quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte IX

Veremos a seguir, no Capítulo V de "Revolução e Contra-Revolução", o estudo das três profundidades da Revolução.
Este talvez seja o um dos capítulos no qual mais se deva prestar uma especial atenção, fazendo uma analogia com a realidade em que nos encontramos e que, inadvertidamente, nos vemos tragados por ela - tal é a sutileza no 'modus operandi' da Revolução.
Creio e tenho por certo, que destas três revoluções (nas tendências, nas idéias, nos fatos) sobreveio o relativismo moral, o aniquilamento de qualquer distinção entre verdade e erro, bem e mal. E isso fez criar uma ilusão de paz entre os homens, pela interpenetração, pelo nivelamento de todas as religiões, filosofias, escolas de pensamento e de cultura. Tudo equivalendo a tudo, ou seja, tudo é nada! Caos implantado nas raízes mais profundas do pensamento humano, a causar uma desordem completa no existir do homem.




Parte I

Capítulo V
As Três Profundidades da Revolução: Nas tendências, nas idéias, nos fatos
 
 
1. A REVOLUÇÃO NAS TENDÊNCIAS
Como vimos, essa Revolução é um processo feito de etapas, e tem sua origem última em determinadas tendências desordenadas que lhe servem de alma e de força propulsora mais íntima . Assim, podemos também distinguir na Revolução três profundidades, que cronologicamente até certo ponto se interpenetram. A primeira, isto é, a mais profunda, consiste em uma crise nas tendências. Essas tendências desordenadas, que por sua própria natureza lutam por realizar-se, já não se conformando com toda uma ordem de coisas que lhes é contrária, começam por modificar as mentalidades, os modos de ser, as expressões artísticas e os costumes, sem desde logo tocar de modo direto - habitualmente, pelo menos - nas idéias.
2. A REVOLUÇÃO NAS IDÉIAS
Dessas camadas profundas, a crise passa para o terreno ideológico. Com efeito - como Paul Bourget pôs em evidência em sua célebre obra Le Démon du Midi - “cumpre viver como se pensa, sob pena de, mais cedo ou mais tarde, acabar por pensar como se viveu” . Assim, inspiradas pelo desregramento das tendências profundas, doutrinas novas eclodem. Elas procuram por vezes, de início, um modus vivendi com as antigas, e se exprimem de maneira a manter com estas um simulacro de harmonia que habitualmente não tarda em se romper em luta declarada.
3. A REVOLUÇÃO NOS FATOS
Essa transformação das idéias estende-se, por sua vez, ao terreno dos fatos, onde passa a operar, por meios cruentos ou incruentos, a transformação das instituições, das leis e dos costumes, tanto na esfera religiosa quanto na sociedade temporal. É uma terceira crise, já toda ela na ordem dos fatos.
4. OBSERVAÇÕES DIVERSAS
A. As profundidades da Revolução não se identificam com etapas cronológicas
Essas profundidades são, de algum modo, escalonadas. Mas uma análise atenta evidência que as operações que a Revolução nelas realiza de tal modo se interpenetram no tempo, que essas diversas profundidades não podem ser vistas como outras tantas unidades cronológicas distintas.
B. Nitidez das três profundidades da Revolução
Essas três profundidades nem sempre se diferenciam nitidamente umas das outras. O grau de nitidez varia muito de um caso concreto a outro.
C. O processo revolucionário não é incoercível
O caminhar de um povo através dessas várias profundidades não é incoercível, de tal maneira que, dado o primeiro passo, ele chegue necessariamente até o último, e resvale para a profundidade seguinte. Pelo contrário, o livre arbítrio humano, coadjuvado pela graça, pode vencer qualquer crise, como pode deter e vencer a própria Revolução. Descrevendo esses aspectos, fazemos como um médico que descreve a evolução completa de uma doença até a morte, sem pretender com isto que a doença seja incurável.

No próximo Capítulo, será abordada a marcha deste processo revolucionário e de sua relação com as tendências desordenadas do homem. Até lá!

Nenhum comentário:

Postar um comentário