUÇÃO É CONDIÇÃO ESSENCIAL DO VERDADEIRO PROGRESSO
A Contra-Revolução é
progressista? Sim, se o progresso for autêntico. E não, se for a marcha
para a realização da utopia revolucionaria.
Em seu aspecto material,
consiste o verdadeiro progresso no reto aproveitamento das forças da
natureza, segundo a Lei de Deus e a serviço do homem. Por isso, a
Contra-Revolução não pactua com o tecnicismo hipertrofiado de hoje, com a
adoração das novidades, das velocidades e das máquinas, nem com a
deplorável tendência a organizar more mechanico a sociedade humana. Estes são excessos que Pio XII condenou com profundidade e precisão[2].
[1] Cfr. Radiomensagem de Natal de 1957 – Discorsi e Radiomessaggi, vol. XIX, p. 670.
E nem é o progresso material de
um povo o elemento capital do progresso cristãmente entendido. Consiste
este, sobretudo, no pleno desenvolvimento de todas as suas potências de
alma, e na ascensão dos homens rumo à perfeição moral. Uma concepção
contra-revolucionária do progresso importa, pois, na prevalência dos
aspectos espirituais deste sobre os aspectos materiais. Em conseqüência,
é próprio à Contra-Revolução promover, entre os indivíduos e as
multidões, um apreço muito maior por tudo quanto diz respeito à Religião
verdadeira, à verdadeira filosofia, à verdadeira arte e à verdadeira
literatura, do que pelo que se relaciona com o bem do corpo e o
aproveitamento da matéria.
Por fim, para demarcar a
diferença entre os conceitos revolucionário e contra-revolucionário de
progresso, importa notar que o último toma em consideração que este
mundo será sempre um vale de lágrimas e uma passagem para o Céu, ao
passo que para o primeiro o progresso deve fazer da terra um paraíso no
qual o homem viva feliz, sem cogitar da eternidade.
Pela própria noção de reto progresso, vê-se que este tem por contrário o progresso da Revolução.
Assim, a Contra-Revolução é
condição essencial para que seja preservado o desenvolvimento normal do
verdadeiro progresso, e derrotada a utopia revolucionaria, que de
progresso só tem aparências falaciosas.
Aguardem os próximos artigos!
Aguardem os próximos artigos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário