quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte X

Após alguns dias sem escrever no blog, volto agora com o Capítulo VI da Parte I, do livro  de autoria do Dr. Plínio Corrêa de Oliveira , "Revolução e Contra-Revolução", no qual darei continuidade ao Capítulo V do artigo anterior. 
Este capítulo, por ser mais extenso e ao mesmo tempo de importantíssima relevância - pois há que se fazer uma reflexão do que estamos vivendo em nossos dias -, será dividido em dois artigos, para que se possa dar a devida atenção.
Leiam e observem se não é exatamente assim que se dá a marcha da Revolução por todo o Ocidente e que se destaca diante dos nossos olhos, tomando como parâmetro quatro acontecimentos recentes, quais sejam: do Comunismo na Rússia à Queda do Muro de Berlin até os dias de hoje, passando os olhos pela Revolução Cubana e pelo Socialismo Bolivariano do Século XXI, só para ilustrar.



Parte I

Capítulo VI
A Marcha da Revolução
 
 
As considerações anteriores já nos forneceram  alguns dados sobre a marcha da Revolução, isto é, seu caráter processivo, as metamorfoses por que ela passa, sua irrupção no mais recôndito do homem, e sua exteriorização em atos. Como se vê, há toda uma dinâmica própria à Revolução. Disto podemos ter melhor idéia estudando ainda outros aspectos da marcha da Revolução.

1. A FORÇA PROPULSORA DA REVOLUÇÃO

A. A Revolução e as tendências desordenadas

A mais possante força propulsora da Revolução está nas tendências desordenadas.
E por isto a Revolução tem sido comparada a um tufão, a um terremoto, a um ciclone. É que as forças naturais desencadeadas são imagens materiais das paixões desenfreadas do homem.

B. Os paroxismos da Revolução estão inteiros nos germes desta

Como os cataclismos, as más paixões têm uma força imensa, mas para destruir.
Essa força já tem potencialmente, no primeiro instante de suas grandes explosões, toda a virulência que se patenteará mais tarde nos seus piores excessos. Nas primeiras negações do protestantismo, por exemplo, já estavam implícitos os anelos anarquistas do comunismo. Se, do ponto de vista da formulação explícita, Lutero não era senão Lutero, todas as tendências, todo o estado de alma, todos os imponderáveis da explosão luterana já traziam consigo, de modo autêntico e pleno, embora implícito, o espírito de Voltaire e de Robespierre, de Marx e de Lenine[1].
[1] Cfr. Leão XIII, Encíclica “Quod Apostolici Muneris”, de 28-XII-1878, Bonne Presse, Paris, vol. I, p. 28.

C. A Revolução exaspera suas próprias causas

Essas tendências desordenadas se desenvolvem como os pruridos e os vícios, isto é, à medida mesmo que se satisfazem, crescem em intensidade. As tendências produzem crises morais, doutrinas errôneas, e depois revoluções. Umas e outras, por sua vez, exacerbam as tendências. Estas últimas levam em seguida, e por um movimento análogo, a novas crises, novos erros, novas revoluções. É o que explica que nos encontremos hoje em tal paroxismo da impiedade e da imoralidade, bem como em tal abismo de desordens e discórdias.

2.  OS APARENTES INTERSTÍCIOS DA REVOLUÇÃO

Considerando a existência de períodos de uma calmaria acentuada, dir-se-ia que neles a Revolução cessou. E assim parece que o processo revolucionário é descontínuo, e portanto não é uno.
Ora, essas calmarias são meras metamorfoses da Revolução. Os períodos de tranqüilidade aparente, supostos interstícios, têm sido em geral de fermentação revolucionária surda e profunda. Haja vista o período da Restauração (1815-1830) [2].
[2] Cfr. Parte I, cap. IV.

3. A MARCHA DE REQUINTE EM REQUINTE

Pelo que vimos[3] se explica que cada etapa da Revolução, comparada com a anterior, não seja senão um requinte. O humanismo naturalista e o protestantismo se requintaram na Revolução Francesa, a qual, por sua vez, se requintou no grande processo revolucionário de bolchevização do mundo hodierno.
[3] Cfr. nº 1, C, supra.
É que as paixões desordenadas, indo num crescendo análogo ao que produz a aceleração na lei da gravidade, e alimentando-se de suas próprias obras, acarretam conseqüências que, por sua vez, se desenvolvem segundo intensidade proporcional. E, na mesma progressão, os erros geram erros, e as revoluções abrem caminho umas para as outras.

4. AS VELOCIDADES HARMÔNICAS DA REVOLUÇÃO

Esse processo revolucionário se dá em duas velocidades diversas. Uma, rápida, é destinada geralmente ao fracasso no plano imediato. A outra tem sido habitualmente coroada de êxito, e é muito mais lenta.

A. A alta velocidade

Os movimentos pré-comunistas dos anabatistas, por exemplo, tiraram imediatamente, em vários campos, todas ou quase todas as conseqüências do espírito e das tendências da Pseudo-Reforma: fracassaram.

B. A marcha morosa

Lentamente, ao longo de mais de quatro séculos, as correntes mais moderadas do protestantismo, caminhando de requinte em requinte, por etapas de dinamismo e de inércia sucessivas, vão entretanto favorecendo paulatinamente, de um ou de outro modo, a marcha do Ocidente para o mesmo ponto extremo [4].
[4] Cfr. Parte II, Cap. VIII, 2. 

C. Como se harmonizam essas velocidades

Cumpre estudar o papel de cada uma dessas velocidades na marcha da Revolução. Dir-se-ia que os movimentos mais velozes são inúteis. Porém, não é verdade. A explosão desses extremismos levanta um estandarte, cria um ponto de mira fixo que fascina pelo seu próprio radicalismo os moderados, e para o qual estes se vão lentamente encaminhando. Assim, o socialismo repudia o comunismo mas o admira em silêncio e tende para ele. Mais remotamente o mesmo se poderia dizer do comunista Babeuf e seus sequazes nos últimos lampejos da Revolução Francesa. Foram esmagados. Mas lentamente a sociedade vai seguindo o caminho para onde eles a quiseram levar. O fracasso dos extremistas é, pois, apenas aparente. Eles colaboram indireta, mas possantemente, para a Revolução, atraindo paulatinamente para a realização de seus culposos e exacerbados devaneios a multidão incontável dos “prudentes”, dos “moderados”, e dos medíocres.


No próximo artigo, publicarei a segunda parte deste capítulo, onde o autor desfaz objeções. Aguardem!

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