segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte III

Dando continuidade ao Capítulo III da Parte I, neste artigo vou citar cada momento da História onde a crise começou a se manifestar de modo mais proeminente, começando pela Idade Média. 

Antes, gostaria de poder desmistificar um pouco este período que foi chamado de Idade das Trevas - o que não é verdade - e já tem sido refutado por grandes personalidades, como Jacques Heers, diretor do Departamento de Estudos Medievais da Universidade de Paris-Sorbonne IV,  em sua obra “Le Moyen Age, une Imposture - Vérités et Légendes” , Perrin, Paris, 1993, que disse tratar-se de "uma legenda urdida a partir do século XVIII e sabiamente orquestrada pelos revolucionários franceses de 1789, pelos bonzos da História e, sobretudo pelos mestres do ensino público” ; pelo Prof  Rodney Stark, “A Vitória da Razão”, Random House, New York, 2005, onde ele diz que "nos últimos anos estes pontos de vista ficaram tão completamente desacreditados que até alguns dicionários e enciclopédias começaram a se referir à noção de "Era das Trevas" como sendo um mito" e que "a Era das Trevas é um boato espalhado por intelectuais anti-religiosos, amarguradamente anti-católicos do século XVIII que estavam decididos a afirmar a superioridade cultural do seu próprio tempo, e que engrossavam sua pretensão denegrindo os séculos passados como — nas palavras de Voltaire — uma época em que a "barbárie, a superstição e a ignorância cobriram a face do mundo.", entre outros.
 
Claramente se vê a desonestidade daqueles revoltosos, pois na realidade foi exatamente neste período em que houve o apogeu da Cristandade, sob o influxo de todas as energias naturais e sobrenaturais entesouradas nas nações cristãs.

Em seu livro “A Cruzada do século XX”, Plínio Correa de Oliveira nos conta que foi na Idade Média que houve "o conhecimento profundo da ordem natural das coisas;[...]"; que foi neste período que "Nasceram os reinos, e as estirpes fidalgas, os costumes corteses, e as leis justas, as corporações e a cavalaria, a escolástica e as universidades, o estilo gótico e o canto dos menestréis, por exemplo."; que os homens desta época lutavam pela realização do ideal da Civilização Cristã e "daí uma consonância profunda de todas as instituições, de todos os costumes, de todas as tradições nascidas nessa época."

Além disso, sabe-se também que na Idade Média, o povo legislava mediante leis consuetudinárias, isto é, leis codificadas dos costumes que todas as categorias sociais elaboravam. Nem o rei, nem o nobre, nem os eclesiásticos podiam ir contra o costume, desde que não violasse a Lei de Deus e os demais costumes já existentes. A família era uma instituição sólida, organizada e tinha uma grande influência no meio: era ela que dominava a vida pública e não o inverso, como hoje. E, ao contrário do que se diz, a mulher da Idade Média era valorizada e respeitada. Frequentava universidades, desempenhavam notável papel na Igreja medieval. Muitas mártires cristãs, como Santa Agnes e Santa Cecília, surgiram na Idade Média. "Verdade é que a jovem era dada em casamento pelos pais sem que tivesse livre escolha do seu futuro consorte. Todavia, observe-se que também o rapaz era assim tratado; por conseguinte, homens e mulheres eram sujeitos ao mesmo regime.", conforme relata Régine Pernoud, em “Idade Média ‒ o que não nos ensinaram”.

Todos estes dados poderão ser conferidos no blog:  http://gloriadaidademedia.blogspot.com/

Desfeitos estes mitos, voltemos ao livro "Revolução e Contra-Revolução" de que estou tratando.


Parte I

Capítulo III
Caracteres dessa Crise
 A. Decadência da Idade Média
Já esboçamos na Introdução os grandes traços deste processo. É oportuno acrescentar aqui alguns pormenores.
No século XIV começa a observar-se, na Europa cristã, uma transformação de mentalidade que ao longo do século XV cresce cada vez mais em nitidez. O apetite dos prazeres terrenos se vai transformando em ânsia. As diversões se vão tornando mais freqüentes e mais suntuosas. Os homens se preocupam sempre mais com elas. Nos trajes, nas maneiras, na linguagem, na literatura e na arte o anelo crescente por uma vida cheia de deleites da fantasia e dos sentidos vai produzindo progressivas manifestações de sensualidade e moleza. Há um paulatino deperecimento da seriedade e da austeridade dos antigos tempos. Tudo tende ao risonho, ao gracioso, ao festivo. Os corações se desprendem gradualmente do amor ao sacrifício, da verdadeira devoção à Cruz, e das aspirações de santidade e vida eterna. A Cavalaria, outrora uma das mais altas expressões da austeridade cristã se torna amorosa e sentimental, a literatura de amor invade todos os países, os excessos do luxo e a conseqüente avidez de lucros se estendem por todas as classes sociais.
Tal clima moral, penetrando nas esferas intelectuais, produziu claras manifestações de orgulho, como o gosto pelas disputas aparatosas e vazias, pelas argúcias inconsistentes, pelas exibições fátuas de erudição, e lisonjeou velhas tendências filosóficas, das quais triunfara a Escolástica, e que já agora, relaxado o antigo zelo pela integridade da Fé, renasciam em aspectos novos. O absolutismo dos legistas, que se engalanavam com um conhecimento vaidoso do Direito Romano, encontrou em Príncipes ambiciosos um eco favorável. E “pari passu” foi-se extinguindo nos grandes e nos pequenos a fibra de outrora para conter o poder real nos legítimos limites vigentes nos dias de São Luís de França e São Fernando de Castela.

No próximo artigo, será abordado o tema "Contra-Reforma e Renascença". Até lá!

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