domingo, 12 de fevereiro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XI

Continuando com a leitura do Capítulo VI, Parte I de "Revolução e Contra-Revolução, darei seguimento à segunda parte deste capítulo, no qual Dr. Plínio desfaz algumas objeções, de forma bastante elucidativa.

Volto a lembrar o leitor que não se esqueça de ler o artigo de Anatoli Oliynik "Gramsci e a Comunização do Brasil", como uma forma de ilustrar o exposto. E, desta vez, para servir de parâmetro sobre os tipos de revolucionários aqui descritos, peço que leiam também o artigo do Prof. Marlon Adami  "Desconstruindo Marx", onde ele faz um relato isento de quem foi este ideólogo revolucionário, aparentemente tão distinto de Antonio Gramsci.

Boa leitura! Mas leiam atentamente!




Parte I

Capítulo VI
A Marcha da Revolução
(2ª parte)

5. DESFAZENDO OBJEÇÕES

Vistas estas noções, apresenta-se a ocasião para desfazer algumas objeções que, antes disto, não poderiam ser adequadamente analisadas.

A. Revolucionários de pequena velocidade e “semicontra-revolucionários

O que distingue o revolucionário que seguiu o ritmo da marcha rápida, de quem se vai paulatinamente tornando tal segundo o ritmo da marcha lenta, está em que, quando o processo revolucionário teve início no primeiro, encontrou resistências nulas, ou quase nulas. A virtude e a verdade viviam nessa alma de uma vida de superfície. Eram como madeira seca, que qualquer fagulha pode incendiar. Pelo contrário, quando esse processo se opera lentamente, é porque a fagulha da Revolução encontrou, ao menos em parte, lenha verde. Em outros termos, encontrou muita verdade ou muita virtude que se mantêm infensas à ação do espírito revolucionário. Uma alma em tal situação fica bipartida, e vive de dois princípios opostos, o da Revolução e o da Ordem.
Da coexistência desses dois princípios, podem surgir situações bem diversas:
* a. O revolucionário de pequena velocidade: ele se deixa arrastar pela Revolução, à qual opõe apenas a resistência da inércia.
* b. O revolucionário de velocidade lenta, mas com “coágulos” contra-revolucionários. Também ele se deixa arrastar pela Revolução. Mas em algum ponto concreto recusa-a. Assim, por exemplo, será socialista em tudo, mas conservará o gosto das maneiras aristocráticas. Conforme o caso, ele chegará até mesmo a atacar a vulgaridade socialista. Trata-se de uma resistência, sem dúvida. Mas resistência em ponto de pormenor, que não remonta aos princípios, toda feita de hábitos e impressões. Resistência por isto mesmo sem maior alcance, que morrerá com o indivíduo, e que, se se der num grupo social, cedo ou tarde, pela violência ou pela persuasão, em uma geração ou algumas, a Revolução em seu curso inexorável desmantelará.
* c. O “semicontra-revolucionário”[5]: diferencia-se do anterior apenas pelo fato de que nele o processo de “coagulação” foi mais enérgico, e remontou até a zona dos princípios básicos. De alguns princípios, já se vê, e não de todos. Nele a reação contra a Revolução é mais pertinaz, mais viva. Constitui um obstáculo que não é só de inércia. Sua conversão a uma posição inteiramente contra-revolucionária é mais fácil, pelo menos em tese. Um excesso qualquer da Revolução pode determinar nele uma transformação cabal, uma cristalização de todas as tendências boas, numa atitude de firmeza inabalável. Enquanto esta feliz transformação não se der, o “semi-contra-revolucionário” não pode ser considerado um soldado da Contra-Revolução.
[5] Cfr. Parte I, cap. IX.
É característica do conformismo do revolucionário de marcha lenta, e do “semicontra-revolucionário”, a facilidade com que ambos aceitam as conquistas da Revolução. Afirmando a tese da união da Igreja e do Estado, por exemplo, vivem displicentemente no regime da hipótese, isto é, da separação, sem tentar qualquer esforço sério para que se torne possível restaurar algum dia em condições convenientes a união.

