sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte XVIII

Neste artigo transcreverei o Capítulo III, da Parte II, da magna obra do Dr. Plínio Corrêa de Oliveira, "Revolução e Contra-Revolução", no qual ele define como deverá ser a Ordem nascida da Contra-Revolução - que deverá refulgir ainda mais do que a da Idade Média -, a missão de defender os valores ainda vivos do passado e a concepção contra-revolucionária do progresso.

Parte II

Capitulo III
A Contra-Revolução e o prurido de novidades
A tendência de tantos de nossos contemporâneos, filhos da Revolução, de amar sem restrições o presente, adorar o futuro e votar incondicionalmente o passado ao desprezo e ao ódio, suscita a respeito da Contra-Revolução um conjunto de incompreensões que importa fazer cessar. Sobretudo, afigura-se a muitas pessoas que o caráter tradicionalista e conservador desta última faz dela uma adversaria nata do progresso humano.
1. A CONTRA-REVOLUÇÃO É TRADICIONALISTA
A. Razão
A Contra-Revolução, como vimos, é um esforço que se desenvolve em função de uma Revolução. Esta se volta constantemente contra todo um legado de instituições, de doutrinas, de costumes, de modos de ver, sentir e pensar cristãos que recebemos de nossos maiores, e que ainda não estão completamente abolidos. A Contra-Revolução é, pois, a defensora das tradições cristãs.
B. A mecha que ainda fumega
A Revolução ataca a civilização cristã mais ou menos como certa árvore da floresta brasileira, a figueira brava (Urostigma olearia), que, crescendo no tronco de outra, a envolve completamente e a mata. Em suas correntes “moderadas” e de velocidade lenta, acercou-se a Revolução da civilização cristã para envolvê-la de todo e matá-la. Estamos num período em que esse estranho fenômeno de destruição ainda não se completou, isto é, numa situação híbrida em que aquilo a que quase chamaríamos restos mortais da civilização cristã, somado ao perfume e à ação remota de muitas tradições, só recentemente abolidas, mas que ainda têm alguma coisa de vivo na memória dos homens, coexiste com muitas instituições e costumes revolucionários.
Em face dessa luta entre uma esplendida tradição cristã em que ainda palpita a vida, e uma ação revolucionária inspirada pela mania de novidades a que se referia Leão XIII, nas palavras iniciais da Encíclica Rerum Novarum, é natural que o verdadeiro contra-revolucionário seja o defensor nato do tesouro das boas tradições, porque elas são os valores do passado cristão ainda existentes e que se trata exatamente de salvar. Nesse sentido, o contra-revolucionário atua como Nosso Senhor, que não veio apagar a mecha que ainda fumega, nem romper o arbusto partido[1]. Deve ele, portanto, procurar salvar amorosamente todas essas tradições cristãs. Uma ação contra-revolucionária é, essencialmente, uma ação tradicionalista.
[1] Cfr. Mt. 12,20.
C. Falso tradicionalismo
O espirito tradicionalista da Contra-Revolução nada tem de comum com um falso e estreito tradicionalismo que conserva certos ritos, estilos ou costumes por mero amor às formas antigas e sem qualquer apreço pela doutrina que os gerou. Isto seria arqueologismo, não sadio e vivo tradicionalismo.
2. A CONTRA-REVOLUÇÃO É CONSERVADORA
A Contra-Revolução é conservadora? Em um sentido, sim, e profundamente. E em outro sentido, não, também profundamente.
Se se trata de conservar, do presente, algo que é bom e merece viver, a Contra-Revolução é conservadora.
Mas se se trata de perpetuar a situação híbrida em que nos encontramos, de sustar o processo revolucionário nesta etapa, mantendo-nos imóveis como uma estátua de sal, à margem do caminho da História e do Tempo, abraçados ao que há de bom e de mau em nosso século, procurando assim uma coexistência perpétua e harmônica do bem e do mal, a Contra-Revolução não é nem pode ser conservadora.
3. A CONTRA-REVOLUÇÃO É CONDIÇÃO ESSENCIAL DO VERDADEIRO PROGRESSO
A Contra-Revolução é progressista? Sim, se o progresso for autêntico. E não, se for a marcha para a realização da utopia revolucionaria.
Em seu aspecto material, consiste o verdadeiro progresso no reto aproveitamento das forças da natureza, segundo a Lei de Deus e a serviço do homem. Por isso, a Contra-Revolução não pactua com o tecnicismo hipertrofiado de hoje, com a adoração das novidades, das velocidades e das máquinas, nem com a deplorável tendência a organizar more mechanico a sociedade humana. Estes são excessos que Pio XII condenou com profundidade e precisão[2].
[1] Cfr. Radiomensagem de Natal de 1957 – Discorsi e Radiomessaggi, vol. XIX, p. 670.
E nem é o progresso material de um povo o elemento capital do progresso cristãmente entendido. Consiste este, sobretudo, no pleno desenvolvimento de todas as suas potências de alma, e na ascensão dos homens rumo à perfeição moral. Uma concepção contra-revolucionária do progresso importa, pois, na prevalência dos aspectos espirituais deste sobre os aspectos materiais. Em conseqüência, é próprio à Contra-Revolução promover, entre os indivíduos e as multidões, um apreço muito maior por tudo quanto diz respeito à Religião verdadeira, à verdadeira filosofia, à verdadeira arte e à verdadeira literatura, do que pelo que se relaciona com o bem do corpo e o aproveitamento da matéria.
Por fim, para demarcar a diferença entre os conceitos revolucionário e contra-revolucionário de progresso, importa notar que o último toma em consideração que este mundo será sempre um vale de lágrimas e uma passagem para o Céu, ao passo que para o primeiro o progresso deve fazer da terra um paraíso no qual o homem viva feliz, sem cogitar da eternidade.
Pela própria noção de reto progresso, vê-se que este tem por contrário o progresso da Revolução.
Assim, a Contra-Revolução é condição essencial para que seja preservado o desenvolvimento normal do verdadeiro progresso, e derrotada a utopia revolucionaria, que de progresso só tem aparências falaciosas.

Aguardem os próximos artigos!

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