sábado, 28 de janeiro de 2012

Para quem não leu "Revolução e Contra-Revolução" - Parte VII

Antes de dar continuidade, gostaria de dizer aos leitores que estão acompanhando a leitura do livro neste blog que, na época de seu lançamento, "Revolução e Contra-Revolução" teve uma grande repercussão nos meios intelectuais brasileiros e de outros países como, EUA, França, Espanha, Argentina e Chile. Porém, justamente aqui no Brasil, onde o livro foi publicado pela primeira vez, ele passa por um grave processo de esquecimento, tanto nos meios eclesiásticos como também intelectuais.

Não é para menos. Simplesmente não se lê - o ler não é muito bem aceito aqui neste país-; muito menos divulgado. E, por se tratar de uma leitura de análise crítica filosofo-histórica, não é de interesse da mídia, comandada pela batuta revolucionária, que seja divulgado. Não obstante, se chegam a lê-lo, o fazem superficialmente, dando margem a uma leitura impregnada de interpretações equivocadas.

Quero, portanto, nesta parte do livro que fala de ditadura, desfazer qualquer equívoco interpretativo que possa haver - principalmente pela leitura liberal-esquerdista que domina o cenário acadêmico brasileiro - esclarecendo que:  Dr. Plínio jamais em momento algum apoiou ditaduras militares ou totalitárias na América Latina ou em qualquer parte do mundo. Ao contrário, sempre defendeu a ordem. E por "ordem” ele entendia “não apenas a tranquilidade material, mas a disposição das coisas segundo seu fim e de acordo com a respectiva escala de valores."  Além disso, como veremos mais adiante, na Parte II do livro, a Contra-Revolução proposta pelo autor, visa o retorno sadio e saudável da civilização cristã - uma civilização anti-militarista, anti-totalitária que fará uso equilibrado do progresso material, mas que acima de tudo viverá iluminada providência, pela misericórdia de Deus e pelo seu corpo místico, que é a Igreja.

Peço, então, que leiam cuidadosamente o texto a seguir, onde o autor nos mostra que a principal característica de uma ditadura não é a concentração do poder em uma só pessoa, mas a onipotência do Estado. Assim concluimos o Capítulo III da Parte I de "Revolução e Contra-Revolução".




F. Revolução, Contra-Revolução e ditadura
As presentes considerações sobre a posição da Revolução e do pensamento católico em face das formas de governo suscitarão em vários leitores uma interrogação: a ditadura é um fator de Revolução, ou de Contra-Revolução?
Para responder com clareza a uma pergunta a que têm sido dadas tantas soluções confusas e até tendenciosas, é necessário estabelecer uma distinção entre certos elementos que se emaranham desordenadamente na idéia de ditadura, como a opinião pública a conceitua. Confundindo a ditadura em tese com o que ela tem sido in concreto em nosso século, o público entende por ditadura um estado de coisas em que um chefe dotado de poderes irrestritos governa um país. Para o bem deste, dizem uns. Para o mal, dizem outros. Mas em um e outro caso, tal estado de coisas é sempre uma ditadura.
Ora, este conceito envolve dois elementos distintos:
- onipotência do Estado;

- concentração do poder estatal em uma só pessoa.

No espírito público, parece que o segundo elemento chama mais a atenção. Entretanto, o elemento básico é o primeiro, pelo menos se entendermos por ditadura um estado de coisas em que o Poder público, suspensa qualquer ordem jurídica, dispõe a seu talante de todos os direitos. Que uma ditadura possa ser exercida por um Rei (a ditadura real, isto é, a suspensão de toda a ordem jurídica e o exercício irrestrito do poder público pelo Rei, não se confunde com o Ancien Régime, em que estas garantias existiam em considerável medida, e muito menos com a monarquia orgânica medieval) ou um chefe popular, uma aristocracia hereditária ou um clã de banqueiros, ou até pela massa, é inteiramente evidente.

Em si, uma ditadura exercida por um chefe ou um grupo de pessoas não é revolucionária nem contra-revolucionária. Ela será uma ou outra coisa em função das circunstância de que se originou, e da obra que realizar. E isto, quer esteja em mãos de um homem, quer de um grupo.

Há circunstâncias que exigem, para a salus populi, uma suspensão provisória de todos os direitos individuais, e o exercício mais amplo do poder público. A ditadura pode, portanto, ser legítima em certos casos.

Uma ditadura contra-revolucionária e, pois, inteiramente norteada pelo desejo de Ordem, deve apresentar três requisitos essenciais:

* Deve suspender os direitos, não para subverter a Ordem, mas para a proteger. E por Ordem não entendemos apenas a tranqüilidade material, mas a disposição das coisas segundo seu fim, e de acordo com a respectiva escala de valores. Há, pois, uma suspensão de direitos mais aparente do que real, o sacrifício das garantias jurídicas de que os maus elementos abusavam em detrimento da própria ordem e do bem comum, sacrifício este todo voltado para a proteção dos verdadeiros direitos dos bons.

* Por definição, esta suspensão deve ser provisória, e deve preparar as circunstâncias para que o mais cedo possível se volte à ordem e à normalidade. A ditadura, na medida em que é boa, vai fazendo cessar sua própria razão de ser. A intervenção do Poder público nos vários setores da vida nacional deve fazer-se de maneira que, o mais breve possível, cada setor possa viver com a necessária autonomia. Assim, cada família deve poder fazer tudo aquilo de que por sua natureza é capaz, sendo apoiada apenas subsidiariamente por grupos sociais superiores naquilo que ultrapasse o seu âmbito. Esses grupos, por sua vez, só devem receber o apoio do município no que excede à normal capacidade deles, e assim por diante nas relações entre o município e a região, ou entre esta e o país.

* O fim precípuo da ditadura legítima hoje em dia deve ser a Contra-Revolução. O que, aliás, não implica em afirmar que a ditadura seja normalmente um meio necessário para a derrota da Revolução. Mas em certas circunstâncias pode ser.

Pelo contrário, a ditadura revolucionária visa eternizar-se, viola os direitos autênticos, e penetra em todas as esferas da sociedade para as aniquilar, desarticulando a vida de família, prejudicando as elites genuínas, subvertendo a hierarquia social, alimentando de utopias e de aspirações desordenadas a multidão, extinguindo a vida real dos grupos sociais e sujeitando tudo ao Estado: em uma palavra, favorecendo a obra da Revolução. Exemplo típico de tal ditadura foi o hitlerismo.

Por isto, a ditadura revolucionária é fundamentalmente anticatólica. Com efeito, em um ambiente verdadeiramente católico, não pode haver clima para uma tal situação.

O que não quer dizer que a ditadura revolucionária, neste ou naquele país, não tenha procurado favorecer a Igreja. Mas trata-se de atitude meramente política, que se transforma em perseguição franca ou velada, logo que a autoridade eclesiástica comece a deter o passo à Revolução.




Aqui concluo o Capítulo III. Até o próximo artigo, onde serão abordadas as metamorfoses do processo revolucionário!

Um comentário:

  1. Meu cumprimentos pela iniciativa em republicar essa magnifica obra de Plinio Corrêa de Oliveira.

    ResponderExcluir