B. Monarquias protestantes - Repúblicas católicas

Uma objeção que se poderia fazer a nossas teses consistiria em dizer que, se o movimento republicano universal é fruto do espírito protestante, não se compreende como no mundo só haja atualmente[6] um Rei católico, e tantos países protestantes se conservem monárquicos.
[6] Quando o livro foi escrito, em 1958
A explicação é simples. A Inglaterra, a Holanda e as nações nórdicas, por toda uma série de razões históricas, psicológicas, etc., são muito afins com a monarquia. Penetrando nelas, a Revolução não conseguiu evitar que o sentimento monárquico “coagulasse”. Assim, a realeza vem sobrevivendo obstinadamente nesses países, apesar de neles a Revolução ir penetrando cada vez mais a fundo em outros campos. “Sobrevivendo”..., sim, na medida em que morrer aos poucos pode ser chamado sobreviver. Pois a monarquia inglesa reduzida em larguíssima medida a um papel de aparato, e as demais realezas protestantes transformadas para quase todos os efeitos em repúblicas cujo chefe é vitalício e hereditário, vão agonizando suavemente, e, a continuarem assim as coisas, se extinguirão sem ruído.
Sem negar que outras causas contribuem para esta sobrevida, queremos, entretanto, pôr em evidência o fator - muito importante, aliás - que se situa no âmbito de nossa exposição.
Pelo contrário, nas nações latinas, o amor a uma disciplina externa e visível, a um poder público forte e prestigioso, é - por muitas razões - bem menor.
A Revolução não encontrou nelas, pois, um sentimento monárquico tão arraigado. Levou os tronos facilmente. Mas até agora não foi suficientemente forte para arrastar a Religião.

C. A austeridade protestante

Outra objeção a nosso trabalho poderia vir do fato de que certas seitas protestantes são de uma austeridade que toca as raias do exagero. Como, pois, explicar todo o protestantismo por uma explosão do desejo de gozar a vida?
Ainda aqui, a objeção não é difícil de resolver. Penetrando em certos ambientes, a Revolução encontrou muito vivaz o amor à austeridade. Assim, formou-se um “coágulo”. E, se bem que ela aí tenha conseguido em matéria de orgulho todos os triunfos, não alcançou êxitos iguais em matéria de sensualidade. Em tais ambientes, goza-se a vida por meio dos discretos deleites do orgulho, e não pelas grosseiras delícias da carne. Pode até ser que a austeridade, acalentada pelo orgulho exacerbado, tenha reagido exageradamente contra a sensualidade. Mas essa reação, por mais obstinada que seja, é estéril: cedo ou tarde, por inanição ou pela violência, será destroçada pela Revolução. Pois não é de um puritanismo hirto, frio, mumificado, que pode partir o sopro de vida que regenerará a terra.

D. A frente única da Revolução

Tais “coagulações” e cristalizações conduzem normalmente ao entrechoque das forças da Revolução. Considerando-o, dir-se-ia que as potências do mal estão divididas contra si mesmas, e que é falsa nossa concepção unitária do processo revolucionário.
Ilusão. Por um instinto profundo, que mostra que são harmônicas em seus elementos essenciais, e contraditórias apenas em seus acidentes, têm essas forças uma espantosa capacidade de se unirem contra a Igreja Católica, sempre que se encontrem em face dEla.
Estéreis nos elementos bons que lhes restem, as forças revolucionárias só são realmente eficientes para o mal. E assim, cada qual ataca de seu lado a Igreja, que fica como uma cidade sitiada por um imenso exército.
Entre essas forças da Revolução, cumpre não omitir os católicos que professam a doutrina da Igreja mas estão dominados pelo espírito revolucionário. Mil vezes mais perigosos que os inimigos declarados, combatem a Cidade Santa dentro de seus próprios muros, e bem merecem o que deles disse Pio IX: “Embora os filhos do século sejam mais hábeis que os filhos da luz, seus ardis e suas violências teriam, sem dúvida, menor êxito se um grande número, entre aqueles que se intitulam católicos, não lhes estendesse mão amiga. Sim, infelizmente, há os que parecem querer caminhar de acordo com nossos inimigos, e se esforçam por estabelecer uma aliança entre a luz e as trevas, um acordo entre a justiça e a iniqüidade por meio dessas doutrinas que se chamam católico-liberais, as quais, apoiando-se sobre os mais perniciosos princípios, adulam o poder civil quando ele invade as coisas espirituais, e impulsionam as almas ao respeito, ou ao menos à tolerâncias das leis mais iníquas. Como se absolutamente não estivesse escrito que ninguém pode servir a dois senhores. São eles muito mais perigosos certamente e mais funestos do que os inimigos declarados, não só porque lhes secundam os esforços, talvez sem o perceberem, como também porque, mantendo-se no extremo limite das opiniões condenadas, tomam uma aparência de integridade e de doutrina irrepreensível, aliciando os imprudentes amigos de conciliações e enganando as pessoas honestas, que se revoltariam contra um erro declarado. Por isso, eles dividem os espíritos, rasgam a unidade e enfraquecem as forças que seria necessário reunir contra o inimigo".[7]
[7] Carta ao Presidente e membros do Círculo Santo Ambrósio, de Milão, de 6-III-1873, apud I Papi e la Gioventù, Editrice A.V.E., Roma, 1944, p. 36.

6. OS AGENTES DA REVOLUÇÃO: A MAÇONARIA E AS DEMAIS FORÇAS SECRETAS

Uma vez que estamos estudando as forças propulsoras da Revolução, convém que digamos uma palavra sobre os agentes desta.
Não acreditamos que o mero dinamismo das paixões e dos erros dos homens possa conjugar meios tão diversos, para a consecução de um único fim, isto é, a vitória da Revolução.
Produzir um processo tão coerente, tão contínuo, como o da Revolução, através das mil vicissitudes de séculos inteiros, cheios de imprevistos de toda ordem, nos parece impossível sem a ação de gerações sucessivas de conspiradores de uma inteligência e um poder extraordinários. Pensar que sem isto a Revolução teria chegado ao estado em que se encontra, é o mesmo que admitir que centenas de letras atiradas por uma janela poderiam dispor-se espontaneamente no chão, de maneira a formar uma obra qualquer, por exemplo, a “Ode a Satã”, de Carducci.
As forças propulsoras da Revolução têm sido manipuladas até aqui por agentes sagacíssimos, que delas se têm servido como meios para realizar o processo revolucionário.
De modo geral, podem qualificar-se agentes da Revolução todas as seitas, de qualquer natureza, engendradas por ela, desde seu nascedouro até nossos dias, para a difusão do pensamento ou a articulação das tramas revolucionárias. Porém, a seita-mestra, em torno da qual todas se articulam como simples forças auxiliares - por vezes conscientemente, e outras vezes não - é a Maçonaria, segundo claramente decorre dos documentos pontifícios, e especialmente da Encíclica Humanum Genus de Leão XIII, de 20 de abril de 1884 [8].
[8] Bonne Presse, Paris, vol. I, pp. 242 a 276.
O êxito que até aqui têm alcançado esses conspiradores, e particularmente a Maçonaria, deve-se não só ao fato de possuírem incontestável capacidade de se articularem e conspirarem, mas também ao seu lúcido conhecimento do que seja a essência profunda da Revolução, e de como utilizar as leis naturais - falamos das da política, da sociologia, da psicologia, da arte, da economia, etc.- para fazer progredir a realização de seus planos.
Nesse sentido os agentes do caos e da subversão fazem como o cientista, que em vez de agir por si só, estuda e põe em ação as forças, mil vezes mais poderosas, da natureza.
É o que, além de explicar em grande parte o êxito da Revolução, constitui importante indicação para os soldados da Contra-Revolução.

No próximo artigo, será abordado capítulo que fala da Essência da Revolução. Até lá!

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